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Cristina Moura

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Manda-Chuva e sua turma

16/10/2020 às 09h03

Coluna de Cristina Moura

Minha ligação com William Hanna e Joseph Barbera não é pouca. Sou fã da dupla norte-americana, desde que comecei a entender que estou no mundo. Não me canso de aplaudir o talento dos desenhistas, que certamente não criaram seus personagens somente para as crianças. Estou falando de uma trajetória que começou nos anos de 1940 e tomou conta do imaginário de muitos, não somente da minha geração.

Ao estudar alguns autores de produtos literários para a meninada, encontro recados para os adultos. Algumas mensagens subliminares, aos poucos, fizeram e ainda fazem total sentido. É por isso que a obra de Hanna e Barbera tende a ser lembrada durante muito tempo. Na verdade, atravessa o tempo, pois crescer é estar diante desse painel de possibilidades, e as escolhas fazem parte do jogo. Não, não é decepcionante: é o clareamento da interpretação.

Um exemplo do que estou falando é o inigualável Manda-Chuva, o original Top Cat. Que turma perfeita para discutir a realidade. Os gatos do beco são os malandros de sempre. O chefe deles é a representação de um cidadão que ainda percebemos nos dias atuais. É o mandante folgado, oportunista, que gosta de se dar bem em tudo. Para coroar suas vontades, conta com os parceiros, os aliados, os cúmplices. Agora, diga, caro leitor, se isso não é real. Não é difícil encontrarmos esses tipos num momento parecido com o que estamos vivendo, de campanha eleitoral. É lógico que, num desenho animado, é tudo alegria. Diversão garantida. As trilhas sonoras são um espetáculo, um rico elemento à parte. O acesso a uma cultura diferente também.

Ao analisarmos de forma mais fria e objetiva os personagens, vemos que são muito próximos, muito reais, muito presentes. Hanna e Barbera traduziram, em muitas de suas obras, a essência do ser humano e do que este é capaz de fazer ou pensar. As maracutaias de Manda-Chuva, que é auxiliado por Espeto, Bacana, Chuchu, Gênio e Batatinha, podem conter o exagero típico dos cartoons, mas são bastante conhecidas.

É a cara do gato gatuno fazer o possível para levar vantagem, junto com seus comparsas. O chefe, com certeza, leva ainda mais vantagem do que seus amigos, para que se estabeleça uma noção hierárquica mesmo. Quem manda é o mais astuto. Sem dúvida, o malandro é inteligente. O malandro sabe articular, elogiar, ordenar. Seus súditos, os discípulos devotos ou fidelíssimos seguidores, são hipnotizados todos os dias. Adoram obedecer. Com o rei gato em pleno exercício, os subordinados aprendem que o trabalho é algo cansativo e até desnecessário. O melhor, então, é fazer um plano para utilizar o que já está pronto. Vejamos se tudo isso não é bem familiar à nossa sociedade.

O Guarda Belo, que é a figura do oponente nas narrativas, é importante. Provoca nossa consciência sobre o que é certo e errado. Questiona, de forma direta ou indireta, se o que estamos vendo merece um final feliz para a malandragem. Em alguns casos, até Belo é envolvido pela teia antiética, ficando em dúvida se está punindo de forma correta. Não sei quando a crítica dos cartunistas perderá a validade. Não tenho ideia. Não sei. Nem vou arriscar. Quem souber, por favor, me avise. São tantas gangues, tantos becos e tantos gatos, que nem imagino.

Cristina Moura

Cristina Moura

Jornalista e Professora cajazeirense, radicada no estado do Espírito Santo.

Contato: [email protected]

Cristina Moura

Cristina Moura

Jornalista e Professora cajazeirense, radicada no estado do Espírito Santo.

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