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Gildemar Pontes

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Quem viver verá

01/06/2020 às 10h21

Gildemar Pontes é colunista do portal e TV Diário do Sertão

Pelo convívio que tenho com a esquerda, em regra geral, ela atua com estrito respeito às leis e ao espírito democrático. Há exceções que merecem reparo histórico e superação de métodos alheios à regra democrática. Não poderia ser diferente.

Quando falamos em Brasil, reconhecemos que tivemos pouco tempo e experiência com a esquerda. Dos 131 anos de República foram apenas 14 anos de governo da esquerda. Nos outros 117 anos, a direita se alternou com a centro-direita, tendo entre elas vários momentos de golpe, sendo o mais contundente, o Golpe Civil-Militar de 1964, que perdurou até 1985. Falar em governo de esquerda no país se resume a falar nos governos Lula e Dilma. Durante esse curto período, o Brasil experimentou um acelerado processo de inclusão social e de ampliação dos índices em patentes, produção científica e tecnológica, ampliação da escolarização e da rede de ensino superior, até então uma das menores da América do Sul, e ampliação da rede de hospitais e a criação do Sistema Único de Saúde, uma grande conquista que serve de exemplo ao mundo.

Teve também muitos defeitos, porque o poder atrai todo tipo de parasita, desde os sanguessugas de uma elite imoral e antiética aos sectários de esquerda que, improdutivos, se alimentam da mesma bajulação ou idolatria que os parvos militantes da direita. Portanto, não aprovo os métodos de manutenção de poder que para si atrai esses tipos de parasitas do sistema. E qual seria a fórmula para um governo que aliasse crescimento econômico e desenvolvimento social?

Não precisamos dos grandes gênios da humanidade para responder à questão mais importante e mais necessária num país governado predominantemente pelos partidários de uma ideologia de centro-direita. O neoliberalismo em países periféricos, como o nosso, governa com o freio de mão puxado, retardando o crescimento e a máquina administrativa em alguns casos em pelo menos cem anos de diferença dos países industrializados. Essa estratégia favorece a grande indústria mundial e o rentismo do sistema financeiro. Portanto, quem governou apenas 10% do tempo na República não levou o país ao atraso nem mergulhou o país na corrupção e proporcionou essa explosão do ideário fascista e da falta de educação, tão evidentes nas atuais manifestações dos apoiadores deste governo. Esse atraso e essa gente foram gerados e alimentados durante os 117 anos de governos por uma elite cruel e parasitária. Uma elite que usufrui do que há de melhor no mundo e oferece ao seu povo e seus comandados as migalhas da civilização. E se trata de uma elite tão burra que vai sucumbir pela ferida social que ajudou a criar. Enquanto morrem milhares de pessoas contaminadas pela Covid-19, uns poucos querem continuar a sanha de ganhar dinheiro numa situação improvável de lucro, diante das circunstâncias adversas para o consumo.

São os que morrem que deixarão de consumir. São os que morrem que deixam famílias insatisfeitas e que passam a enxergar o conflito imposto pelo Presidente da República, que quer agradar à elite e aproveitar a pandemia para concretizar o desmantelamento do país. Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal estão sendo desmatados covardemente para alimentar o lucro das madeireiras e dos produtores do agronegócio. O povo que pega ônibus, trem e metrô está submetido à própria sorte, de correr o risco de se contaminar para servir aos patrões indiferentes à vida dos mais pobres.

Essa elite sucumbirá pelo remédio amargo que está impondo ao povo. Como uma ferida que cresce, o tecido social se contamina com o vírus e com a revolta. Nenhum lucro irá compensar as perdas que tivemos e a sensação de que todos foram lesados. Quando a conta chegar na casa do pobre e sufocar a sua sobrevivência, ele vai lembrar quem causou isso tudo. E todos pagarão pela ganância que ceifou tantas vidas. Vidas que poderiam ter sido preservadas.
Quem viver verá!


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Gildemar Pontes

Gildemar Pontes

Escritor e Poeta. Ensaísta e Professor de Literatura da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, em Cajazeiras. Graduado em Letras pela UFC, Mestre em Letras UERN. Doutorando em Letras UERN. Editor da Revista Acauã e do Selo Acauã. Tem 22 livros publicados e oito cordéis.

É traduzido para o espanhol e publicado em Cuba nas Revistas Bohemia e Antenas. Vencedor de Prêmios Literários locais e nacionais. Foi indicado para o Prêmio Portugal Telecom, 2005, o principal prêmio literário em Língua Portuguesa no mundo. Ministra Cursos, Palestras, Oficinas, Comunicações em Eventos nacionais e internacionais. Faixa Preta de Karate Shotokan 3º Dan.

Contato: [email protected]

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Gildemar Pontes

Escritor e Poeta. Ensaísta e Professor de Literatura da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, em Cajazeiras. Graduado em Letras pela UFC, Mestre em Letras UERN. Doutorando em Letras UERN. Editor da Revista Acauã e do Selo Acauã. Tem 22 livros publicados e oito cordéis.

É traduzido para o espanhol e publicado em Cuba nas Revistas Bohemia e Antenas. Vencedor de Prêmios Literários locais e nacionais. Foi indicado para o Prêmio Portugal Telecom, 2005, o principal prêmio literário em Língua Portuguesa no mundo. Ministra Cursos, Palestras, Oficinas, Comunicações em Eventos nacionais e internacionais. Faixa Preta de Karate Shotokan 3º Dan.

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