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Mariana Moreira

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Pensar é perigoso? Ou inútil?

17/05/2019 às 14h48

Arthur Schopenhauer (1788 - 1860)

O que é um inocente útil? Porque, em momentos vários da nossa história, pensar torna-se um crime de lesa pátria? Por que o conhecer, quando apropriado e manipulado (no sentido de ressignificar com mãos, reais ou políticas), tornar-se uma perigosa ameaça a ordem estabelecida? Sobretudo, quando esta ordem se sustenta e se legitima em bases fraudulentas e mentirosas.

Fraudes e mentiras que, nos argumentos do filósofo francês Michel Foucault, vão se instituindo como regimes de verdade ao serem ungidas em espaços considerados autênticos e com credibilidade para a repetição que conduz a verdade. Uma mentira que se manifesta na defesa do policiamento das escolas e universidades, apontadas como laboratórios potenciais e potentes de produção de costumes, práticas e experiências sociais e humanas degradantes, desviantes, causadores de aberrações que desvirtuariam a vida social.

Assim, escola sem partido, kit gay, “arminhas” como solução para pobreza, desemprego, desassistência de saúde, são convertidas em verdades absolutas e universais, defendidas e seguidas por corações e mentes esterilizadas pelo discurso que, veiculado, com veemência, pelos laboratórios produtores destes enunciados (mídias tradicionais, altares, púlpitos, internet) se transforma em visão de mundo a ser seguida e defendida.

E, neste novo mundo, o pensamento, como espaço da pluralidade e da tolerância de perspectivas e pontos de vistas múltiplos, se transforma em inimigo visceral que carece ser combatido e eliminado com todas as armas que a mentira e a torpeza são capazes de gestar.

Tomando como referência o meu lugar de fala, percebo como foi perigoso para a filha de um agricultor familiar, que mora no sítio até os dez anos de idade, frequentar uma escola pública que, mesmo em plena ditadura, nos intervalos do recreio, ouvia a radiola do Centro Cívico rodando o disco do Chico Buarque, cantando o seu Fado Tropical e nos levando a pensar: “Oh, musa do meu fado/ Oh, minha mãe gentil/ Te deixo consternado/ No primeiro abril”.

Que perigo frequentar uma universidade pública, embora ainda bastante exclusiva da elite e, no bacharelado em Comunicação Social, pensar sobre Marshall Mcluham, Paulo Freire, Karl Marx, Cremilda Medina, já nos desvelando, em sua clássica obra “Notícia: um produto a venda”, como os fatos são maquiados e fraudados em regimes de verdade por laboratórios sociais, políticos, culturais controlados e apropriados por quem e para quem o pensar é perigoso e subversivo.

Foi pensando que, como jornalista, passo a ver a escola, em suas múltiplas formas e instâncias, como o espaço do pensamento, da produção e reprodução de ideias, conceitos, teorias, ou seja, conhecimento.

Depois, na universidade, como docente e também como aluna da pós-graduação (mestrado e doutorado) sedimento essa compreensão do perigo que o pensar representa para este regime de verdade que se sustenta na mentira e na fraude como universalização de mundos. Foi pensando que vi a escola como lócus para entender o que nos ensina o filósofo francês Gilles Deleuze: “A revolução é a potência social da diferença, o paradoxo de uma sociedade, a cólera da própria ideia social”.

Mariana Moreira

Mariana Moreira

Professora Universitária e Jornalista

Contato: [email protected]

Mariana Moreira

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