Réveillon com Jackson do Pandeiro
Por Francisco Cartaxo
Ouvir Jackson do Pandeiro em pleno réveillon? Ninguém entendeu. Nem os amigos, a mulher, os filhos, ninguém entendeu. O velho pirou, deve ter pensado minha filha adolescente. Fazer o quê? Sem mais nem menos, invadiu-me uma vontade irresistível de escutar o baião que fala no “Cabo Tenório, o maior inspetor de quarteirão”.
Jackson, aliás, José Gomes Filho, saiu de Alagoa Grande para Campina, daí para o Recife e, depois, Rio. Trajetória de dificuldades e sucesso. Que nem Lula, o cara 2009. Barack Obama foi uma promessa. Só isso. Mais 30 mil soldados no Afeganistão, a ilusão rapidamente desfeita. Restou-lhe o irresponsável Prêmio Nobel da Paz, verdadeiro “troféu baba-ovo”. Lula, sim, é o cara, badalado no mundo inteiro. E fez por merecer? Fez: democrata, rejeitou o terceiro mandato; trouxe os pobres para o mercado, driblando a crise importada; impôs-se lá fora, olho no olho, sem medo. Mas, é bom lembrar que Lula se estriba em reservas enormes de água, de gás e petróleo na camada pré-sal, na diversidade agrícola e em fontes renováveis de energia. Tudo isso junto faz a diferença. O Brasil do século 21 produziu o cara, forjado na migração do pau-de-arara e no sindicalismo industrial do ABC paulista.
E a Paraíba 2009? Chegou com a volta de Zé ao governo. Mais forte do que nunca. Presente em todos os lugares. A caneta e o avião. Símbolos do poder. Quem sabe, para provar que o velho… é o velho. Mesmos métodos. Processos da idade do ronca. A Paraíba estigmatizada pela voragem de grupos políticos a entreter a população com falsos dilemas. Três milhões e meio de habitantes induzidos a desafios de meia-tigela. De janeiro a dezembro. Quem fez o melhor réveillon?
Quando Jackson do Pandeiro gravou, pela primeira vez, Cabo Tenório (1.954), a emulação se revestia de salutares tons progressistas. Campina Grande era rival de João Pessoa na economia, na política, no ensino, na cultura. Décadas seguidas, os investimentos públicos eram em dose dupla. Duas centrais de abastecimento. Ernani Sátyro construiu dois estádios de futebol. Sem reclamar, Ivan Bichara pagou as duas contas. Antes, tínhamos orgulho de nossas duas capitais, a econômica, Campina Grande – a maior cidade do interior nordestino, pulmão do estado, centro de ensino reconhecido além fronteiras, povo dinâmico, aguerrido, lutador, pioneiro, criativo. Os sertanejos das Espinharas, do Piancó, do Piranhas, do Rio do Peixe, sem falar das gentes do cariri, brejo e curimataú, todos nós enfim, paraibanos, enchíamos o peito de vaidade. E orgulho da rivalidade de antigamente.
E hoje? Hoje, em novo endereço, a emulação apequenou-se. Reduziu-se à orla da capital, a um bairro, um trecho. Um quarteirão. Pior, virou disputa da época em que adversário era inimigo. Não freqüentava o mesmo o clube social. Nem na calçada passava. Não dava um bom-dia. Nem desejava feliz ano-novo. A Paraíba amesquinhou-se no disfarce da boa música cubana e no rebolado sensual do Norte. Encolheu-se até à dimensão do quarteirão. Talvez por isso, o inconsciente me tenha levado à crônica musicada de Rosil Cavalcanti, imortalizada na voz de Jackson do Pandeiro, aquele cara que fez do “Cabo Tenório, o maior inspetor do quarteirão”.
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