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Gildemar Pontes

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Futebol, VAR e identidade

05/11/2019 às 08h05

Coluna de Gildemar Pontes

A imposição de um comportamento ou uma identidade ao povo faz parte de uma construção cultural geralmente proposta para definir um lugar, um espaço ou uma ideologia. E é sempre aceita mesmo que haja discordâncias, resistências ou acatamento. O fato é que uma identidade se constrói pelo povo, apesar dos seus governantes.

Em se tratando de futebol, esporte bretão que nasceu na Inglaterra e ganhou o mundo, sendo no Brasil, pela extensão territorial e pela criação de ligas de futebol em todos os estados, foi um dos lugares em que melhor se desenvolveu. Para alguns, o Brasil é uma pátria de chuteiras outros chamam o país do futebol. Importante é perceber como este esporte se adaptou e transformou o hábito de milhões de brasileiros que lotam estádios praticamente duas vezes por semana.

Esses dados não indeferem na constatação de que os brasileiros gostam de futebol. Talvez, se pensarmos em termos estatísticos, o futebol seja o esporte que mais gera economia. Portanto, a economia que patrocina o esporte também determina os gostos dos usuários. Não há qualquer novidade nisto. Mas uma questão que me chama atenção é a disparidade entre clubes do sudeste e sul para times de outras regiões do país.

Clubes do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais vivem outra realidade econômica, em patamar financeiro muito superior aos times do nordeste, por exemplo. Em competições como o campeonato brasileiro da série A, vimos quanto há distâncias entre a captação de recursos de clubes do eixo sudeste-sul e clubes do nordeste. Patrocínios, cotas de TVs, cotas de participação são formas de discriminar os times do nordeste. Atualmente, com o uso do sistema de vídeo arbitragem – VAR para corrigir distorção causadas pela arbitragem, nunca se viu tanto erro contra os times do nordeste. Fortaleza, Ceará, Bahia e CSA têm reclamado de forma veemente contra os erros não revisados pelo VAR ou erros que o VAR manteve quando o beneficiário eram os times do eixo SS.

Se um instrumento de aferição altamente preciso foi criado para auxiliar as decisões da arbitragem nas dúvidas de lances cruciais, o erro, se ainda persiste, deixa de ser da máquina e passa a ser do humano. E aí entram os fatores que determinam o peso dos clubes considerados grandes. Com risco de rebaixamento para a série B de clubes tradicionais como Fluminense e Botafogo, do Rio, e de Cruzeiro e Atlético, de Minas, percebemos uma espécie de patriotada cafajeste por parte dos que analisam as imagens do VAR.

Chamo atenção aqui para o Fortaleza Esporte Clube, que leva em média 30 mil pessoas aos estádios por jogo, sendo a quinta maior média de público do Brasil. Pois bem, o Leão do Pici (bairro onde tem sua sede), como assim é denominado, teve pelo menos seis erros grosseiros que poderiam se reverter em pontos que lhe dariam a vitória ou o empate, em casos onde o prejuízo redundou em derrota ou empate.

Mas o que o VAR ou o favorecimento aos clubes do Sul-sudeste tem a ver com a identidade do povo? Esse é um assunto complexo e que determinará um debate bem mais aprofundado. Em linhas gerais, os estados que não têm clubes na primeira divisão nacional, são os que têm mais torcedores de times do Sudeste-Sul. E por que os torcedores dessas suas regiões não torcem por times do nordeste? Que fascinação é esta que transforma paraibanos, cearenses, pernambucanos etc., em torcedores do Flamengo, Vasco, Palmeiras, Corinthians? Quem já morou fora do nordeste ou conhece o imaginário do sudestino ou do sulista sobre o nordestino e sua cultura, jamais imaginaria que muitos deles, nos consideram cidadãos de segunda classe. Quando o assunto é futebol, jamais torceriam por um time do nordeste. Quando seus times se confrontam com times do nordeste, para eles, é como se fosse apenas para cumprir tabela, porque os pontos já estariam ganhos. E isso alimenta tanto a visão deles sobre nós como a de alguns de nós sobre eles.

Uma vez me perguntaram no Rio de Janeiro por qual time eu torcia. Eu disse Fortaleza. E o amigo retrucou: estou falando aqui no Rio. E eu repeti: Fortaleza. Torço Fortaleza e somente Fortaleza em qualquer lugar. Não me agrada vestir camisa de outro clube. Gastar dinheiro com quem nos ignora não me interessa. Em qualquer circunstância serei nordestino. Esse é o meu lugar. Quem quiser torcer por times de fora fique a vontade. Tenho em mim um grande orgulho de ser nordestino. E fazer crescer minha nordestinidade é uma questão de valorizar a nossa cultura os nossos valores.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Gildemar Pontes

Gildemar Pontes

Escritor e Poeta. Ensaísta e Professor de Literatura da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, em Cajazeiras. Graduado em Letras pela UFC, Mestre em Letras UERN. Doutorando em Letras UERN. Editor da Revista Acauã e do Selo Acauã. Tem 22 livros publicados e oito cordéis.

É traduzido para o espanhol e publicado em Cuba nas Revistas Bohemia e Antenas. Vencedor de Prêmios Literários locais e nacionais. Foi indicado para o Prêmio Portugal Telecom, 2005, o principal prêmio literário em Língua Portuguesa no mundo. Ministra Cursos, Palestras, Oficinas, Comunicações em Eventos nacionais e internacionais. Faixa Preta de Karate Shotokan 3º Dan.

Contato: [email protected]

Gildemar Pontes

Gildemar Pontes

Escritor e Poeta. Ensaísta e Professor de Literatura da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, em Cajazeiras. Graduado em Letras pela UFC, Mestre em Letras UERN. Doutorando em Letras UERN. Editor da Revista Acauã e do Selo Acauã. Tem 22 livros publicados e oito cordéis.

É traduzido para o espanhol e publicado em Cuba nas Revistas Bohemia e Antenas. Vencedor de Prêmios Literários locais e nacionais. Foi indicado para o Prêmio Portugal Telecom, 2005, o principal prêmio literário em Língua Portuguesa no mundo. Ministra Cursos, Palestras, Oficinas, Comunicações em Eventos nacionais e internacionais. Faixa Preta de Karate Shotokan 3º Dan.

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