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Desejos Natalinos

José Amaro Neto escreve um conto de Natal. Confira!

Por

16/12/2009 às 18h30

Por José Amaro Neto

O relógio marcava três horas e trinta minutos no dia da véspera de natal, quando o último nó da corda estava pronto na viga do teto da sala. Aprontou tudo direitinho: Bilhete em cima do centro entre os dois sofás, a casa bem limpa e arrumada, o terno impecável com cuidado de combinar a gravata com o lenço no bolso esquerda do futuro traje funerário. Faltavam-lhe apenas os últimos desejos mundanos: Nada de sexo, bebida ou cigarro cujo cheiro era detestável e lhe causava enjôo, mas uma deliciosa barra de chocolate. Será que no além existiria uma manjar tão saboroso, tão prazeroso como estes tijolinhos comestíveis marrons? Uma ponta de arrependimento martelava dentro de sua cabeça.

Terminado sua última refeição, suspirou e encarou a forca. Pra que viver num mundo hipócrita que lhe proporcionou dissabores, infelicidade e as mais profundas dores da alma? Não podia hesitar, era homem suficiente para encarar o seu fado: Pôs a corda no pescoço subiu no mesmo centro onde deixara o bilhete. – Deve ser fácil, o pescoço quebra e pronto!Prático e eficaz!
Com um sorriso irônico, sabe Deus o porquê pulou. A corda apertou – lhe a garganta de tal maneira que o ar dificilmente passava, e quando ele respirava fazia um barulho alto e gutural. O pescoço em breve vai quebrar!Repetia pra si mesmo na agonizante situação.

Acontece que seu desejo natalino assim como de muitas outras pessoas não veio a se realizar: O infeliz já estava a vinte e nove horas pendurado pelo pescoço, respirando mal, hora se debatendo, hora parado esperando que a gravidade o ajudasse no desfecho. Seguiu-se o decorrer da semana até o ano novo. Ainda estava lá pendura vivo, respirando, mas com algumas peculiaridades: Sua face azulada devido ao pouco ar que entrava apresentava uma careta digna de um zumbi de filme de terror, a cabeça por completa inchada devida a pressão sangüínea, os olhos querendo saltar para fora de suas órbitas o que não lhe permitiu dormi e, além disso, estava mais magro devido a falta de comida. No fim do dia, faltando quinze minutos para o reveillon, a corda não agüentou e rompeu. Estava livre daquele tormento que era pior do que a própria morte. O ano virou. Nenhuma expectativa apenas um pedido: Que no natal desse ano novo que entrou o corte nos pulsos sejam bem precisos, e que não seja como o natal retrasado quando o revólver bateu catolé.

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