Reflexões sobre o segundo turno
O segundo turno foi meio decepcionante no plano federal pela pobreza da agenda e inconsistência dos debates. Não houve a desejável discussão de problemas fundamentais para o futuro do Brasil, capaz de se identificar com nitidez os projetos estratégicos dos candidatos a governar o Brasil pós-Lula, tanto na perspectiva interna quanto à posição a tomar frente à mutante geopolítica mundial. Temas cruciais ficaram à margem do debate, afastados por bolinhas de papel, ou não, de mistura com a inoportuna superestimação de assuntos como o aborto, religiosidade, crença em Deus. Uma lástima num País prestes a assumir a liderança da América.
A Paraíba se saiu melhor. Um pouco melhor. Após a surpresa de 3 de outubro, pelo menos, a linha de contorno entre a trajetória e os propósitos de José Maranhão e Ricardo Coutinho adquiriu maior nitidez. É verdade que a contribuição dos debates (ufa, afinal eles aconteceram), foi minimizada por questiúnculas de pouco interesse coletivo, embora compreensíveis em tempo de eleição.
Os debates e o guia eleitoral serviram mais a Ricardo Coutinho do que a Maranhão. Político de perfil urbano, moldado nos movimentos sociais que o levaram à câmara municipal de João Pessoa, à assembléia estadual e à prefeitura, Ricardo acumulou sólido créditos como gestor público, compensando, dessa forma, a ausência de tradição política familiar, histórico canal de legitimação na política paraibana.
Filiado a um partido até aqui pequeno, sem apoios consistentes nas bases interioranas, o grande trunfo de Ricardo era um só: sua administração à frente da prefeitura de João Pessoa. Eleito e reeleito, bem avaliado, com notória aceitação até entre adversários, ele afirmou-se como prefeito, menos pelas obras públicas que geram boas imagens em fotos e na tevê e muito mais pela maneira como cuidou da cidade, mantendo-a ao agrado das pessoas na rotina de cada uma, no trabalho ou no lazer. Apareceu até mesmo como inovador em face da fragilidade dos antecessores, exibindo assim preciosa credencial para governar a Paraíba.
Ao acompanhar o desenrolar da campanha, vista de Cajazeiras, pude sentir a reação de surpresa revelada aos poucos pelos eleitores sertanejos. No início, o desconhecido Ricardo parecia uma teimosia de Cássio Cunha Lima, espécie de escudo a antepor-se à força de Maranhão. Não era. Não era só isso. A campanha, em especial, no segundo turno revelou o gestor austero, sisudo, mas bem avaliado pelos pessoenses em função de obras e serviços e pela maneira de fazê-los. A reação era surpreendente: e esse mago fez tudo isso em cinco anos? Eis aí o capital de Ricardo, mostrado com mais clareza no segundo turno, e já expresso em votos, após o empurrão que Cássio lhe deu, em meio à angústia de uma candidatura sub judice.
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