Você faz tempestade em copo d’água?

Em uma das cenas do espetáculo “Cócegas”, a atriz Ingrid Guimarães interpreta a modelo Leandra Borges. Caricata e divertida, a personagem comenta uma das suas leituras de um modo engraçado: – Você já leu “Não faça tempestade em copo d’água”? É superinteressante. Não fazer tempestade em copo d’água no trabalho: é super interessante. Não fazer tempestade em copo d’água na família: é super interessante. Não fazer tempestade em copo d’água sendo negro, judeu e homossexual: é super confunso.

Vivemos em uma época que a água já transbordou do copo. São hostilizações gratuitas, ora argumentadas pelo viés religioso (passagens da bíblia que definem o homossexual como pecador, a mulher como gênero secundário e submisso), ora argumentas pelo direito à liberdade de expressão (falar o que bem entender, seja incitação ao ódio, comentários pérfidos, sem levar em conta a dignidade da pessoa humana). 

Em contrapartida, há um movimento do “politicamente correto”, no qual alguns estudiosos vêm considerar a obra de Monteiro Lobato preconceituosa por descrever Tia Nastácia como negra dos beiços grandes. Cabe, mesmo, apresentá-la como afrodescendente dos lábios volumosos? Apenas isto redimiria anos de história da discriminação racial? Os humoristas também são acusados a todo o momento, não se pode mais rir, tudo se torna motivo de um processo judicial.

E agora, quem poderá nos socorrer? Que ânimos são estes aflorados e que não buscam um mínimo possível de equilíbrio? Que procuras incessantes são estas por certezas e verdades? Já classificara-nos como a única espécie humana que pensa e age criticamente: que tal agirmos de uma forma coerente? Generalizações afiguram um passo para fanatismos e um circo de horrores. Temos que ter consciência das situações, refletir, antes de jogar pedras. Ouvir mais, falar menos. 

Não façamos tempestade em copo d’água devido nosso orgulho. Desperdiçar água é crime, ainda mais quando podemos despoluir com o espírito da reciprocidade e compreensão. 

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Abraão Vitoriano

Formado em Letras e Pedagogia. Pós-graduado em Educação. Escritor. Poeta. Revisor de textos. Professor na Faculdade São Francisco da Paraíba e na Escola M. E. I. E. F Augusto Bernadino de Sousa.

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