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Francisco Cartaxo

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Rodrigo Maia enquadrou o general

11/11/2019 às 08h13

Coluna de Francisco Inácio Pita

A mediocridade política no Brasil é tão alarmante que tem dado margem ao surgimento de líderes sem fortes credenciais. Talvez seja esse o caso de Rodrigo Maia. Ele começa a cavalgar com razoável desenvoltura na cena política brasileira, escanchado na presidência da Câmara dos Deputados. Esta semana, Rodrigo Maia foi muito paparicado, aqui no Recife, recebeu aplausos de gregos e troianos. Um colunista chegou a alçá-lo à condição de estadista, não pela liderança, mas pela sobriedade em tempos políticos cada vez mais estranhos. Pode não ser um grande articulador, mas inspira confiança. Pode não ser um grande líder, mas passa sensatez.

Duas coisas atraíram minha atenção na passagem de Rodrigo Maia em Pernambuco. O realce que deu a sua origem nordestina e a reprimenda no general Augusto Heleno. A raiz paraibana, ele já ressaltara de outras vezes, inclusive indo a Catolé do Rocha, terra de seus ancestrais, cuja figura mais expressiva na política nacional foi, sem dúvida, João Agripino. Líder afirmativo, corajoso, sertanejo valente e, a sua maneira, ligado ao povo miúdo, com quem fazia questão de dialogar, com um jeito entre manso e destemido. Rodrigo Maia está mais para Agripino do que para César Maia, seu irrequieto pai, ex-prefeito do Rio de Janeiro. Os Maia, que nós conhecemos aqui no Nordeste, são frios, secos, calculistas, cheios de artimanhas na circulação em torno do poder.

Falta revelar o DNA mais antigo dos Maia.

Um traço genealógico na história do deputado Rodrigo Maia. Lá atrás, no século XIX, talvez esteja a marca mais profunda, a raiz forte da numerosa gente que carrega Maia e Mariz no nome. Personagens espalhados até os dias atuais na Paraíba, no Rio Grande do Norte, no Rio de Janeiro. Cinco governadores, centenas de senadores e deputados. Que raiz seria essa? Um padre. O padre José Antônio Marques da Silva Guimarães (1806-1888). Vigário da cidade de Sousa, deputado provincial na Paraíba, em quatro legislaturas. Pai de muitos filhos, 15 dos quais ele mesmo arrolou, quando tinha 55 anos de idade, em manuscrito com este título: Lembranças do Natalício de meus Filhos, onde indica o nome da mãe, local e data do nascimento de cada um. Emmanoel Rocha Carvalho, um orgulhoso descendente do padre, tornou público o original inventário, 145 anos depois! E fala da coragem inabalável do sacerdote Marques, que era respeitado, ouvido e clamado como homem desassombrado, que chegava a levar a mulher e os filhos para as grandes cerimônias religiosas. Já um neto, o notável escritor Celso Mariz, também exalta o avô padre: dono de grandes terras e gados, chefe político desabusado, senhor de sua consciência e de sua vontade.

Essa herança de coragem deixa Rodrigo Maia à vontade para dar um puxão de orelha no general Augusto Heleno, por endossar a heresia antidemocrática do deputado Eduardo Bolsonaro, ao invocar o grave momento vivido pelo Chile, para defender o uso do AI-5 no Brasil! Maia, que nasceu no Chile, para onde seu pai fora enxotado pelo golpe de 1964, não perdoou o general. Rebaixou-o à condição de auxiliar do radicalismo do Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo. Guru oco. E lamenta que um general de qualidade tenha caminhado nessa linha e criticado o parlamento, como se o parlamento fosse um problema para o Brasil.

Rodrigo Maia enquadrou o general, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional do governo de Jair. O padre Marques riu à beça!

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

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