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Radomécio Leite

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Trem fora dos trilhos

01/08/2008 às 06h33

Há muitos anos que não via um trem, quando de repente ao cruzar os trilhos da velha linha de ferro que corta a estrada estadual que interliga os municípios de São João do Rio do Peixe a Cajazeiras, parei meu automóvel e desci. E como uma criança embevecida e surpresa diante de seu primeiro brinquedo fiquei admirando a passagem de duas potentes locomotivas que puxavam um grande número de vagões. O trem vinha de Fortaleza com destino, quem sabe, para a cidade do Recife. Que alegria imensa eu senti. Fato que até hoje não tenho explicação para tão forte emoção.

Aquela imagem continua gravada na minha memória e sempre penso qual foi o tamanho da alegria que o povo de Cajazeiras não sentiu nos idos de 1922, ano do centenário da Independência do Brasil, no dia 14 de novembro, às vésperas do término do mandato do paraibano Epitácio Pessoa como presidente da República, que presenteou esta região com a linha do trem, cuja inauguração festiva foi realizada no dia 05 de agosto de 1923, portanto há 85 anos.

A cidade de Cajazeiras teve seu trem, o transporte, na época, dos pobres e dos ricos até o ano de 1964, que por um ato insensato e ditatorial dos que fizeram a Revolução de 1964, fez cessar. A velha locomotiva já não bufava e soltava fumaça pelas ventas ao subir a Serra da Arara para chegar até a Estação, em Cajazeiras, com seu apito que varava as ruas, becos e vielas da cidade.

A retirada do trem da linha São João – Cajazeiras, segundo o professor Antonio José de Sousa “caiu sobre esta cidade como uma chuva de granizo jogado violentamente das alturas dos céus nas noites tempestuosas de inverno. Cajazeiras ficou atônita. O seu povo se julgou humilhado, desprestigiado, completamente desnorteado, sem atinar a causa que motivou esta desgraça para a nossa terra”.

Vários protestos foram feitos, um deles em plena madrugada, quando Itamar Lavor saiu com um carro de som acordando todo o povo da cidade para denunciar e comunicar que os trilhos do trem estavam sendo arrancados e que o povo não podia aceitar ofato de braços cruzados. Monsenhor Vicente Freitas também enfrentou um movimento junto às autoridades da Revolução, mas tudo em vão.

Ao arrancar os trilhos, com eles se foram as nossas esperanças, as nossas ilusões e sobraram as decepções e as maravilhosas lembranças do apito do trem que trazia as nossas mercadorias e transportava as nossas riquezas, além claro das cartas de nossos entes queridos que residiam nas paragens cearenses, paraibanas e pernambucanas.

Hoje sonhamos novamente com a volta do trem. No Sertão do Ceará, bem pertinho de nós, o governo federal iniciou a construção da Ferrovia Transnordestina, uma idéia surgida durante o Império pelo grande brasileiro Barão de Mauá, que vai ligar a cidade de Eliseu Martins no Piauí aos portos de Pecém (CE) e Suape (PE), um projeto de R$4,5 bilhões. O Presidente Lula esteve na cidade de Missão Velha, no Cariri, onde celebrou o inicio da Ferrovia, mas o único trecho em obras, até o momento, é de Missão Velha a Salgueiro (PE), depois de dois anos da visita do presidente. As obras estão esbarrando na burocracia.

Acionar um modal importante, que é o ferroviário, para baratear os custos de produção continua andando a passos de cágado e o sistema ferroviário sendo tão importante para este país continental continua bloqueado por interesses escusos das empresas automotivas, de lobbies de políticos e empresários ligados ao petróleo, de empresas de ônibus urbanos e de viação de longa distância, de administradores rodoviários que faturam fortunas com pedágios e de políticos que preferem as BRs e viadutos onde é mais “fácil” abocanhar as percentagens, além da indústria automobilística que deseja a cada dia aumentar o seu faturamento. Todas estas “pragas” vão de encontro aos anseios dos cidadãos legitimamente interessados em ver a expansão do sistema ferroviário nacional.

Em Cajazeiras tem um “punhado” de homens que sonham que Cajazeiras se interligará a Ferrovia Transnordestina, um dia, quem sabe!


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Radomécio Leite

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Contato: [email protected]

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