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Edivan Rodrigues

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Fidel e Chávez

28/02/2009 às 11h32

Muitos associam Hugo Chávez a Fidel Castro. Um mentor do outro, dizem, o aplaudido guerrilheiro do passado, hoje estigmatizado, a servir de modelo para balizar a conduta do presidente da República Bolivariana da Venezuela. Ao pintar Fidel como demônio, fica mais fácil atribuir a Chávez a pecha de golpista, corrupto, tirano, ditador, caudilho. Permanente ameaça às liberdades democráticas, ao sagrado direito de propriedade, enfim, um diabo de boina vermelha… Pronto, não é preciso racionar sobre a realidade venezuelana, basta seguir a rota dos preconceitos ampliados na desinformação da mídia.

A trajetória dos dois (Fidel e Chávez) é muito diferente, a começar pelo modo de chegar ao poder. O guerrilheiro Fidel, pelas armas, o coronel Chávez, pelo voto direto e secreto. Isso 40 anos depois, quando o mundo era outro, a Guerra Fria já sendo peça da história. É verdade que Chávez tentara chegar ao governo por meio de um golpe de estado, em 1992. Não deu certo. Foi preso junto com seus colegas de farda e meia dúzia de civis. O então desconhecido coronel Hugo Chávez foi criticado, mais fora do que na Venezuela. Naquela ocasião Fidel Castro, que mal sabia da existência dele, o espinafrou, nivelando-o aos golpistas de sempre, habituados a derrubar governos em nome da democracia…

A prisão serviu a Hugo de escola. Ali recebeu luzes de mestres da Universidade e de ex-guerrilheiros, como o lendário Douglas Bravo. E mais, o frustrado golpe o tornou famoso, sobretudo, porque ao falar ao vivo na televisão, durante minguados 70 segundos, ele disse que “por enquanto, os objetivos que nos impusemos não foram atingidos”. O povo identificou-se com ele porque o desmando na Venezuela era enorme, a população pobre cada vez mais numerosa, desiludida com o revezamento dos dois maiores partidos políticos no poder. O cárcere fez Chávez mudar de tática. Em 1998 venceu a eleição presidencial, o eleitor recordando seu rosto tenso a repetir o “por enquanto” de quatro anos atrás. No governo fez um salseiro enorme, sob ferrenha oposição, semelhante a que Jango enfrentou aqui, até nos métodos. Em 2002 os “democratas” de lá tentaram derrubá-lo por meio de golpe civil-militar. Acuado no Palácio, em total desespero, Chávez buscava apoio interno e externo. Foi quando recebeu, por astúcia de sua filha mais velha, uma ligação de Fidel:
“Não se mate, Hugo! Não faça como Allende (…) ele não tinha um único soldado a seu lado. Você tem grande parte das forças armadas. Não desista, não renuncie.”

O conselho de Fidel foi essencial naquele momento de angústia, preso, ameaçado de morte pelos golpistas. Como escapou? Graças à resistência de militares leais e da mobilização popular. O providencial telefonema de Fidel cimentou a amizade entre os dois. É erro crasso dizer que um é a cópia do outro. A trajetória do venezuelano é analisada em 516 páginas do livro “Hugo Chávez – Da origem simples ao ideário da revolução permanente” (Novo Conceito, 2008), do jornalista americano Bart Jones, ex-correspondente da Associated Press na Venezuela. A leitura serve para diminuir nossa ignorância sobre a história recente da América Latina e entender a mania de Hugo por eleições…


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

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