Os coxinhas, os petralhas e o cansaço do povo
Por Gildemar Pontes
As manifestações ocorridas nos últimos dias no Brasil têm deixado a mídia nacional e os analistas políticos em polvorosa. E aí se mostram os prós e contras do que se intitulou “coxinhas”, alusão ao personagem Coxinha, criado pelo humorista Iran Delmar, que se apresentava no Programa Nas Garras da Patrulha, da TV Diário do Nordeste, de Fortaleza. Coxinha é um personagem que fala mal de todo mundo e não tem consideração por ninguém. A outra denominação apelidou-se de Petralhas, em analogia aos irmãos Metralhas, personagens que representam bandidos da História em Quadrinhos.
Até aí entendemos que se trata de uma das muitas denominações criadas para batizar grupos que se opõem politicamente. O fato a ser considerado grave é que a conotação dada aos coxinhas e petralhas têm um valor extremamente negativo e maldoso, em muitos casos usados como ofensas a determinada pessoa que não concorda com esta ou aquela opinião. Isso demonstra um reducionismo típico de província, mas com um sabor de vingança que está embutido no conceito em pauta.
Vejo intelectuais do Rio e de São Paulo despejarem seus preconceitos reduzindo as manifestações das ruas à obra da direita coxinha ou da esquerda petralha. Aí já se percebe um problema de generalização que emburresse os manifestantes e minimiza suas reivindicações a palavras de ordem como “Golpe Militar”, “Elite Branca”, “Analfabetos Políticos”, dentre outros mais depreciativos que estes. E o que parece prevalecer nas redes sociais é a fúria de um grupo em ralação ao outro de modo idêntico e orquestrado. Coxinhas são burros, petralhas são ladrões. Esse reducionismo me faz pensar no sujeito que, durante uma seca, tinha duas vacas e só podia alimentar uma. O jeito foi sacrificar a outra.
A mesma medida tem que ser oferecida aos dois lados em questão. A análise dos sociólogos de plantão mostra a fragilidade da nossa consistência ideológica. Em nome de um chamado pacto de governabilidade o governo federal fez aliança com os setores mais atrasados da sociedade e vem favorecendo em larga escala os banqueiros e empreiteiros (basta ver o lucro dos bancos privado nos últimos anos).
Em caminho oposto o governo vem aumentado sistematicamente as taxas de juros, que gera o endividamento dos mais pobres, e subtraindo os direitos dos trabalhadores com o apoio das elites representadas no Congresso Nacional pelos deputados que estão a serviço do atraso. E aí não vejo diferença de postura entre os partidos de situação e de oposição, com exceção do PSOL e de alguns partidos realmente de esquerda que não receberam dinheiro das empreiteiras.
O povo não se opõe por ideologia, o povo não é filiado a partidos, nem ao menos se identifica com a chamada esquerda ou direita, o povo é o termômetro de uma democracia. Se vai as ruas, como dia 16, tem que ser respeitado; se irá as ruas defender o governo tem que ser respeitado, porque as consciências que ambos externam são de uma sociedade que reflete o governo que temos.
Elegemos corruptos e agora queremos depô-los. Se estão no PSDB ou no PT não importa, são corruptos do mesmo jeito. Isso é mais que natural. Se uma minoria chama a atenção dos analistas por trazer a estupidez como bandeira, do outro lado, uma minoria em crise de identidade está condenando os que os seus olhos não conseguem mais ver. A frágil Educação que forma os estúpidos de direita também deforma os estúpidos de esquerda. Não serão uns melhores do que outros, porque, antes, são abomináveis em suas intolerâncias.
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