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Cristina Moura

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Mistura perigosa

29/04/2022 às 18h17

Coluna de Cristina Moura - Foto: reprodução/internet

Por Cristina Moura

Nesta época de eleições, eu me lembro da minha adolescência, no colégio. Tive que conviver com professores candidatos ao Poder Legislativo municipal, dispostos, inclusive, a pedir nosso voto em pleno exercício docente. O pedido era real, visível, mas, para muitos, uma brincadeira, de forma indireta. Na minha percepção, ainda de quase eleitora, era tudo muito direto, a ponto de atrapalhar a transmissão do conteúdo previsto da disciplina. Eu ficava me perguntando se a prosa não poderia acontecer na calçada.

Sempre considerei estranho que política e educação ou política e religião se misturassem. Esses elementos necessitam da sua própria força, da sua própria direção. A religião é uma escolha particular e lida com algo difícil de explicar de maneira simples, a fé. Para mexer com o que há de construído no aparato mental, com relação ao sagrado, é preciso tato. Trata-se de um fenômeno individual. Transportar esse fenômeno para o mundo das propostas políticas, dos acordos, dos conchavos, das parcerias, não me parece tão apropriado. Também não parece ético o professor utilizar o momento da autoridade da sala de aula para convencer os alunos.

Minha satisfação ocorreu, quase quinze anos depois, quando uma professora, que tinha sido candidata, disse, numa roda de conversa, que não pedia voto na sala de aula. Quando olhou para mim e me perguntou, esperando minha aprovação, tive que dizer o que vi. Pedia sim, professora. Pedia para quem já podia votar, e com extensão aos familiares. Que bomba. Que nada. Ela fez cara de paisagem. Sabia que não era mentira da minha parte.

Alguns alunos bajuladores até incentivavam a prática, não imaginando o teor nocivo da situação. Alunos que não gostavam muito de estudar. Alunos que tratavam os candidatos como heróis, como gente famosa, gente corajosa. Eram apenas cidadãos que queriam concorrer a uma oportunidade de entrar para a história política do município. Alguns conseguiram. Experimentaram a fama e o tamanho da responsabilidade.

Ao longo dos tempos, essa prática de misturar as coisas parece mais do que natural. Vai se infiltrando no cotidiano, para que possamos admitir que seja parte da cultura e que estamos mais do que acostumados. Basta que observemos o nosso Congresso Nacional. A Casa ostenta personalidades religiosas que se dedicaram à política partidária, quase sempre utilizando nomes de igrejas e templos, para convencer os fiéis. Em seus discursos, podemos comprovar o quanto falam de Deus, da manutenção da família, do amor à pátria, assim mesmo, tudo junto. Custo a acreditar, no entanto, que esse ser divino seja conivente com o que há nas entrelinhas.

Não podemos esquecer que a História está presente para discutir, pensar, reescrever, contradizer, refletir o que fazemos com essas junções de campos diferentes. Citei a escola e os lugares religiosos porque ambos se sustentam com um fator importante, que é a carga da autoridade, da liderança, da motivação. Professores, gestores, padres, pastores, sacerdotes de qualquer religião guardam em suas posições esse princípio, tornando-se modelos de fácil aceitação popular. Trabalham com a palavra e pela palavra. Sabem argumentar e convencer. Muitas vezes, somente a posição de poder hipnotiza o público. É claro que respeito o desejo de um líder educacional ou religioso para se lançar ao jogo político, em favor de causas, as mais diversas. Temos vários exemplos. O que parece desproporcional são algumas maneiras de conquistar o eleitorado. Sim. Vamos em frente.

Cristina Moura

Cristina Moura

Jornalista e Professora cajazeirense, radicada no estado do Espírito Santo.

Contato: [email protected]

Cristina Moura

Cristina Moura

Jornalista e Professora cajazeirense, radicada no estado do Espírito Santo.

Contato: [email protected]

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