Mas quem é este João?
Por Damião Fernandes
Lembramos de fogueiras, balões, quadrilhas, comidas típicas, danças de raízes, mas quem é este João que festejamos? não esquecemos de comprar ou confeccionar nossas roupas enxadrezadas ou outros adereços, para não corrermos o risco de estarmos fora da “moda junina’ e dos seus festejos. Mas quem é esse João, que festejamos?
Não esquecemos de ligar para nossos familiares ou parentes mas próximos, para que estejam todos reunidos nesta noite, celebrando muitas das vezes sabe lá o que – mas estamos reunidos -. E conversa vai, conversa vem; abre-se um cerveja, muito milho verde assando na fogueira ou cozido sobre a mesa, realizamos os tradicionais rituais dos padrinhos de fogueira, sorrimos e brincamos, contamos história e mitos. Todos os anos, esse homem é festejado em vários lugares do Mundo, como no Norte da Europa — Dinamarca, Estónia, Finlândia, Letônia, Lituânia, Noruega e Suécia — e também na Irlanda, em partes da Grã-Bretanha, França, Itália, Malta, Portugal, Espanha, Ucrânia, outras partes da Europa, e em outros países como Canadá, Estados Unidos, Porto Rico, Brasil e Austrália.
Mas quem é este João?!
João, um homem franzino que tinha morada no deserto, portanto, um homem que rompeu com o mundo para viver mais perfeitamente a sua opção por Deus. Um homem que numa atitude de liberdade compreendeu que em meio a uma cidade barulhenta, materialista e profana, era quase impossível encontrar a Deus. Acredito que temos aqui em João, o primeiro sinal do caminho do discipulado de Jesus: o total e radical rompimento com o mundo e seus prazeres.
João, um homem que por amor á sua missão: Ser a voz que clama no deserto: "Preparai o caminho do Senhor". (Isaías 40:3). Não mediu esforços, não impôs limites, e muito menos criou uma lista de condições para seguir o Senhor dos Exércitos. Num ato radical e extremo – e somente os que se sentem verdadeiramente livres assim fazem – se decide seguir a Javé. João, um homem que se alimentava de gafanhotos e mel silvestre, estava mais preocupado não em buscar seus prazeres gastronômicos, mas em preparar o caminho para aquele que era o “Pão que alimenta e que sacia toda fome”: Jesus.
João, um discípulo, que rapidamente esclarece a cerca de si mesmo: “Eu não sou o Cristo”. Talvez preocupado em que alguma mente muito devota o associasse a um Messias – o que era muito comum naquela época aparecer falsos profetas e pessoas que se diziam messias – João, o discípulo que não tem pretensões de ser aquilo ao qual ele não foi chamado a ser. Para João, está bem claro que ele seria “A voz” que clama no Deserto que prepararia o caminho para aquele que era “O Verbo – a Palavra”. João não era usurpador, ele foi aquele que “perdeu cabeça” – Literalmente – por causa de Jesus.
Para João, não bastava advertir a nação judaica para que fugissem da ira de Deus nem instruí-los com respeito ao procedimento esperado por Deus, mas era essencial que o rei que estava por vir fosse identificado e reconhecido pelo valor que havia em si mesmo. E aqui, João, aquele homem franzino, magro e envolvente, radical e resolvido, deixa transparecer uma das características que mais fortemente admiro em sua vida: Ele era um Homem Eucarístico.
E atitudes típicas de homens e mulheres eucarísticos é que não apontam para si mesmo ou para as imagens que fazem de si, pelo contrário, apontam para o Eucarístico e exclamam: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (João 1:29). Jesus era visto por João como aquele tipificado no cordeiro pascal, e como aquele cordeiro que "foi levado ao matadouro" pelo pecado do homem (Isaías 53).
João, verdadeiramente, não estava preocupado em agregar seguidores em torno de si. Ele não era dependente afetivo daqueles que o seguiam. Ele não determinava sua caminhada, suas decisões e os sonhos de Deus para a sua vida nas possíveis indecisões ou indisposições crônicas de seus irmãos de grupo ou de Comunidade. Para João, o importante e vital era apontar o Eucarístico, o Cordeiro de Deus.
João, nos deixa aqui evidente, que chegará um momento em que as nossas palavras, aquilo que somos ou fazemos não terá sentido, perderá a sua força de revelação divina se não retirarmos os olhos de nós mesmos e apontar-mos para aquele que é o Cordeiro de Deus.
Quem dera que todos conhecessem a este João que tanto festejam e celebram com suas fogueiras e outras coisas mais. Quem dera que soubessem que este João, não passou a vida inteira á cortar lenha pra acender fogueiras em noites estreladas e de lua cheia. Mas pelo contrario, viveu unicamente á preparar o Caminho do Senhor e a indicar quem era e onde estava o Cordeiro de Deus.
Para saber mais
CATALAMESSA, Raniero. Preparai os Caminhos do Senhor. Ed.Loyola,São Paulo.1997
Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.
Leia mais notícias no www.diariodosertao.com.br/colunistas, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.
Deixe seu comentário