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Abraão Vitoriano

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Os clamores dos Sertanejos

07/05/2012 às 11h55

Nas minhas visitas aos sertanejos da zona rural, sempre sob um sol causticante, um calor fora do normal, sinto na pele o drama de tantos irmãos sertanejos vítimas de uma estiagem braba, com suas conseqüências nefastas, arrasadoras. Sempre atento as suas palavras clamorosas, começo a lembrar-me da famosa e secular frase de Euclides da Cunha: “o sertanejo é,antes de tudo, um forte”.Não resta dúvida,os sertanejos são guerreiros, fortes,determinados,corajosos, porém, humilhados, excluídos, esquecidos .

Nas minhas conversas com essas pessoas, percebo sua dor, seu desespero, suas angústias, diante de uma seca devastadora, feito um furacão louco. Vejo lágrimas caírem dos seus olhos, como a dizer: padre, a nossa vida é uma eterna cruz, uma vida difícil, sem fim. Realmente, a situação dos moradores da zona rural não é nada boa, a situação é extremamente caótica.

Só quem convive com essa gente, que sente de perto seu drama, pode, de fato, falar. É na convivência diária, que vou percebendo a sua triste e difícil realidade de vida. O que tenho ouvido ultimamente, neste período de estiagem, é de cortar coração. Trata-se do grito clamoroso dos sem água, dos sem colheita, dos sem emprego, dos esquecidos, dos explorados e tratados como boiada ou massa de manobra por aqueles se aproveitam dessa situação infra-humana:

-Padre, a coisa ta feia, sem chuva, sem água, sem nada.

-Seu padre, nunca vimos uma seca tão feroz como esta, meu Deus!Eita seca feia!

-Sei, não, só Deus mesmo para nos socorrer. Do que jeito que vai, parece que vamos mesmo é se acabar

-Não tem água, seu padre, e a água que tem é salobra, e a gente tem que beber dessa água mesmo.

-Perdi a esperança no inverno. Agora é entregar nas mãos de Deus

-Fazer o que, né? Deus quer assim. A gente deve se conformar, né, padre?

-Quando olho para minha roça e não vejo nada, me dá uma vontade danada de chorar

-É triste a gente plantar, plantar, e ver a plantação morrendo sem poder fazer nada.

-Sei não, tenho duas vaquinhas, uma deu cria, mas eu vou vender as duas, porque não -tenho dinheiro para comprar a ração

-Padre, na nossa comunidade não tem água, só sofrimento, fome, miséria

-Sei não, se o governo não tiver compaixão de nós, a coisa vai ficar feia mesmo

-Olha padre, aqui tem gente passando fome, digo porque eu vejo todos os dias

-Eita vida difícil é a nossa, pobre nasceu pra sofrer e morrer sofrendo

-Tenho sete filhos para criar, o meu marido foi para Brasília, em busca de emprego. Estou aqui cuidando dos filhos

-Padre, o bolsa família, o bolsa escola tudo é bom, mas o dinheiro é pouco demais,a despesa na minha casa é grande

-Tem gente que diz o bolsa família dá para viver bem, mentira, como uma família pode viver bem com 90 reais?

-Com o bolsa família a gente ainda compra umas coisinhas para as crianças

-Olha,padre,em tempo de seca,o que não falta e político na nossa comunidade.Parece mais um bando de urubus em cima de carniça

-Sei não, mais tinha muita gente que vai se aproveitar dessa seca danada

-Na minha casa falta feijão, arroz, água, dinheiro. A gente só tem a casa e a sombra

-Minha mulher doente, eu doente, meus filhos desempregados e uma seca danada desta é prá matar mesmo, seu padre

-A nossa vida de sertanejos da roça é difícil, ninguém olhar para nós, somos uns pobres coitados. Agora ,quando chega o tempo de eleição,ai não falta visita, a gente é visitado todos os dias.

-Meu sofrimento é tão grande, que dá vontade é de morrer, de sumir deste mundo

-Padre, digo ao senhor que às vezes eu bebo para esquecer o meu sofrimento e o da minha família.

-Meus filhos foram para São Paulo, trabalham lá, coitados, ganham pouco demais, não dá nem pra mandar pra gente. Meus filhos, lá no São Paulo, são humilhados demais, trabalham como escravos, como bichos

-Olha, seu padre, a minha cara está toda enrugada, engiada é porque passei a vida na roça,trabalhando dia e noite para sustentar minha família

Nessas visitas a esses filhos de Deus tão sofridos, faço questão de ouvir, com atenção e paciência cristã, suas histórias comoventes, revoltantes, desesperadoras, seus desabafos ou pedido de socorro. Só assim, tenho autoridade moral para gritar para todo o Brasil: os sertanejos da Paraíba pedem socorro.

Padre Djacy Brasileiro


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Abraão Vitoriano

Abraão Vitoriano

Formado em Letras e Pedagogia. Pós-graduado em Educação. Escritor. Poeta. Revisor de textos. Professor na Faculdade São Francisco da Paraíba e na Escola M. E. I. E. F Augusto Bernadino de Sousa.

Contato: [email protected]

Abraão Vitoriano

Abraão Vitoriano

Formado em Letras e Pedagogia. Pós-graduado em Educação. Escritor. Poeta. Revisor de textos. Professor na Faculdade São Francisco da Paraíba e na Escola M. E. I. E. F Augusto Bernadino de Sousa.

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