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Abraão Vitoriano

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Meu nome é violência

18/02/2012 às 22h36

Meu nome é violência. Sou forte, robusta, feia, poderosa, ingrata, desumana, fria, irracional, sou mais veloz que avião supersônico, gosto de tirar gracinha e brincar com a vida das pessoas. Às vezes ajo com discrição, outras vezes, com grosseria, maltrato, crueldade. Não escolho lugar, nem pessoas para agir, simplesmente ajo. E quando ajo, é pra valer. Não estou nem aí com as consequências. Não tenho pena de ninguém. Até diria que meu alimento é fazer o que mais gosto: causar dor, desespero.

Não posso deixar de afirmar que brincar e gozar da vida das pessoas faz parte de minha natureza. Ah, como me sinto feliz quando vejo pessoas sofrendo por minha causa.

Ninguém se engane comigo, pois tenho a força, sou zangada, não tenho coração. Sou um vírus poderosíssimo, maléfico, alojado no coração humano. Sempre esperando para ser acionada. Por ando passo, deixo rastro arrasador. Aliás, quero dizer que estou tão feliz com meus trabalhos. Confesso que não tenho culpa de existir. E só há um meio de me combater, é arrancar minhas raízes, que por final, são profundíssimas. Os homens são tão ingênuos que só ficam combatendo meus efeitos. Eles não sabem que sou fruto ou consequências de multas causas sociais, econômicas? Cadê o poder devastador e eficaz do governo e da sociedade? Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.

Quero afirmar, peremptoriamente, que ajo de forma estratégica. Nunca ajo aleatoriamente. Minha ação perversa dá-se também através de instituições, poderes públicos, sistema político-econômico, ideologias político-religiosas, grupos de extermínios ou organizações criminosas, meios de comunicação social etc.

Ah, antes que esqueça, quero dizer que há muita gente lucrando graças a minha existência. Por minha causa, há pessoas, empresas ficando ricas, poderosas. Existe até o mercado da violência. Para muitos, quanto mais eu ajo, melhor. Para muitas empresas, violência reinante é sinal de boas vendas. Onde atuo de forma rápida, a venda de aparelhos de segurança cresce. Logicamente, mais dinheiro no bolso dos empresários.

Por conta disso, vale fazer o seguinte questionamento: se eu sou fonte de lucro, será que há interesse em liquidar-me? Uma coisa vale repetir, há muita gente ganhando graças a minha atuação. Disso, não tenho dúvida.

É imperativo tomarmos consciência, que a violência, como ofensa grave à pessoa humana, está tomando corpo e asas numa proporção inimaginável. Parece que caminhamos, desenfreadamente, para uma situação inaudita de barbárie generalizada. Há todo um indicativo para isso. É assustador como essa situação de agressão à vida vai se agigantando, criando na população o sentimento generalizado de pavor, medo, insegurança, desespero.

Muitas são as explicações para o crescimento da violência e sua expansão espantosa. No âmbito religioso, a falta de vivência dos princípios cristãs, da falta de fé em falta de Deus etc.; no âmbito socioeconômico, o desemprego a fome, a miséria… E por ai, vai.

O que importa saber é que nunca tivemos uma sensação de medo e insegurança como agora. O pavor é grande. Até diria que virou neurose. E com toda razão. Muitos dizem: Não saio de casa, não vou à igreja, não passeio, não quero ir mais à escola, não vou ao médico, não ando mais pelas ruas ou pelas praças, não faço caminhada, porque tenho medo da violência, ela pode me pegar de surpresa etc. Essa realidade de insegurança está impregnada na cabeça do povo. Tudo é violência. Estamos na era da neuroviolência. A neuroviolência é tão grande, que não podemos, nem sequer, confiar na nossa própria sombra.

A violência está em todos os lugares, no campo, na cidade, nas escolas, no trabalho, nas residências, nos transportes coletivos, nos aviões, nos clubes, nas relações pessoais como namoros e casamentos. Essa praga assemelha-se a um vírus cancerígeno que, a cada dia que passa ,vai ganhando força e espaço, agredindo e destruindo o corpo do paciente.

