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Damião Fernandes

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Mente vazia, oficina do Diabo

12/11/2010 às 09h50

Estudos cientificos acabam de comprovar mais um ditado popular: “mente vazia, oficina do diabo”. O pior é que constatamos que a maioria das pessoas vivem boa parte de suas vidas "ocupados" a trabalhar nela.

Pesquisadores da Universidade de Harvard publicaram nesta quinta-feira, dia 11 de novembro de 2010, un curioso estudo na famosa revista Science em que mostram que em 49,6% do tempo em que se passa acordado, a mente está divagando, ou seja, pensando em alguma que já aconteceu ou que ainda vai acontecer, e nesse caso o resultado é a infelicidade.

Mais uma vez a Ciência corrobora um pensamento do senso comum, um pensamento popular. Os cientistas envolvidos na pesquisa afirmaram que a mente humana é dispersa – o que não é novidade pra ninguém. Ao escrever este texto, a minha mente está divagando em milhares de milhares de outros pensamentos, imagens, cores, sons, etc. Para que eu possa desenvolver minhas ideias, preciso me concentrar; È na concentração em um ponto, num objetivo e numa meta é que é possível encontrar a felicidade. A dispersão nos torna infelizes.

A pesquisa mostrou também que os momentos em que estamos mais felizes é quando estamos produtivos – como conversando, se exercitando, lendo, estudando e os menos felizes são aqueles em que descansamos, trabalhamos ou usamos o computador em casa."

E aqui eu fico pensando, ‘divagando’: Quantos são aqueles que questionam a validade da Filosofia? Inúmeros são aqueles os que afirmam que a Filosofia é um conhecimento desnecessário á vida do homem. Na opinião da maior parte das pessoas, no mundo utilitarista em que vivemos, tudo tem de ter uma razão de ser e uma finalidade. Então, a resposta ainda é necessária. E ela seria: a filosofia não serve para nada!

Mas você já pensou que muitas outras coisas não têm finalidade específica e nem por isso são desimportantes? A arte, por exemplo, serve para quê? Qual a finalidade da natureza, do mundo físico? Não é por não serem utilitárias que a arte, a natureza e também a filosofia deixam de ter sua razão de ser.

Se você já estuda filosofia na escola, deve estar se perguntando: "Por que estou lendo sobre filosofia, se ela não serve para nada? Para que vai me servir isso?" Você acaba de se questionar. Talvez tenha arranjado uma resposta, mesmo que provisória, e outra pergunta surgiu. É assim que se começa a filosofar. Perguntando sobre o mundo, sobre si e o outro. O interessante é que os resultados cientificos apresentados na revista Science, mais uma vez corroboram muitos pensamentos filosóficos sobre a felicidade há muitos séculos atrás.

Estes resultados vão de encontro às tradições filosóficas e religiosas que ensinam que a felicidade é encontrada ao vivermos no momento e seus praticantes são treinados a resistir à divagação e a estar no aqui e agora.

O filósofo antigo Aristóteles (384-322 a. C.), Estabelece a felicidade como uma atividade da alma realizada em conformidade com a virtude, ou seja, para ele, a felicidade é sempre algo a ser buscado e o meio que se usa é a virtude que o próprio homem possui naturalmente. Isto significa dizer, que, para Aristóteles, a felicidade é uma satisfação das necessidades e das aspirações mundanas. Então, a felicidade é sempre uma ação e não uma divagação inoperosa de nossa mente. À felicidade implica vencer obstáculos para se alcançar algo. E para isto, se tem a árdua tarefa de decidir e correr riscos, pois não há garantias que ela seja plenamente alcançada.

Em muitas teorias filosóficas como na sabedoria do senso comum, a felicidade dificilmente esteve associada á uma vida ou atitudes passivas, ociosas, inoperantes. Pelo contrário, a felicidade sempre é caracterizada com busca, conquista, ato e potência, ou seja, uma vida ativa. E esta felicidade torna-se cada vez mais possível quando ocupamos nossas mentes, nossas vidas com “coisas” que realmente valham à pena e que essas ocupações ganhem sentido á medida que as realizamos.

Por isso, tanto a ciência quanto a filosofia estabelecem que a mente vazia, a mente sem operação racional disciplinada, tende a conduzir-nos ao calabouso da angustia e por isso, à infelicidade. Portanto, ocupemos nossas mentes com realidades e pensamentos que nos dignifiquem e nos estimulem a prosseguir sempre na vivência do bem. Não percamos tempo com pensamentos ou divagações inúteis que nos angustiam e nos dispersam.  
 

"A felicidade e a saúde são incompatíveis com a ociosidade."
Filósofo Grego Epicteto

“O filósofo é o homem que desperta e que fala, e o homem traz em si, silenciosamente, os paradoxos da filosofia, pois, para ser verdadeiramente homem, é preciso ser um pouco mais e um pouco menos que homem” M.Merleau-Ponty, Elogio da filosofia .

Para saber mais

ARISTÓTELES. "Ética a Nicômaco". Coleção Os Pensadores, vol. II. São Paulo: Nova Cultural, 1987.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

Contato: [email protected]

Damião Fernandes

Damião Fernandes

Damião Fernandes. Poeta. Escritor e Professor Universitário. Graduado em Filosofia. Pós Graduado em Filosofia da Educação. Mestre e Doutorando em Educação pela (UFPB). Autor do livro: COISAS COMUNS: o sagrado que abriga dentro. (Penalux, 2014).

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