Quem tem medo das diferentes?
Assisto despreocupadamente o documentário “Divinas Divas”, dirigido por Leandra Leal. Um filme que conta a história das primeiras artistas travestis do Brasil. E, enquanto ligo o computador, vou ouvindo os depoimentos de como foi o glamour em Paris, Madri, Berlim… dos shows, performances nos “Cabaret de Lise Mineli” e depois no Brasil.
A vida marginal de ser homossexual, criando a alternativa de ser travesti, ganhar a vida, fazer a feira, lutar pelo pão com a voz, o gesto, a metamorfose de ser ela que é ele, passa despercebida pela maioria das pessoas.
Divinas damas da noite, mariposas que precisam de luz para brilhar. E não foi fácil. De que adiantava saber francês, ser coiffeur, receber palmas, sentir-se vedete no mundo afastado dos moralismos? Uma, presa em São Paulo, outra no Rio, outra internada como louca. Tratamento para deixar de ser “anormal”, “estranha”, “defeituosa”, “monstruosa”, as palavras marcadas entre aspas podem ser colocadas no masculino.
E foram mostrando talentos na arte de interpretar uma vida irreal, que era sonhada nos quartos apertados das pensões e das casas de parentes que aturavam o atrevimento de ser diferente. Até chegar aos palcos, mesmo os alternativos, das periferias, abrindo espaços, conquistando respeito e dignidade de trabalhar como intérpretes de uma vida roubada, levou toda uma vida. Muitas vezes, desassitida, marcada por dores, perseguições e impedimentos para uma maioria anônima e extremamente humana, e muitas vezes também pobre. Que sonha sonhos de gente com coração cheio de amor e vontade de viver. Parabéns, Rogéria, Jane Di Castro, Divina Valéria, Camille K, Fujika de Halliday, Eloína dos Leopardos, Marquesa, Brigitte de Búzios e todo homem que não teve medo de ser macho o suficiente para se tornar travesti. Quem se importa! Sou hetero, mas não sou cego ou de pedra.
Quantas lições de humanidade estão aí, nas “Divinas damas”. Creio que o mundo precisa de mais lições de tolerância, de lealdade, de amor ao próximo, principalmente se este próximo não é da mesma marca hetero, branca, cristã. Porque precisamos de muitas lições humanidade para que sejamos todos, reconhecidos, como sendo da raça humana.
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