Mas ,afinal, a violência que tanto arrasa, destrói ,mata, tem nome? Tem idade, duração de vida? Como ela se define?

Tem, sim. A violência tem nome, e ela pode durar de acordo com a omissão do governo e da sociedade. Vejamos:

Sou a fome e a sede, que matam milhões de seres humanos;

Sou a injustiça ou exclusão social, que priva milhões de viverem digna mente;

Sou o desemprego, com suas consequências desastrosas;

Sou a falta de moradia, de terra, que leva tanta gente aos horrores da vida;

Sou a educação de péssima qualidade, que desinforma, aliena, atrasa;

Sou a falta de assistência médico-hospitalar com dignidade, que faz sofrer milhões de pacientes;

Sou a alienação política, que faz o povo ficar acomodado, com visão turva e fatalista da vida;

Sou o analfabetismo generalizado, que causa várias desgraças na vida do povo e da comunidade;

Sou o capitalismo selvagem, que visa somente o lucro em detrimento da pessoa humana e da natureza;

Sou a idolatria do TER, do PODER e do PRAZER. Para conseguir meu intento, engano, roubo, exploro, mato;

Sou a corrupção, que gera consequências irreparáveis na vida do país, do estado, do município e do povo. Ah, amo este nome kkkkkkkkkkkkkkkkk!

Sou a ideologia perversa de sistemas político-econômicos, que engana, perverte a mente das pessoas;

Sou as leis injustas, desumanas, que violentam os pobres, os pequenos, os indefesos, os sem vez e voz;

Sou o aborto, as drogas, que ceifam milhares de vidas humana;

Sou o Estado policiesco, opressor, que bate, fere, prende e mata as pessoas que lutam por vida, por dignidade…;

Sou a desapropriação na base de cassetete, cães, cavalos, bombas, armas etc.;

Sou as autoridades que agem conforme o espírito de desrespeito, de brutalidade, de vingança, de preconceito, de ódio, de apatia etc., causando constrangimento, dor, revolta e morte.

Sou o lixo cultural, que enferruja a cabeça do povo;

Sou a mentira, a hipocrisia, o engodo, as trapaças, que usando bem direitinho, consigo fazer tudo o que quero;

Sou os programas de televisão recheados de pornografia, esculhambação, causando destruição dos valores morais, éticos, humanos;

Sou a inveja, o orgulho, a vaidade, a ambição. Quando entro na vida de uma pessoa, faço a festa;

Sou o preconceito, a discriminação, que causa infelicidade na vida das pessoas.

Sou a apatia, a insensibilidade, a falta de compaixão, que leva milhões ao sofrimento, ao abandono, a morte;

Sou as bombas atômicas, as armas químicas, as guerras, que matam milhões de inocentes;

Em síntese, tenho vários nomes, mas o meu nome de verdade, que faz parte da minha essência devastadora, chama-se MORTE.

Eu sou a morte por excelência, não no sentido bíblico- teológico, mas no sentido estritamente sociológico.

Se eu sou a MORTE, como vocês pretendem liquidar-me? Qual a vacina para combater-me? Se vocês, humanos, são tão inteligentes, por que não me liquidam, para a felicidade de todos e todas?

Enquanto não encontrarem os meios de mim liquidar, vou fazendo minha festança. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Abraão Vitoriano

Abraão Vitoriano

Formado em Letras e Pedagogia. Pós-graduado em Educação. Escritor. Poeta. Revisor de textos. Professor na Faculdade São Francisco da Paraíba e na Escola M. E. I. E. F Augusto Bernadino de Sousa.

Contato: [email protected]

Abraão Vitoriano

Abraão Vitoriano

Formado em Letras e Pedagogia. Pós-graduado em Educação. Escritor. Poeta. Revisor de textos. Professor na Faculdade São Francisco da Paraíba e na Escola M. E. I. E. F Augusto Bernadino de Sousa.

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