Que independência?
Por Carlos Gildemar Pontes
Sou um sujeito bem brasileiro. Desses que vibrou e chorou com as vitórias e depois com a morte do Airton Senna, que se indignou com a venda/ doação da Vale do Rio Doce e do Sistema de Telecomunicação do país, que torce, discute, xinga o juiz, defendendo o seu clube de futebol, que foi para as ruas pedir Diretas Já!, que fica besta olhando o mar… Acho que, ao meu modo, sou um patriota.
Bem, mais ser patriota nos dias de hoje tem gerado uma confusão de valores e símbolos que distam da pátria como nação, solo de nascença, extensão territorial, imagens de povo e identidades. Jamais poderemos ter uma unidade neste país multirracial. Jamais teremos ídolos como Oswaldo Cruz, Luis Gonzaga, Pelé, Airton Sena, Lula… é, isso mesmo que eu disse, cientistas, músicos, jogadores, desportistas, políticos como os que citei. Destes heróis de hoje nem Lula conseguiu permanecer nesta época de sentimentos líquidos. E a culpa não é apenas do fator político que encerra os destinos de um povo, que não vê o resultado do seu esforço para alcançar a cidadania. A culpa é da liquidação da ética, da cartelização da moral e da inversão de valores. O que antes era positivo passou a ser sem de mau gosto.
A escola foi o lugar mais abandonado nesses tempos. Sem educação não iremos sequer a lata do lixo para esconder o nosso rastro de incivilizado. Sem educação não ouvimos mais os nossos adversários sem querer lhes ofender a honra. Sem educação nos tornamos mendigos de migalhas sem precisão. Homens e mulheres abandonando a sua condição de trabalhadores para viverem aos pés dos vermes da política. Vereadores, prefeitos, deputados, senadores realizando a derrocada da dignidade. A justiça com sua face de elite não se aproxima da fraternidade e nem exerce a ação de equiparar pobres e ricos pelo martelo da lei. Enquanto isso, os donos do capital se banqueteiam com o que há de mais sujo e espúrio nas relações entre o Estado e suas políticas de favorecimento.
Nada temos a comemorar. Vencemos a Guerra do Paraguai com a ajuda da Argentina e do Uruguai. De lá pra cá, os conflitos de natureza social têm mostrado a incapacidade do Estado, gerido por políticos e militares servis ao capital financeiro de banqueiros e empresários do Brasil e do exterior.
Vamos ver o desfile cívico, talvez lá encontremos razões para entender o espetáculo com o qual acostumamos a nos reunir em torno de festas que não representam mais as nossas necessidades humanas.
Somos um povo que festeja o opressor, o corrupto e se esquece de jogar o lixo no local adequado, porque a Educação é a única e verdadeira libertação.
* Poeta. Professor da UFCG/Cajazeiras.
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