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Maria do Carmo

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Síntese do amor

27/12/2023 às 19h55

Coluna de Maria do Carmo - imagem ilustrativa/reprodução/internet

Por Maria do Carmo – A palavra amor de um formato restrito, escrita com quatro letras é um substantivo abstrato de um leque extenso de significações através das adjetivações,  expressões contidas nos dicionários e vários conceitos na visão das ciências humanas e religiões. O amor promove o aumento das capacidades: biológica, psicológica, social, espiritual e relacionamento sensual afetivo dos seres humanos. É um sentimento profundo, estável cultivado no campo do pensamento e exteriorizado pelas emoções, se assim o fosse encarado, as relações humanas seriam mais fraternas.

Etimologicamente a palavra “amor” surgiu do Latim (amore o mesmo significado de atualmente): sentimento de afeição, paixão, vínculo emocional de extrema dedicação e bem querer ou o desejo do bem a alguém. Amor é sinônimo de atração, inclinação, misericórdia, adoração, apetite, satisfação, conquista, libido, simpatia, afinidade, apreço, excitação, flama: se configurando assim um sentimento de suma importância e indispensável para os seres que amam.

A descrição sobre o amor teve início na civilização antiga quando profetas, evangelistas, filósofos defendiam o amor inclusive a linha cristã pregada pelo “Mestre Jesus”. Conforme as ideias de Platão o “amor deve dirigir a vida de todos os homens que quiserem viver sobriamente, é também responsável por algo que nem a riqueza, nem as honras, nem a estirpe pode incutir tão bem”. Para Platão o amor é desejo e inspiração no sentido de alcançar o bem, transformando o abstrato em concretude através das atitudes amorosas com os amigos, os pais, à pessoa amada, os animais, as plantas e principalmente com Deus, neste entendimento, o amor constitui a mola-mestra da humanidade independente da materialização.

Adianta Platão que o amor entre duas pessoas é a capacidade de ver a beleza em algo que pode parecer feio para outros, gerando o desejo sexual de um corpo para procriar e inconscientemente é a tentativa da matéria de se eternizar. Por outro lado, o amor platônico é idealizado, irreal, fantasioso, é um amor difícil não correspondido, é algo puro desprovido de paixão ao passo que a mesma é cega, material e passageira.  Consubstanciado por Sócrates, o “amor platônico” é o nexo de união que a humanidade chama “perfeito, divino” ele serve de conexão e comunicação em preencher o vazio que existe entre o visível e o invisível; é o que a Filosofia Internacional entende como o amor espiritual, o amor fraterno, o amor impossível.

No pensamento de Sócrates o amor é o processo de busca da beleza, sabedoria e virtude, é uma forma de elevar-se ao grande conhecimento e compreensão para alcançar a verdadeira felicidade e realização. Sócrates ainda adianta “que se ama aquilo que não se tem, ou seja, o objeto do amor está ausente, mas sempre solicitado quando se refere à verdade. Para Aristóteles o amor é vinculado a ideia de alegria, “amar alguém é sentir-se alegre com quem divide a vida e os sentimentos, só existe amor quando faz o outro feliz”. Numa definição universal, o amor aristotélico “é um sentimento dos seres imperfeitos, posto que a função do amor é levar os seres humanos à perfeição”.

As raízes dos estudos sobre o amor se encontram na filosofia da cultura greco-romana e cultura cristã as quais registram definições independentes sobre o amor. Se delineia a partir da posição de Platão sobre o “amor Eros” na qual é descrita o amor ligado a ideia do desejo por algo ou alguém que desaparece quando satisfeito; sendo o desejo é concretizado, o amor deixa de existir. O “amor Eros” é a atração física expressa entre o homem e a mulher; neste amor há paixão, romantismo, desejo passional e sexual. O amor Eros pode aparecer em outro contexto, no sentido do prazer, do deleite e satisfação não necessariamente ligada à sensualidade; é também um amor condicional porque exige sempre algo em troca para a existência deste amor.

O “amor Philo” determinado por Aristóteles é o amor vinculado a ideia de alegria, “amar alguém é sentir-se alegre com a pessoa que divide a vida e os sentimentos”, é uma forma de amor espiritual. O “amor Philo” é um sentimento profundo de quem ama, há uma ideia de parceria, companheirismo, simpatia natural, profunda amizade, carinho e empolgação no relacionamento de afeição entre os entes queridos. Na tese cristã existe a denominação do “amor Ágape” caracterizado pela afinidade às ideias espirituais, é idealizado pela renúncia, é ter atitude de amar alguém sem esperar nada em troca. O amor Ágape é o tipo de amor que Deus tem pelos seus filhos; uma forma de amor sublime e divino, é o amor incondicional: o amor de Deus e o amor ao próximo mesmo que esse próximo seja nosso inimigo.

Na visão filosófica o “amor incondicional” é pleno, completo e absoluto, é o amor altruísta, infinito e verdadeiro; assim também é o amor fraternal que leva o indivíduo a fazer sacrifício em benefício do outro, gerando uma energia positiva e construtiva na dedicação absoluta de fazer o bem. Este sentimento valoriza a confiança mútua e o entrosamento entre as pessoas independentemente da existência ou não de laços sanguíneos é também o profundo compromisso, no aspecto religioso ou patriótico. Uma passagem bíblica ilustra o sentido do amor Ágape e incondicional em: Coríntios 14: 4-7 “o amor é paciente, o amor é bondoso, não inveja, não se vangloria, não se orgulha, não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor, não se alegra com as injustiças, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.

Na ciência da Psicologia Freud indica que o amor é um estado em que o sujeito atinge quando se sente igual a outra pessoa por quem se apaixona, em demasia escraviza, adoece; para o filósofo o amor não se constitui uma pulsão componente da sexualidade, mas faz parte da organização sexual como um todo. Na vertente psicanalítica, Lacan defende o amor como uma ação de querer bem a alguém é também uma falta constante que busca a completude do amor perdido desejando sempre reencontrá-lo, mas só permanece enquanto falta. Alguns estudiosos da Psicologia contemporânea concordam que aprender a amar seria o mesmo procedimento para aprender qualquer outra arte; enquanto outros relatam que existe uma omissão científica sobre o tema, no entanto a Biologia defende que o amor possui mecanismo determinado pelo sistema líbico, centro das emoções, presente somente nos mamíferos e talvez nas aves.

O amor é a verdade, o bem e a beleza, manifestações de uma única realidade suprema, o próprio Deus; o amor é o intermediário entre o sensível e o inteligível, entre o humano e o divino. Em outras palavras o amor é a libertação do egoísmo é a felicidade de tornar o outro feliz; enfim, o amor é um agente de transformação e ordenação do mundo. Divaldo Franco enfatiza que “o amor, sim, é a Lei da Vida trabalhando o indivíduo para o desdobramento e conscientização dos valores que nele jazem em germe”.

Professora Maria do Carmo de Santana

Cajazeiras, 27 de Dezembro de 2023


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Maria do Carmo

Maria do Carmo

Professora da Rede Estadual de Ensino em Cajazeiras. Licenciatura em Letras pela UFCG CAMPUS Cajazeiras e pós-graduação em psicopedagogia pela FIP.

Contato: [email protected]

Maria do Carmo

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Professora da Rede Estadual de Ensino em Cajazeiras. Licenciatura em Letras pela UFCG CAMPUS Cajazeiras e pós-graduação em psicopedagogia pela FIP.

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