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Francisco Cartaxo

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Luciano Huck presidente?

09/12/2017 às 13h54

Ele desistiu, mas a badalação me fez lembrar um episódio parecido, ocorrido em 1989, às vésperas da eleição presidencial.Certa manhã, perguntei à doméstica que morava em minha casa:
– Que tal Sílvio Santos para presidente?

– Acho uma boa, pelo menos ele dá alguma coisa aos pobres.

Sério? Ora se era. Tentei convencê-la de que meia dúzia de bugigangas distribuídas pelo baú da felicidade não era credencial para assumir as enormes responsabilidades de um presidente da República. Mostrei a diferença entre conduzir com sucesso um programa na televisão e tomar decisões fundamentais para a vida da população. Em vão. Meus argumentos morriam na lógica simplória do pelo menos ele dá alguma coisa… e os outros, dão o quê?

Era a primeira eleição direta para presidente da República, depois de quase 30 anos.A última ocorrera em 1960. Houve então uma enxurrada de candidatos à sucessão de José Sarney. Uns 20 pretendentes! Na época, três senadores nordestinos -farejando o insucesso eleitoral do desgastado PFL, sucessor da Arena, estigmatizado pela subserviência ao regime militar -, correram para Sílvio Santos, o competente camelô que se transformara no rico empresário da comunicação. Dono do SBT,o homem do Baú da Felicidade, sempre rindo, fazia a alegria de dúzia e meia de pessoas.

Pois bem, essa popularidade propiciava a Sílvio Santos ultrapassar, nas pesquisas eleitorais, figuras simbólicas na luta contra a ditadura, como Ulisses Guimarães, Brizola e Lula. E chegou a ameaçar Collor, que vendia a ilusão de resolver os problemas cruciais do Brasil alijando os marajás do serviço público!

Quem inventou o candidato Sílvio Santos?

Os três porquinhos:Edson Lobão, Marcondes Gadelha e Hugo Napoleão. Senadores do PFL. O paraibano, egresso do MDB autêntico, seria o vice-presidente na chapa de Sílvio Santos. Pongaram no Partido Municipalista Brasileiro (PMB), cujo candidato a presidente renunciou para dar lugar ao risadinha. Até aí tudo bem. Eis que o então obscuro advogado Eduardo Cunha, segundo Marcondes Gadelha, requer a impugnação da candidatura de Sílvio Santos.(Ele mesmo, o até ontem poderoso ex-presidente da câmara dos deputados, hoje preso em Curitiba pela Lava Jato).A serviço de Collor e do nanico PRN, conseguiu desmanchar a arapuca armada pelos três porquinhos. OTSE decidiu impugnar a candidatura, pois o PMB não cumprira a exigência legal de realizar convenções em, pelo menos,nove estados e, além disso, Sílvio Santos era inelegível por ser dono de concessionária de serviço público.

Acabou-se o sonho.

Por que recordo o episódio? Para mostrar que, antes como agora, os partidos políticos no Brasil continuam uma ficção. Quase emplacam Luciano Huck. Uma insanidade, ele mesmo disse ao cair na real, ajudado por Angélica, sua linda mulher. Linda e sensata, ao contribuir para o desmanche da aventura irresponsável tentada por Rodrigo Maia e Roberto Freire. O primeiro quis atrair Huck para o DEM, herdeiro do que sobrou da antiga Arena, PFL e PDS. Depois foi a vez do PPS. Para quem tem memória curta, PPS é um braço do antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB), que mudou de nome, transformou-se numa sigla social democrática e hoje é um apêndice do PSDB.

Isto é o retrato da falência dos partidos, da ausência de um projeto para o Brasil, do fracasso das elites políticas. Enquanto o povo não mudar isso, o Brasil correo risco de eleger um risadinha qualquer para o posto de maior responsabilidade da República.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

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Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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