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Cristina Moura

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Quarenta e quatro

05/02/2021 às 10h50

Coluna de Cristina Moura

Por Cristina Moura

Escrevo esta crônica no dia do meu aniversário: quatro de fevereiro. É uma emoção estranha. O relógio e o calendário olham para mim e sorriem, pedem calma, exigem respeito, ensaiam um balanço geral. Por favor, devagar, não se afobem. Alguns amigos da Rua Coronel Justino Bezerra, onde vivi meus primeiros momentos até os oito anos de idade, dizem que no dia foi uma intensa chuva em Cajazeiras. Uma chuva diferente, com uma quantidade estrondosa de água, relâmpago e trovão. Está aí Dona Guida Gonçalves para confirmar o que eu digo.
O médico Deusdedit Leitão era o plantonista na maternidade do Hospital Regional, naquela manhã. Algum tempo depois, como jornalista, eu o encontrei num desses eventos políticos. Era pauta sobre campanha eleitoral, costura de alianças, chapa quente. No íntimo, eu queria mesmo era perguntar se ele se lembrava que coordenou o parto. Eu levaria um belo e educado não, claro, pois de lá para cá foram centenas de crianças. Minha voz travou porque eu queria agradecer também, mas não consegui. Pensei: bem, ele vai dizer que cumpriu o seu trabalho, como de hábito. E, com ele, deveria estar uma equipe. Logicamente, não sei quem fazia parte, mas ficarei radiante quando souber. Dali em diante, com aquele primeiro grito para vir ao mundo, começou a contagem do meu tempo nesta fase física e espiritual.
Quarenta e quatro anos de aprendizado. Quarenta e quatro anos para agradecer por tanta palavra pensada, dita, musicada, escrita ou sonhada. Quarenta e quatro anos de lembranças dos que também nasceram e de outros que já voaram para a eternidade. Quarenta e quatro anos para imaginar e imaginar. Mas, espere. Foi um dia desses. Foi ontem. Foi um dia desses que eu pinotava nas calçadas, andava a cidade toda montada na minha bicicleta verde-piscina, inventava uma brincadeira que reunisse a turma do Alto Belo Horizonte ou da Escola Nossa Senhora do Carmo.
Certo dia, ao encontrar Padre Antônio Luiz, Padre Buíca, não gaguejei: o senhor fez o meu batismo. De maneira tranquila, ele riu e falou que não se lembraria, mas ficou feliz ao saber. Foi por meio dele, naquele instante simbólico, que entrei para a lista dos que se entendem como cristãos. Mas, gente, pensando bem, foi um dia desses. Alguns fazem questão de dizer que me conhecem desde quando eu ainda nem sabia o que queria ser. Mas admito que eu ainda não sei, com exatidão. O que sei, de pronto, é que quero ser. Ser já é uma grande vitória. Ser, de forma lúcida. Ser, com coragem. Conjugar o verbo ser, em sua essência, de forma pacífica. Ser de verdade. Ser com saúde: o melhor da festa.

Cristina Moura

Cristina Moura

Jornalista e Professora cajazeirense, radicada no estado do Espírito Santo.

Contato: [email protected]

Cristina Moura

Cristina Moura

Jornalista e Professora cajazeirense, radicada no estado do Espírito Santo.

Contato: [email protected]

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