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‘Dizer peleumonia não desmerece ninguém’, diz médico. Após repercussão, ele conta ter sido demitido de todos os seus empregos

Médico conta que brincadeira infeliz não foi endereçada a nenhum paciente.

Por Campelo Sousa

31/07/2016 às 12h54

No receituário do hospital, o deboche com a forma de falar de um paciente (Foto: Reprodução/internet)

O médico Guilherme Capel, que publicou foto brincando com a maneira de falar do pacientes do Hospital Santa Rosa de Lima, em Serra Negra (SP), contou ao G1 ter perdido todos os seus empregos. No vídeo, ele dá sua versão para o que aconteceu na tarde de quarta-feira (27), quando foi fotografado segurando o receituário médico com o seguinte dizer: “Não existe peleumonia e nem raôxis”.

Naquele dia, ele conta ter atendido, em média, 100 pacientes e diz que, no momento da foto, estava em horário de descanso, fazendo uma brincadeira para aliviar o estresse.
“Eu praticamente moro em hospitais e não dá para ficar falando o tempo todo de doença, de tristeza, é preciso dar risada. Talvez hajam brincadeiras melhores, mas eu nunca debocharia de um paciente, não é do meu caráter, não é da minha crença”, diz Guilherme.

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Apuração
Recém-formado, ele pede que o Ministério Público ou outro órgão apure os fatos para comprovar que ele não tinha a intenção de debochar de algum paciente específico.

“Foi uma postagem, uma brincadeira, talvez infeliz. Eu disse que não se fala peleumonia, nem raiôxis. Sem falso moralismo, atire a primeira pedra quem nunca errou. No dia seguinte foi realizada uma denúncia num blog de grande circulação de Serra Negra. Dizendo que havia um paciente com pneumonia e ele falava dessa forma, que era um paciente simples, que eu ri na cara dele, que eu debochei dele. Essa é a maior mentira que já disseram sobre mim”, afirma Guilherme.

O médico conta ter estudado com bolsa durante o ensino médio e no cursinho para o vestibular e que também estudou em universidade pública e sabe o “que não é ter dinheiro para tudo”.
No vídeo, Guilherme relatar ter ficado indignado quando soube que sua foto havia se tornado viral e que o condenaram por algo que ele não fez.

“Foi pintada a imagem de um Dr. Guilherme que não existe, uma pessoa que eu condeno, uma pessoa má, uma pessoa que olha as pessoas por cima. Eu não sou assim, eu não sou essa pessoa”.

Preconceito
Ao fim do vídeo, o médico volta a reforçar que não endereçou a brincadeira a um paciente específico e dá um último recado ao Brasil.

“Dizer peleumonia, raôxis não desmerece ninguém. Português varia de acordo com o contexto social. Repito, foi uma brincadeira infeliz, não endereçada a ninguém, a nenhum paciente. Criaram um personagem que não existe. Quero dar um último recado para o Brasil. Quero sim que vocês odeiem sim o preconceito, quero que vocês odeiem pessoas que diminuam o próximo, mas não me odeiem porque esse, não sou eu”.

Contato telefônico
Neste sábado (30), o médico tentou entrar em contato telefônico com o mecânico José Mauro de Oliveira Lima, paciente que se sentiu ofendido com a postagem. Como ele não atendeu ao telefone, enviou uma mensagem. No texto, encaminhado em cópia para o G1, ele conta que seu sogro, Laércio, também é mecânico e reforça não ter tido a intenção de ofendê-lo.

“O senhor foi símbolo nacional dessas pessoas que se ofenderam, mas não era ao senhor a mensagem. Sou uma pessoa de bem assim como eu tenho certeza que o senhor também deve ser. Apesar de não ter feito a postagem direcionada ao senhor e a nenhum outro paciente, devo desculpas se também foi um dos ofendidos com a brincadeira que alertava sobre o uso correto do nosso idioma. Nem sempre somos felizes na brincadeira que fazemos”, diz parte do texto.

Sindicância
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) abriu uma sindicância para para apurar a atitude do médico. O processo pode levar de seis meses a dois anos para ser concluído.
O primeiro passo da sindicância é averiguar os fatos denunciados, coletar provas (prontuários, receitas, laudos e outros documentos), uma manifestação escrita e, sempre que necessária, audiência com os envolvidos.

Se forem constatados indícios de infração ética, que consiste no descumprimento de algum artigo do Código de Ética Médica, passa-se à segunda fase: a instauração do processo ético-profissional. Sem indícios, a denúncia é arquivada.

Ao ser considerado culpado, o profissional poderá receber uma das cinco penas disciplinares aplicáveis, previstas em Lei, pela ordem de gravidade:
A pena A prevê uma advertência confidencial em aviso reservado; a pena B, censura confidencial em aviso reservado; a C censura pública em publicação oficial; a pena D, suspensão do exercício profissional por até 30 dias e a pena E prevê a cassação do exercício profissional.

G1

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