O lixo da discriminação regional
Em conversa com um amigo sobre o ódio e xenofobia disseminados nas redes sociais, ele reflete:
“A única coisa boa que aconteceu nisto tudo é que agora fica muito visível a questão do racismo, que no Brasil todo mundo nega – que pelo mérito você chega onde quiser, pela sua capacidade. Está tudo muito claro: as pessoas desejam um feliz natal, um próspero ano novo, mas esse próspero ninguém sabe como se constrói. O Bolsa Família é um valor ínfimo que as pessoas recebem, o que me interessa, o que me alegra, o que me deixa feliz é que milhões de pessoas têm o que comer dentro de casa, este dinheiro vai para a mão da classe média – que é dono de supermercado, dono de farmácia, etc; este povo está incomodado por que agora pobre tem comida no prato? Nós nordestinos estamos sendo tratados aqui no Brasil como ‘subcidadãos’, isto é muito grave. Por isto que eu acho muito perigoso a gente ficar fazer ode à pobreza, ficar fazendo ode ao coitadianismo do nordestino. É filme o tempo todo retratando a gente como pobre, miserável, como carente. O nordeste sempre foi vendido na literatura, sempre foi vendido no cinema. Eu vi um dia desses ‘Central do Brasil’ e eu não gostei, eu fiz outra leitura: é o nordestino desdentado, é nordeste dos anos 60. É esta a imagem que mundo da cultura quer cristalizar na mentalidade das pessoas. Esses filmes são passados no Brasil, fica reforçando essa imagem do nordestino bárbaro, grosseiro, miserável.”
A indignação e preocupação dele também representam as minhas, as nossas, de milhões de brasileiros e brasileiras que enfrentam a discriminação desde o nascimento. O jeito de falar, de comer, de festejar, de se vestir, de exercer cidadania. Os personagens em novelas globais: pobre enterrado na rede, Paraíba burro, empregada de sotaque arrastado, criança suja a pedir esmolas. Humoristas que avacalham sua própria cultura em programas de auditório, a prática asquerosa do pão e circo. É possível mudar, dar outro fôlego, acabar com a intolerância e "inexplicável aversão"? Não sei, sei apenas que enquanto não nós enxergamos com dignidade e bravura diante do mundo, sem nos acovardar em velhos discursos de subdesenvolvimento, nunca encontraremos o nosso "norte". Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil!
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