Os Caminhantes
Por Francisco Cartaxo
Eles caminham em qualquer lugar do mundo, desde que descobriram que caminhar melhora a qualidade de vida. Gente de todas as idades busca saúde, prevenindo-se contra engasgos em órgãos sensíveis, nos ossos, em músculos e na mente. Idosos e jovens lá estão exercitando-se, muitas vezes, antes de entrar nas academias de ginásticas, onde aprimoram também a forma física.
Andam em praças e parques, em pistas apropriadas para o lazer, à beira-mar quando se goza tal privilégio. Uns acham que o papo é o melhor da caminhada. No vaivém, resolvem-se os problemas do mundo, do país, do estado e da cidade, na irresponsabilidade das palavras ao vento… Fala-se de tudo. Fofocas do dia circulam com a espontaneidade da mentira, do comentário malicioso. Vez por outra, surge discussão, sem mais nem menos. Até engrossa. Testemunhei na Praça da Casa Forte, em Recife, uma exaltação verbal, interrompida por um berro de terror à vista de um revolver em punho. Espanto, tremedeira, gritos, correria. Felizmente, nem um tiro. Só a inimizade resmungada a cada presença simultânea dos desafetos.
Os caminhantes de Cajazeiras usam lugares impróprios. Sem orla marítima, adotam a beira da estrada… O acostamento da PB 395, na saída para São João do Rio do Peixe, acolhe, no amanhecer e nos fins de tarde, dezenas de pessoas sobressaltadas com os veículos indo e vindo. Um perigo que cresce dia a dia com o aumento na quantidade de caminhões carregados de sal do Rio Grande do Norte rumo a outros estados. E a BR 230? Nem me fale.
O Açude Grande é um lugar bom, adequado, no entanto, a pista é pequena e estreita. A brisa, a visão do sol nascente ou poente, perde-se na disputar de espaço com bicicletas, carros de mão ou transeuntes comuns. Por isso, lá vão eles, os caminhantes, em busca das vias de acesso ao Ceará, desde a Rua Doutor Coelho até a BR 230, para além do bairro dos Remédios, na terrível disputa com motoristas, bicicletas e carroças. Um inferno. Apesar disso, é meu roteiro preferido, sempre que estou em Cajazeiras. Ao lado de outros caminhantes tomo ciência das coisas da terra, de fatos recentes. Fatos? Mais boatos do que fatos, vá lá que seja… Os assuntos afloram feito mata-pasto nas primeiras chuvas. Quando não há novidade, inventa-se.
Os temas locais predominam. Em época de campanha política, então, pega fogo. Mas os assuntos gerais são fortes. Semana passada, por exemplo, o ex-vereador Raimundo Júnior (PDS, 1982), conhecido pelo malabarismo político, desceu do muro, abriu o voto para presidente da República. É bem verdade que escondido em panfleto apócrifo, talvez, com saudade de velhos tempos… Como assim? Ele distribuiu, entre caminhantes amigos, reprodução de maldoso papelucho acerca de Dilma Rousseff, em forma de folha policial, fichando-a como “terrorista/assaltante de bancos”, na qual se registra pretensas ações criminosas da ex-guerrilheira, hoje pré-candidata de Lula, nos sombrios anos em que, arbitrariamente, o “sistema” encarcerava, torturava e matava nos porões da ditadura.
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