VÍDEO: Ex-secretário relembra momentos marcantes com Antônio Mariz: “Exemplo de como se comporta um líder”
O jornalista Rui Leitão recordou sua convivência com Mariz, sobretudo na época em que foi secretário adjunto de Indústria, Comércio, Turismo, Ciência e Tecnologia do Estado da Paraíba
Nesta terça-feira (16), paraibanos e paraibanas prestam tributo a Antônio Marques da Silva Mariz, um dos políticos mais importantes da história do estado e do Brasil. Falecido em 16 de setembro de 1995, Mariz foi advogado, promotor de justiça e político filiado ao antão Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB – hoje o MDB). Pela Paraíba, foi governador, senador e deputado federal durante dois mandatos, além de prefeito de Sousa.
No programa Olho Vivo, da Rede Diário do Sertão, o jornalista e escritor Rui Leitão, que é membro fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal), recordou sua convivência com Antônio Mariz na época em que Leitão foi secretário adjunto de Indústria, Comércio, Turismo, Ciência e Tecnologia do Estado da Paraíba.
“Aprendi a admirar Mariz a partir das referências que eu recebia do meu pai, o historiador cajazeirense Deusdedit Leitão, que foi chefe de gabinete dele na Secretaria de Educação do Estado. Eu sempre ouvia as referências mais elogiosas a respeito de Mariz. E quando eu o conheci pessoalmente e tive a oportunidade de conviver com ele mais proximamente, eu pude atestar o quanto eram verdadeiras todas aquelas informações que meu pai me passava”.
LEIA TAMBÉM:
- VÍDEO: "Acho que é justo", diz viúva de Mariz sobre pagamento de pensão para ex-governadores e dependentes
- VÍDEO: Viúva e filhas falam sobre briga e união de Antônio Mariz com Gadelhas e lembram fatos marcantes
- VÍDEO: No dia que completa 26 anos da morte de Antonio Mariz Viúva fala de lembranças, saudades e legado
Rui Leitão relata também o período de tensão que tomou conta dos familiares e amigos quando Antônio Mariz foi diagnosticado com um câncer no pulmão que o impediu de governar a Paraíba em 1995. A morte do político, segundo Leitão, deixou a Paraíba em luto, mas estabeleceu seu legado para as próximas gerações.
Entre as atuações marcantes de Antônio Mariz na política brasileira, destacam-se, por exemplo, sua participação na Assembleia Nacional Constituinte em 1986, que encerrou o período de ditadura militar; e a sua função como relator do processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Melo na Comissão Especial do Senado Federal, em 1992.
Em 1986, Mariz foi eleito mais uma vez para a Câmara dos Deputados com 106,5 mil votos, a maior votação entre todos os candidatos da Paraíba. Ele também quebrou um recorde em Sousa, tendo sido o prefeito mais jovem do município, com 24 anos.
“Ele deu um exemplo à Paraíba de como deve se comportar um líder político, não só na sua atividade de contato com a população, mas também quanto ao exercício das funções públicas que ele ocupou”, ressalta Rui Leitão.
O jornalista publicou um texto na plaquete que registra os 30 anos de falecimento de Antônio Mariz, relatando fatos marcantes e detalhes da trajetória política do paraibano. Leia abaixo.
A HERANÇA ÉTICA E POLÍTICA DE ANTÔNIO MARIZ
Tive a honrosa oportunidade de conviver com Antônio Mariz em seus últimos anos de vida. Acompanhei de perto todo o desenrolar da campanha em que disputou a eleição para governador da Paraíba, em 1994. Na época, ocupava o cargo de chefe de gabinete do governador Cícero Lucena. Ao ser eleito, fui convidado para assumir a secretaria adjunta de Indústria, Comércio, Turismo, Ciência e Tecnologia de seu governo. Essa experiência me permitiu conhecê-lo melhor. Já o admirava pelas manifestações de meu pai, Deusdedit Leitão, que sempre ressaltava sua trajetória política, marcada por uma postura coerente nas posições publicamente defendidas, mesmo quando enfrentava o arbítrio da ditadura militar. Antônio Mariz exerceu cargos públicos com plena consciência da responsabilidade que lhe era atribuída, comportando-se com a seriedade de quem encara, com firmeza e observância de padrões éticos e morais, as missões que lhe foram confiadas ao longo da vida.
