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VÍDEO: Com obras da Transposição, casas são demolidas e moradores lembram momentos na zona rural de Cachoeira

Os momentos vividos, os almoços, os encontros em família, os balanços de rede, as conversas, os risos e todos que passaram por lá, hoje, são apenas lembranças

Por Priscila Tavares

22/07/2023 às 09h05 • atualizado em 22/07/2023 às 09h23

Com as obras da transposição do Rio São Francisco, as casas nos sítios Redondo e Lages na Zona Rural de Cachoeira dos Índios estão sendo demolidas e moradores relembram últimos momentos em suas residências.

A reportagem da TV Diário do Sertão foi até o local nesta sexta-feira (21) para acompanhar o processo de demolição das casas para dar lugar a Barragem do Tambor.

O funcionário público Mário Alves, proprietário de uma chácara no sítio, explicou o processo que as famílias estão vivenciando.

“Quase 90% das casas já foram demolidas e a gente está só aguardando agora a minha ser demolida. Nós estamos fazendo agora as últimas imagens da minha casa”, disse seu Mário.

Mário Alves nos escombros de sua antiga residência (Foto: TVDS)

Petson Santos é filho de Mário, tem 44 anos e foi até sua antiga residência mostrar onde viveu durante sua infância. O lar, que foi moradia para a família de sua madrinha, depois foi comprada pelos seus pais, Mário e Marlene Santos. Ele conta que foi um lugar onde criou muitas memórias e percorreu o caminho ao qual fez, por diversas vezes, durante sua vida e que em breve não existirá mais.

“A gente fez muitas vezes esse caminho, que era o caminho para casa de vovó. Me recordo muito bem, com meus 5, 10 anos de idade, a gente caminhava muito por aqui”, disse Petson.

Petson Santos e Mário Alves no caminho em que percorriam na infância (Foto: Reprodução/ TVDS)

Com saudosa lembrança, seu Mário relembrou dos familiares e amigos que moravam na região. Ele informa que, todos os moradores daquela comunidade tiveram que migrar para os sítios e a própria cidade de Cachoeira dos Índios com a chegada das obras do São Francisco.

Após alguns minutos de caminhada, chegaram a casa de dona Priscila, avó de Petson e ambos se emocionaram ao ver tudo demolido.

“É uma tristeza muito grande. Eu vi na reportagem que Elmo fez, de várias pessoas que choraram. Vê essa casa já demolida, esse torrão sendo ultrapassado, claro que para vir o progresso, está vindo a água do Rio São Francisco, vai ser bom para toda nossa região, mas a gente fica entristecido porque vamos guardar só na memória um local como esse”, disse.

Petson nas ruinas da casa de sua avó (Foto: Reprodução/ TVDS)

Ele contou sobre suas memórias na casa da avó, de quando ia para mostrar suas conquistas, das férias e finais de semanas. A casa que um dia abrigou famílias inteiras hoje são só ruínas. Petson mostrou a cozinha onde sua avó cozinhou muito feijão, muita galinha para família, o lugar onde armava sua rede, o quarto em que tomavam banho e muitos outros lugares que geraram as suas melhores lembranças.

Seu Mário destacou que a casa, onde viveu dona Priscila, devia ter mais de 100 anos e que foi uma das primeiras a ser construída na comunidade.

Ao falar da avó, Petson contou que era era uma mulher guerreira, à frente de seu tempo, uma referência na região e que sua casa sempre recebeu muita gente.

Casa de Dona Priscila, no sítio Redondo (Foto: TVDS)

“Minha avó recebia muita gente aqui. Os romeiros, as pessoas que passavam por aqui e que não tinham onde ficar. Eu me lembro que alimentava o pessoal, de muito trabalhador comendo na bacia, um ‘rubacãozão’ com ovo, tripa de porco”, relembrou.

Os momentos vividos naquela casa, os almoços, os encontros em família, os balanços de rede, as conversas, os risos e todos que passaram por lá, hoje, são apenas lembranças.

“Já demoliram. Não tem mais nada aí, já está só as paredes”.

A OBRA E O PROJETO

Na zona rural de Cachoeira dos Índios, cerca de 60 famílias tiveram que deixar seus lares para possibilitar a execução plena da obra de construção do açude Tambor, que será abastecimento pelo ramal do Apodi. Ao todo, este trecho da transposição vai beneficiar cerca de 750 mil pessoas em 54 cidades do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.

O ramal do Apodi vai levar as águas do Eixo Norte a 54 municípios através da estrutura de controle do Reservatório de Caiçara, na Paraíba, até o Reservatório Angicos, no Rio Grande do Norte, em uma extensão total de 115 quilômetros. O investimento federal na obra é de cerca de R$ 1,5 bilhão.

A obra do Ramal do Apodi foi iniciada em junho de 2021, após decisão do Governo Federal de retomar as estruturas previstas no projeto original da transposição do Rio São Francisco, que incluem ainda os ramais do Agreste, em Pernambuco, já concluído, e do Salgado, no Ceará, cujas obras estão sendo licitadas. Operários seguem trabalhando na construção do reservatório Tambor, em Cachoeira dos Índios. E assim, a cada pá de terra, a cada aqueduto que se levanta, a paisagem vai se transformando.

DIÁRIO DO SERTÃO

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