Feiras agroecológicas
Dias desses ocupei este espaço para falar da feira agroecológica da praça Cristiano Cartaxo, em Cajazeiras, onde vendem produtos orgânicos trazidos de pequenos cultivos de verduras, legumes, frutas, criação de aves, animais pequenos e itens ligados à culinária sertaneja. Naquele texto procurei associar ao tipo de produção e de produtores atuais com a natureza da posse e o domínio da terra no passado. Fui despertado pela surpresa de me defrontar na feira com produtores-feirantes de sítios que, outrora, pertenceram a protagonistas da vida política de Cajazeiras, como o major Higino Rolim e o coronel Justino Bezerra, aliás, adversários nas refregas eleitorais do tempo da República Velha.
Alguns leitores entenderam que eu apresentara a feira agroecológica de Cajazeiras como fato extraordinário no cenário do Nordeste. Não quis passar essa mensagem. Até me referi à feira da praça da Casa Forte, aqui no Recife. Volto ao tema, agora, com o propósito de realçar a significação dessas atividades para a sustentabilidade da produção agropecuária. Isso mesmo, sustentabilidade no sentido do respeito à natureza, na rejeição ao uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos no processo produtivo de alimentos e outros bens da agricultura e pecuária.
Tais práticas avançam cada vez mais no mundo inteiro, estimuladas pelo aumento da consciência cidadã da importância de seu uso para a saúde de gente e animais. E da própria natureza. E mais, por ser necessário estabelecer barreiras ao avassalador domínio da grande produção às custas dos bens da vida. As feiras agroecológicas brotam em todas as partes do planeta. Fenômeno recente que cresce de forma lenta, mas firme. Ainda é pouco expressivo. Estima-se em apenas 2% a ocupação das terras dedicadas à produção orgânica no mundo.
No Brasil, as feiras agroecológicas surgiram no fim do século passado, sendo a primeira experiência uma feirinha no Recife, em 1997. Essas feiras representam um complemento necessário à comercialização dos artigos engendrados, sobretudo, nas terras disponibilizadas pelos programas de estímulo à reforma agrária. Daí porque se enfatiza a presença de produtores assentados em terras desapropriadas pelo governo. É certo que os produtos orgânicos derivam também de outros sítios de pequenos proprietários e mesmo de empresas de grande porte. Estes, porém, têm mecanismos tradicionais de chegar ao mercado. Não carecem dessas feiras.
Questões dessa natureza e muitas outras são tratadas no livro Feiras agroecológicas: institucionalização, organização e importância para a composição da renda do agricultor familiar. Estudo sério realizado de responsabilidade de Tarcísio Patrício, Roberto Alves e Júnior Macambira. Ampla investigação técnica foi realizada em 2015 nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, envolvendo pesquisas diretas nas feiras e na base produtora para conhecer melhor seus problemas e potencialidades.
O livro fornece um panorama amplo do tema, com destaque para os aspectos conceituais, a legislação brasileira referente à produção e comercialização de orgânicos, à criação das feiras agroecológicas, além de indicar para cada um dos estados analisados a origem da produção, o perfil do produtor-feirante, as unidades de produção familiar, a composição da renda dos produtores-feirantes.
O livro deve ser procurado nas agências do Banco do Nordeste, instituição que deu apoio financeiro à realização do estudo.
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