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Padre Djacy

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Jovens sertanejos com baixa autoestima

07/07/2014 às 17h13

Com este tema supracitado, sempre na crista da onda, desejo expor o que tenho ouvido de muitos jovens na minha trajetória de orientador religioso sobre suas angústias e sofrimentos no âmbito desse universo psíquico- comportamental, com isso, abrir caminhos para o debate   envolvendo psicólogos, educadores, pais, profissionais da saúde e líderes religiosos, visando, claro, buscar alternativas de apoio e ajuda para nossos queridos sertanejos, que tanto necessitam do oxigênio da autoestima para serem felizes.

Vejam o que tenho ouvido de muitos jovens sobre sua vida no dia a dia de sua caminhada. São expressões  tristes, desalentadoras, comoventes, capazes de fazer qualquer um chorar. É o  cenário sombrio da baixa-autoestima presente na vida dos filhos do meu sertão paraibano, que poderiam ser tão felizes na vida.

Aqui e acolá, podemos constatar palavras ou expressões cômicas, capazes de provocar risos, gargalhadas, mas deixo o alerta: por trás desse gracejo há toda uma realidade de desespero, angústia, dor, sofrimento, que requer¬¬¬¬¬¬ do(a) leitor(a) uma boa dosagem de solidariedade, compaixão e socorro:

-Padre, minha mãe nunca gostou de mim. Ela disse ao meu pai que não me queria. Eu ainda estava na barriga dela. É por isso que levo uma vida de decepção, de tristeza, de auto rejeição. Me sinto um nada na vida.

-Sou mãe, meu filho nasceu, mas digo uma coisa: eu não amava meu filho quando ainda estava na minha barriga. Eu tinha raiva, nojo. Desejava que morresse. Hoje vejo meu filho revoltado, triste, abatido, sem vontade de viver, doente. Será que foi castigo de Deus?

-Eu sou uma jovem bonita por fora, mas feia por dentro. Eu me sinto horrível por dentro. Penso que não sou ninguém.

-Não me aceito, não gosto do jeito que vim ao mundo, me sinto horrorosa. Penso que não devia viver.

-Não gosto do meu corpo. Meu corpo é horrível. Tenho cabelo horrível. Meu nariz é um espetáculo e minhas pernas umas verdadeiras varas de bambu.

-Todo dia eu olho no espelho a minha bunda e penso: por que Deus não me deu uma bunda como a bunda da mulher da televisão, da revista, do cinema? Meu Deus, nunca vou ser feliz com essa bunda desgraçada. Já estou esgotada de tanto chorar de desgosto.
-Meus seios, coitados, são uns pobres, sem vida, sem graça. Não aceito isso.

-Não sou feliz porque tenho um corpo desengonçado, feio. Perna de cambito, nariz de papagaio, barriga de tonel, olhos de corujas e bunda  bola murcha.

-Ave Maria, sou gorda demais. Tenho raiva de mim. Nunca vou ser feliz com este meu corpo. Ave Maria!
-Sou tão magra, mais tão magra, que sou transparente. Tenho vergonha do meu corpo. Não queria ser assim. Me sinto triste demais.

-Ainda vou fazer algumas plásticas. Ainda vou me libertar dessa tristeza. Ainda vou ser feliz quando meu corpo for outro.

-Padre Djacy, eu sou um burro, nada aprendo na sala de aula. O professor explica, explica, nada entra na minha cabeça, sou burro mesmo.

-Não tenho inteligência, nada aprendo, não serei nada na vida, porque sou cabeça de ferro, nada entra.

-Quando vou apresentar um trabalho em sala de aula fico logo com medo, porque sei que não irei falar bem, não terei capacidade para fazer a apresentação. Só fico pensando nos risos dos colegas. Me dá um branco tremendo.

-Não irei vencer na vida. Não acredito em nada na vida. Para  mim, tudo vai de mal a pior.
-Todos passam em concurso público, menos eu. Tudo porque não tenho capacidade para passar em qualquer concurso. Por isso nunca irei passar. Tenho pouca inteligência, afinal.

-Tenho complexo de inferioridade. Diante das pessoas me sinto um nada, um ser inferior. Tenho vergonha de mim. Coitado de mim, sou um zé ninguém da vida.
-Não tenho capacidade para passar no vestibular e fazer um curso superior. Jamais farei uma faculdade, pois sou um pobre coitado.

-Sou nada na vida. Pra que Deus me botou no mundo.

-Nunca me realizarei na vida, porque nasci para sofrer, para viver no sofrimento. Deus me destinou para isso: ser infeliz na vida.

-Nasci assim e vou morrer assim. Não tenho sorte pra nada. Nada de bom acontece comigo, seu Padre.

-Não creio em mim, não acredito em mim. Sou um eterno desacreditado de  mim. Coitado de mim, pobre de mim.

-Não tenho inteligência como tantos jovens. Sou um pobre de Cristo.

-Tenho vontade de desaparecer, de sumir do mapa da vida. Pra que viver, se minha vida não tem graça, sentido? Melhor morrer do que viver assim.

-Padre, me dê uma luz, me mostre um caminho para eu sair desse pessimismo, dessa falta de confiança em mim. Me ajude, pelo o amor de Deus. Não quero continuar assim, sem acreditar em mim, no meu eu.

-Minha mãe diz sempre assim: você não aprende nada porque tem cérebro de burro. Ah, seu padre, eu fico tão triste com isso. Já me acostumei com isso, com minha burrice. Estou convicto de que sou mesmo um burro.

