Operação Mãos Limpas e o dedo de Sarney
A surpresa veio do Amapá. A Polícia Federal prendeu o ex-governador Valdez Góes (PDT), o atual governador Pedro Paulo (PP), o presidente do Tribunal de Contas e outras 15 pessoas, entre as quais, a esposa de Valdez, secretários estaduais, empresários. Todos suspeitos de meterem a mão em milhões de reais transferidos da União para o Amapá. Ainda não se sabe quanto, mas pela dinheirama apreendida, e mostrada na tevê, tem-se uma idéia do tamanho do rombo.
Por que prender figuras tão importantes, às vésperas da eleição? Seriam adversários do governo? Ao contrário, são “amigos” de Lula, gente de Sarney. Não se trata, portanto, de perseguição a adversários políticos. Tanto é que, pasme o leitor, Lula apóia aos candidatos a senador de Sarney: Valdez Góes e Gilvan Borges (PMDB), a despeito de o PT ter como candidato a senador o Professor Marcos, petista, da Frente Popular, que faz campanha casada com João Capiberibe, do PSB, aliado histórico do PT.
A Operação Mãos Limpas repercute muito além dos limites do longínquo estado do Amapá. Primeiro, porque expôs o presidente Lula, nosso herói, ao vexame de pedir votos para um candidato a senador, preso em plena luz do dia pelos agentes federais. E o fez em gravação exibida no guia eleitoral, a partir de 27 de agosto, para desespero dos petistas amapaenses, com esta recomendação: “Por isso, aqui no Amapá, vote em Valdez Góes, que está com Dilma”.
Outro efeito é escancarar as divergências internas do PT. O diretório local optou, em 2010, por reconstruiu a “aliança estratégica com o PSB, no sentido de reorganizar a esquerda amapaense”, que fora isolada pelo governo Valdez/Pedro Paulo, integrado pelo PDT, PP, PSDB, DEM, PPS, conforme dramático relato do PT do Amapá, em 31 de agosto, após a primeira aparição de Lula no guia eleitoral de Valdez. Revoltados, os petistas de lá apelaram à Direção Nacional e à Coordenação da Campanha de Dilma Roussef: por favor, gravem mensagens para o rádio e tevê pedindo de votos para a coligação PT/PSB.
Pior foi no Maranhão, quando Brasília desfez a coligação PT, PSB, PC do B e obrigou os petistas a apoiarem Roseana Sarney. O episódio, de tão chocante, provocou até a greve de fome do líder histórico das lutas camponesas, Manoel da Conceição, e do deputado Domingos Dutra.
A Operação Mãos Limpas, embora o Amapá seja estado insignificante (410 mil eleitores), pode mexer na composição futura do senado, caso o eleitorado termine a tarefa iniciada pela Polícia Federal, elegendo os candidatos que resistiram ao esquema de corrupção implantado há muitos anos, sob as benções de José Sarney, senador, eleito em sucessivos pleitos desde 1990.
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