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Edivan Rodrigues

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Recordações de Deusdedit Leitão

28/04/2010 às 00h50

Por Francisco Cartaxo

A notícia chegou pelo telefone, Deusdedit morrera na madrugada de quinta-feira santa, 1º de abril. Era verdade. Por pouco não completou 89 anos, que faria em 7 de maio, tendo nascido em 1921. Não pegou ninguém de surpresa, ele resistia há anos ao mal de Alzheimer e ao peso da idade.

Entre as muitas atividades que desempenhou ao longo de sua vida (funcionário público, tendo exercido postos de relevância na administração estadual, jornalista, escritor) a de historiador é que mais se ajustava a sua formação, a seu jeito de ser. Realizava-se ao pesquisar o passado, não se limitando ao comodismo de muitos de nós que ficamos em gabinetes, no deleite do conhecimento livresco. Deusdedit, não. Metia-se a cascavilhar coisas velhas onde as houvesse. Enfurnava-se em cartórios, sacristias, bibliotecas, arquivos a procura de dados históricos que ele anotava em cadernos para confrontá-los mais tarde com depoimentos de testemunhas ou textos já publicados.

Remexia registros, anotações dos livros de cartórios, paróquias, escolas e seminários para, com tudo copiado, expor com segurança datas e fatos dos intrincados entrelaçamentos das famílias que construíram a vida sertaneja do Rio do Peixe, do Rio Piranhas, enfim, desse nosso mundo, objeto mais precioso das investigações históricas desse singular pesquisador conterrâneo.

É essa a faceta que mais me impressionava em Deusdedit de Vasconcelos Leitão. Assim o conheci, eu ainda menino, ouvindo encantado suas descobertas, reveladas em primeira mão a Cristiano Cartaxo, em horas de conversa no terraço da Vila Isabel, velho casarão da Rua Barão do Rio Branco. Numa dessas tertúlias, lá estava ele a corrigir equívocos cometidos pelo padre Heliodoro Pires, o pioneiro biógrafo do padre Rolim. E por ser pioneiro, publicou um livro eivado de senões. Graças a isso, Deusdedit foi induzido a refazê-lo na prática, com o seu O Educador dos Sertões – Vida e obra do Padre Inácio de Sousa Rolim.

A imagem da alegria de Deusdedit nessas ocasiões do mais puro prazer intelectual do ir às fontes, essa imagem gravada em minha memória de criança me acompanha até hoje. Quem sabe, até mesmo responsável pela mania que tenho de também remexer papeis velhos, embora sem embocadura e paciência para as minúcias tão ao gosto de Deusdedit.

A essas reminiscências junte-se outra, bem próxima daquelas: a entrega a Cristiano do exemplar da revista Letras do Sertão, editada em Sousa, que ele trazia, ainda com cheiro de tinta, no entusiasmo de indicar cada artigo, conto, poema, ensaio histórico ou literário, expondo daquela maneira o orgulho sertanejo que sempre carregou com ele a vida toda.

Fui ver esse mesmo orgulho muitos anos depois quando ambos servíamos ao governo de Ivan Bichara, ele na subchefia da Casa Civil e eu na Secretaria do Planejamento, cada um com sua forte dose de modéstia e discrição. Aliás, neste ponto, exibíamos total afinidade com o governador. Além do amor a Cajazeiras, apanágio dos três: Ivan, ele e este cronista.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

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