-Nunca vou arrumar um namorado com este meu corpo desgraçado. Vou ficar titia mesmo. Fazer o que né?

-Padre, sabe por que bebo? Porque não gosto de mim, não acredito em mim, e sei que jamais vou ser alguém na vida.

-Nunca irei ser feliz no casamento, porque não tenho capacidade para assumir um lar, para lidar com o marido e os filhos.

-Não vou festa nenhuma, a nada, porque não tenho vontade. Me sinto feia, sem atração, sem brilho. Ninguém vai olhar pra mim. Tenho é raiva de mim.

-Padre, meu pai vivia dizendo assim para mim, quando ainda era criança: este meu filho é uma praga, uma desgraça. Hoje sou muito triste, não tenho vontade de viver. Nada para mim é bom, só penso  em coisas ruins na vida. Choro muito.

-Não tenho vontade de ir à festa, de sair de casa, de ir pra lugar nenhum. Não me arrumo, não me pinto e mais nada. Botei na cabeça que não sou feliz.

-Quando vou a uma festa, fico o tempo todo parada num canto. Não arrumo nem sequer namorado. Também tem razão, eu sou uma coitada da vida, sem beleza, sem charme, sem atração. Eita vida sem prazer esta minha.

-Não tenho ânimo pra viver. Só tenho vontade de chorar. Afinal, nasci para ser triste, para viver uma vida sem luz, apagada.

-Meu destino mesmo é o sofrimento. Deus me fez assim. Não tenho esperança na vida. Nunca irei vencer na vida, serei  uma eterna derrotada.

-Por que nasci? Por que Deus permitiu que eu viesse ao mundo assim? Deus me colocou no mundo só para sofrer. Sou um grande sofredor, já me entreguei ao sentimento de derrota, de  fracasso.

-Vou morrer sem nada fazer de importante na minha vida. Nasci para ser um nada na vida. Quanta infelicidade minha!

-Não tenho muita vontade de viver. Pra que viver uma vida assim, sem nada, sem ser ninguém?

-Já pensei em suicídio, porque me sinto um nada, um desprezado, um mal-amado. Para que viver, se minha vida é sem graça?

-Padre, não gosto de me arrumar. Pra quê? Pra que me arrumar, se nada combina comigo?

-Nasci pobre, vou morrer pobre, porque nasci sem inteligência para vencer os desafios da vida. Pobre de mim.

-Passei o dia todo chorando, porque vivo desenganado da vida. Sou uma vela apagada.
-Nunca irei arrumar emprego, porque não tenho sorte na vida.

-Vivo angustiado, deprimido. Isso começou quando me entreguei  a desilusão da vida. Botei na cabeça que jamais iria ser feliz, vencer na vida. Me entreguei ao comodismo, hoje vivo chorando.

-Eu disse  a um certo líder religioso  que  não tinha vontade de viver, porque me sentia uma pessoa fracassada, ele me disse que eu devia lutar para expulsar o demônio. Ora, eu não tenho força nem para viver, quanto mais para lutar contra a força do demônio.

Queridos jovens, jovens do meu sertão paraibano, amem  sua vida, acreditem que são capazes, que têm potencialidade para superar e vencer  os desafios inerentes à vida. Para isso, sejam persistentes, determinados e corajosos. Tenham utopias, projetos de vida. Jamais se entreguem ao pessimismo, ao negativismo, ao derrotismo, ao complexo de inferioridade. Afinal, Deus os criou para viverem bem, realizados, felizes.

Caros jovens, busquem apoio da família, dos educadores, dos bons amigos. Abram-se para o diálogo franco, aberto. Não tenham  medo dessa abertura, que pode ser uma grande saída de solução para esse grande mal psicológico.

Para nós religiosos, especificamente falando, não coloquemos  minhocas na cabeça dessas pessoas com expressões negativistas, moralistas, julgadoras e condenatórias. Quem nos procura quer ajudar, e não julgamento e condenação. A título de exemplo, vejam algumas expressões grosseiras, descabidas de sentido:

-isso é coisa do demônio, você está condenado, vai para o inferno,
-isso é falta de Deus, você está carregado de pecado, sua vida é assim porque não acredita em Deus, vá rezar e basta.

-Você se sente um nada, uma pobre pessoa, porque não reza, não lê a Bíblia, não se confessa.

-Essa sua vontade de não querer viver, de se realizar na vida, é porque  você está no pecado, distante de Deus.

-Se arrependa dos seus pecados para sair dessa situação de desilusão da vida.
-Se você está tão mal, faça sacrifício, penitência, assim sua vida vai melhorar.
-Você não gosta de você mesma porque deixou Deus de  lado.

Cuidado, porque em vezes de estarmos ajudando, estamos colocando, cada vez mais, essas pessoas no fundo  do poço  e, certamente, vamos responder diante de Deus. Por isso é imprescindível que entendamos que essa problemática de ordem psicológica tem sua causa, seu contexto. Não sejamos ingênuos, imaturos, irresponsáveis, com respostas simplistas, superficiais, como também, não julguemos nem condenemos. Até diria que uma boa dosagem de conhecimento de psicologia, sociologia (contexto sociocultural) e filosofia é fundamental para qualquer líder religioso.

“Alegra-te, jovem, na tua mocidade; não deixe que nada o preocupe ou faça sofrer, pois a mocidade dura pouco”(Eclesiastes,11:9-10).


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Padre Djacy

Padre Djacy

Pároco da paróquia Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, da cidade de Pedra Branca, no Vale do Piancó, Diocese de Cajazeiras, Paraíba.

Contato: [email protected]

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