Nas atividades parlamentares, tanto como deputado federal quanto como senador, soube honrar o voto de seus conterrâneos. Destacou-se no cenário nacional por sua atuação no encaminhamento de matérias de interesse do país e da população, em especial do povo paraibano e nordestino. Foi o relator do processo que decidiu pelo impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. Assim registrou a sua participação nesse episódio histórico:
“Faz dois anos que o povo brasileiro expulsou Collor da presidência da República. Fui o relator do processo de impeachment do presidente no Senado Federal. Meu parecer condenou Collor. No processo de impeachment, o relator é o juiz que instrui a prova e formula a sentença que será votada por todos os senadores. Tenho o orgulho de dizer que ninguém, nesse tempo, nem da oposição nem do governo, teve a ousadia de ir ao meu gabinete para pedir que eu votasse a favor ou contra o presidente. Todos sabiam, pela história dos meus atos e posições no Congresso, que a minha decisão seria baseada nas provas contidas nos autos do processo. Se Collor fosse inocente, juro que teria declarado sua inocência, ainda que o Brasil desabasse sobre mim. Mas ele era culpado e declarei sua culpa. Meu parecer foi aprovado e decretado o impeachment. O Senado, em nome do povo brasileiro, cumpriu seu dever.”
Essa era a forma como agia no exercício de suas funções parlamentares. Em setembro de 1994, tive a oportunidade de assistir a um dos discursos mais importantes de sua vida pública. Em sessão do Senado Federal, decidiu protestar contra a decisão do TSE – Tribunal Superior Eleitoral, que rejeitara o registro da candidatura à reeleição do senador Humberto Lucena, acusado de uso indevido da gráfica daquela Casa Legislativa na confecção de calendários com sua foto. Da tribuna, bradou em voz alta:
“O TSE rendeu-se à cruel barbaridade de interesses escusos, cassando o registro de Humberto. Um único juiz, o ministro Diniz de Andrade, teve a altivez, a hombridade, a coragem moral de ir contra tudo e contra todos, sustentar a lei e proclamar a inocência de Humberto. Esse homem honra a Justiça brasileira e resgata a credibilidade do Poder Judiciário em nosso país (…) Convoco a Paraíba a manifestar-se publicamente contra essa decisão imoral do TSE. Não foi Humberto a vítima dessa violência. Agredida e insultada foi a Paraíba.”
Mariz construiu uma biografia marcada por discursos inovadores e ações voltadas para o atendimento das demandas sociais de seu tempo. Era um idealista por vocação. É, sem dúvida, um personagem vivo na memória dos paraibanos. Carismático e declaradamente reformista social, consagrou-se como um dos mais respeitados homens públicos da história política da Paraíba — e, por que não dizer, do Brasil. Por trás de sua conhecida sisudez, revelava-se um humanista.
Já próximo da morte, chegou a desabafar com seu amigo, o ex-governador Ronaldo Cunha Lima: “Quando tinha saúde, perdi o governo; perdi a saúde, ganhei o governo.”
Na noite de 16 de setembro de 1995, recebíamos a notícia indesejada, comunicada oficialmente por seu secretário de Comunicação, o jornalista Walter Santos: Antônio Mariz acabara de falecer. A Paraíba mergulhava em estado de luto. Seu sonho de governar a Paraíba foi interrompido pelo câncer, após apenas nove meses no exercício do mandato que lhe foi conferido pelo povo.
Está fazendo falta.
PORTAL DIÁRIO
Leia mais notícias no www.portaldiario.com.br, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.


Deixe seu comentário