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Edivan Rodrigues

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Terezinha Cartaxo Ponte

06/10/2009 às 08h55

Por Francisco Cartaxo

A imagem que todos na família guardamos dela é de alegria. Difícil era ver Teca de mal humor. Preocupada e triste, sim. Nesses momentos adversos, interpostos em sua trajetória de filha, irmã, esposa, mãe, nora e avó, ela reunia forças para enfrentá-los. Sempre. E foram muitas as provações sofridas em quase 75 anos de vida e 54 de casada. Com o mesmo homem. Coisa rara.

Terminado o curso pedagógico no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, em Cajazeiras, em 1954, não teve tempo sequer de continuar os estudos. Paulo Ferreira Ponte, que a conhecera em férias na cidade cearense de Crateús, fez-lhe a corte e logo casaram. Não demorou a chegada da primeira filha num mês de janeiro e, pasme o leitor, em dezembro do mesmo ano, nasceram mais dois numa só fornada.

Os gêmeos tinham enorme semelhança. Quando bebês, a mãe colocava uma fita azul no braço de um para não dar duas mamadas ao mesmo que, às vezes, chorava de barriga cheia, enquanto o outro berrava com fome… Os gêmeos fizeram muito sucesso nas festas do Tênis Clube, em namoros adolescentes, confundindo as garotas, enganando-as, um se dizendo o outro, e tome beijos e abraços… Teca costumava narrar esses fatos, rindo à beça.

Recordo essas coisas para fixar a imagem de alto astral que ela irradiava. Certa vez, sentada no terraço do casarão onde nascemos em Cajazeiras, Teca espargia sonhos de menina-moça, desfiando-os um a um, tendo como mote seu deseja de casar com fazendeiro rico, antevendo-se a cuidar de leite e queijo e manteiga, ao som do mugido de vacas espalhadas no pasto ao redor da casa grande, cercada de filhos e filhas, aos quais, em seu devaneio, se dirigia, mais ou menos assim: menina, traz água fria pra eu beber, Toinho, cadê o saco de milho verde, venha ajudar a tirar a palha, seu preguiçoso, olha aqui, Zefinha, cuide logo de debulhar o feijão, mas primeiro espante a galinha de pinto que não suporto esse piado no meu ouvido… E ia descrevendo aquilo que seria a rotina de uma fazendeira na época do inverno.

Na vida real foi diferente. Mas guardo essa imagem simbólica de minha irmã Terezinha Cartaxo Ponte. O escolhido não foi um proprietário rural, mas um comerciante. Teve uma filha, cinco filhos e nove netos. Dissabores e alegrias, comuns às famílias numerosas, marcaram sua vida. Algumas situações a abalaram muito. A perda do filho mais novo, assassinado misteriosamente, por exemplo, já a encontrou com o organismo debilitado pela doença fatal, instalada, então, havia sete anos.

Dos doze filhos de Cristiano e Isabel Cartaxo, seis mulheres e seis homens, talvez tenha sido Teca a pessoa que mais foi submetida a provas de resistência física e emocional. A tudo resistiu, com muita coragem, férrea vontade de viver e fé inabalável. Chegou ao limite. O câncer a corroeu, aos poucos, nos dez últimos anos. Dias antes de internar-se na UTI, já muito magra, prevendo o fim próximo, disse: não quero que Frassales me veja desse jeito. Talvez porque lembrava de minha primeira esposa, também tragada pelo mesmo mal, 25 anos atrás, deixando a mim a tarefa de cuidar de três filhos pré-adolescentes. Sem ela me ajudando a criá-los, meus filhos com Helena não seriam o que são hoje. Eterna gratidão, Teca, em seu eterno descanso.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

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Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

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