header top bar

Francisco Cartaxo

section content

Vem aí a grande seca?

06/10/2023 às 19h53

Coluna de Francisco Frassales Cartaxo - imagem ilustrativa - reprodução/internet

Por Francisco Frassales Cartaxo – O calor aqui está de fritar ovo no asfalto, respondeu Chagas Amaro, quando lhe perguntei como vão as coisas em Cajazeiras. Todas as informações que recebo de lá e de outros lugares convergem para uma quentura jamais sentida. Mesmo recorrente nos meses do b-r-o-bro, em 2023 ultrapassa a barreira do suportável. Aqui e no mundão de Deus.

Quando menino, ouvia os adultos sentenciarem: enchente no Sul é sinal de seca no Norte. A experiência levava homens sisudos a conclusões, hoje, explicadas pela ciência, mercê do uso de sofisticados recursos tecnológicos na análise de fenômenos universais, ligados a variações da temperatura nos oceanos e seus reflexos nas correntes atmosféricas. No caso da costa equatorial do Pacífico, quando o calor vence certos limites, o El Niño irradia efeitos catastróficos em grande parte do Planeta.

Chocam as imagens na TV de bancos de areia, dezenas de botos mortos, barcos encalhados, onde, antes, eram caudalosos rios amazônicos. Em contraste, exibem cenas de cidades e plantações inundadas no outro extremo do Brasil.

Rumino a longínqua voz de meu pai, em conversa com Zé Bento, no terraço da velha casa do sítio Prensa, onde padre Rolim casou meu avô Higino com Mãe Nanzinha.

– Compadre, vamos ter um ano de seca, os jornais falam em fortes enchentes no Sul.

Os jornais eram O Nordeste, que o trem da RVC trazia de Fortaleza primeiro do que A Imprensa, de João Pessoa, os trilhos paraibanos assentados em ritmo de cágado até chegar a Cajazeiras. O velho Zé Bento, suponho, encontraria na feira do sábado um poeta popular, cercado de ouvidos atentos, a derramar temerosas previsões. Compraria o folheto, que sua filha Laurinda, mais tarde, leria em voz alta, à luz do candeeiro.

Logo vinham as promessas. Cada um agarrado a seu santo de confiança. Eu mesmo segurei vela em procissão implorando chuva.

O calor d’agora prenuncia a grande seca deste século?

Seca pior do que à de 1932, pode-se prever diante dos sinais da natureza, confirmados pelos cientistas. Se assim for, encontrará, porém, nosso sertão preparado. Jamais ocorreria o desastre de 32. Ou de1958, quando o menino Chagas Amaro, levado pelo pai, cassaco nas obras de emergência, lia folhetos de cordel para homens rústicos que lutavam pela sobrevivência. Mãos afeitas à enxada, aos 10 anos, com muito esforço Chagas aprendeu a ser homem. Respeitado. Radialista sério, professor universitário, vereador atuante. Membro da Academia Cajazeirense de Artes e Letras, merece ser tratado com dignidade.

Presidente da Academia Cajazeirense de Artes e Letras.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim foi secretário de planejamento do governo de Ivan Bichara, secretário-adjunto da fazenda de Pernambuco – governo de Miguel Arraes. É escritor, filiado à UBE/PE e membro-fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras – ACAL. Autor de, entre outros livros, Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero.

Contato: [email protected]

Recomendado pelo Google: