O tesoureiro Otílio Guimarães
Otílio Ferreira Guimarães foi tesoureiro da prefeitura de Cajazeiras por muitos anos. Entrava prefeito, saia prefeito, e ele, firme, a emprestar seu nome, sua honestidade, dedicação e seriedade às finanças municipais. Sem apego a bens materiais, só duas coisas absorviam sua energia intelectual: os deveres de servidor público e a leitura. Adquiria livros por meio do reembolso postal. Chegou a manter com Editora Agir, do Rio de Janeiro, uma espécie de contrato mediante o qual, uma vez lançada nova publicação, “seu” Otílio a recebia pelos Correios. E enquanto não chegavam os livros, ele devorava o dicionário.
Ainda criança, ao voltar da escola de Carmelita Gonçalves, próxima à estação ferroviária, quando havia trem em Cajazeiras, eu encontrava vez por outra “seu” Otílio a caminhar, sisudo, da prefeitura para sua casa. Tempos depois, já estudando no Ginásio Salesiano, eu o via aproveitar o resto da claridade solar, em fim de tarde, concentrado na leitura, junto à entrada do casarão, onde morava. Carrego até hoje essa imagem. Imagem de um devorador de livros.
O casarão fica no começo da Rua Padre Rolim, com a frente voltada para a Rua Padre José Thomaz, na esquina das oiticicas que, agora, dão sombra a mototaxistas. Nesse casarão morou o coronel Sabino Rolim, o político mais poderoso do começo do século 20, fiel seguidor de Epitácio Pessoa, chefe da mais forte oligarquia paraibana da República Velha. O coronel Sabino era casado com Maria Leopoldina Cartaxo Rolim, filha do bacharel Antônio Joaquim do Couto Cartaxo, o primeiro deputado federal nascido em Cajazeiras, e irmão mais velho do tenente João Cartaxo, assassinado no célebre e sempre lembrado conflito eleitoral de 18 de agosto de 1872.
Otílio Guimarães era genro do coronel Sabino, casado que foi com Odília Rolim Guimarães. O casal Otílio e Odília mudou-se da casa onde morava na Rua Padre Manuel Mariano, para o casarão do coronel Sabino, quando sua esposa, dona Leopoldina, adoeceu, ficando impossibilitada de cuidar da casa, do marido, de si mesma. Assim, dona Odília, como filha mais velha do coronel, assumiu o comando dos afazeres domésticos no casarão.
Otílio Guimarães não completou os estudos formais, como o fizeram, por exemplo, seus contemporâneos Cristiano Cartaxo e o sobrinho Otacílio Jurema, ambos formados no Rio, quase 100 anos atrás. Mesmo assim, “seu” Otílio discutia horas a fio com seus filhos, o advogado José e o médico Sabino Rolim Guimarães. Conversavam sobre literatura, política, história. O velho Otílio levava a melhor, quase sempre, porque além de memória privilegiada sua carga de leituras lhe dava argumentos para dobrar seus filhos ilustres.
Otílio Guimarães faleceu em 24 de abril de 1975, aos 83 anos. Do seu longo desempenho à frente da Tesouraria da prefeitura de Cajazeiras, nunca ouvi nada que indicasse o mais leve traço de desonestidade. Qualquer insinuação relacionada com Secretários de Finanças de municípios, hoje em dia, fica por conta da maledicência do leitor.
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