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Maria do Carmo

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Mais que uma simples mulher

30/08/2022 às 19h28

Coluna de Maria do Carmo - foto de dona Cícera Leandro de Farias - arquivo pessoal

Por Maria do Carmo

É motivo de alegria afiar a linha do raciocínio e emocionante ao registrar o relato de uma importante mulher: exemplo de humildade e resiliência, uma deficiente visual saudável e satisfeita com seu gesto caritativo de amor ao próximo. Cícera Leandro de Farias nascida em 31 de Agosto de 1932, filha de João Francisco de Farias e Oreliana Maria da Conceição.

Dona Cícera é natural de Patos Espinharas, migrando-se da cidade de Sousa para o Sítio Bamburral no município de Cachoeira dos Índios aos 10 anos de idade. Outras localidades da zona rural de Cachoeira serviram de abrigo para a família de Cícera, entre elas o Sítio Coaçu e o Sítio Serrote do Quati onde residiu por mais de 12 anos. Atualmente mora na sua própria propriedade próxima a Cachoeira dos Índios: paraibana, sertaneja da gema.

A menina Cícera cresceu sem aprender a ler e escrever, uma vez que na época, as perspectivas para estudar eram muito difíceis para algumas famílias, no entanto ela muito destemida juntamente com seus pais, irmãos e irmãs enfrentavam a luta na lavoura em chãos cachoeirenses, no sistema de parcerias nos terrenos de proprietários ali residentes. Nesta época as jovens mulheres inclusive Cícera, tinha como principal objetivo casar-se constituir uma família e assim a mesma realizou uma única união conjugal com Lauredone Severino do Nascimento.

De uma frondosa árvore geneológica de 12 filhos, a mãe Cícera sofreu as dores do parto e a partida de 06 filhos para a eternidade: uns ainda recém nascidos e outros na idade adulta. A avó e bisavó Cícera, muito boa de memória, contabiliza mais de 50 netos e 15 bisnetos e neste ano de 2022, completa 90 anos de idade, uma trajetória de vida marcada pelas realizações e dificuldades, mas também com resistência aos desafios enfrentados nos percalços da vida.

Esta mulher alta de pele escura, cabelos longos e pretos, hoje se encontra num tom esbranquiçado pela tintura do tempo e das experiências de vida, é uma entusiasmada, frente às realidades, esperançosa e confiante na fé em Deus. Enquanto jovem dona de casa administrava as finanças do lar, ajudando o esposo no cultivo das grandes roças e a criação de animais e aves domésticas; o cantar do galo nas madrugadas, acordava todos para mais um dia que surgia; o mugir das vacas repercutiam os sons no Serrote do Quati sinalizando que ali, existia a residência de uma numerosa família trabalhadora.

Dona Cícera, uma católica que mantém a tradição religiosa realizando anualmente a “Renovação do Coração de Jesus”. Neste dia sua casa fica em festa, à noite vem muita gente rezar, cantar, louvor e aplaudir com os fervorosos “vivas ao Coração de Jesus”, assim como as novenas pelas das graças alcançadas nas promessas são celebradas com muito fervor. O nascimento dos filhos e o batizado dos mesmos eram motivo a ser festejado com uma boa recepção aos compadres e as comadres. Todos estes eventos realizados com muita dedicação, sem se falar boa culinária e a felicidade contagiante de Dona Cícera.

Hoje na terceira idade, Dona Cícera compartilha sua fé na missão de “rezadeira”; palavra da linguagem popular do nordeste atribuída à pessoa que reza nas outras que estão doentes. Assim diz a rezadeira Cícera: “rezo de mal olhado, carne triada, cobreiro, isipela, micose; rezo no rico e no pobre, faço a caridade com muita boa vontade, quem me paga é Deus e quando não há em quem rezar penso: as pessoas estão bem de saúde”. “Graças a Deus!” Sua residência é bastante visitada por muita gente: crianças, jovens e adultos vindos em busca da cura confiante na “reza” de dona Cícera, com o seu raminho verde faz orações libertando tanta gente da dor.

A anciã foi diagnosticada com glaucoma, na sua narração ela diz que “ver apenas um clarão”, no entanto é dotada de paciência, resignação e gratidão a Deus, superando sua deficiência e enxergando com os olhos da generosidade. Eis o mistério da felicidade! Por outro lado sua conversa é séria e realista, porém dependendo do assunto conclui com um largo sorriso. É a serenidade em pessoa. Dona Cícera recebe os parabéns de todos os filhos e filhas, familiares, amigos e amigas. Todos lhe desejando. Vida! Vida! Vida!

Professora Maria do Carmo de Santana
Cajazeiras, 29 de Agosto de 2022

Maria do Carmo

Maria do Carmo

Professora da Rede Estadual de Ensino em Cajazeiras. Licenciatura em Letras pela UFCG CAMPUS Cajazeiras e pós-graduação em psicopedagogia pela FIP.

Contato: [email protected]

Maria do Carmo

Maria do Carmo

Professora da Rede Estadual de Ensino em Cajazeiras. Licenciatura em Letras pela UFCG CAMPUS Cajazeiras e pós-graduação em psicopedagogia pela FIP.

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