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VÍDEO: Morte de Padre Rolim completa 121 anos, e fato ganha minucioso estudo histórico de sacerdote

Considerado o fundador do que viria a ser o município de Cajazeiras, Padre Rolim se tornou uma das figuras religiosas mais marcantes do Nordeste brasileiro

Por Jocivan Pinheiro

17/09/2020 às 17h54 • atualizado em 17/09/2020 às 17h56

Nesta quarta-feira (16), a morte do padre Inácio de Souza Rolim completou 121 anos. Considerado o fundador do que viria a ser o município de Cajazeiras, Padre Rolim se tornou uma das figuras religiosas mais marcantes do Nordeste brasileiro e um ícone no campo da educação. Em Cajazeiras, fundou o Colégio Diocesano, onde dezenas de sacerdotes de todo o país estudaram, entre eles o mais famoso da região, padre Cícero Romão Batista, do Juazeiro do Norte-CE.

Nesta quarta, Padre Andrade e Dom Julio celebraram uma missa na TV Diário do Sertão em memória do fundador de Cajazeiras. Além disso, Padre Andrade escreveu um minucioso estudo sobre a vida e morte do sacerdote da educação paraibana. Segue:

PADRE ROLIM A 121 ANOS NA CASA DO PAI

Há 121 anos partia à mansão celestial, o santo sertanejo, Padre Inácio de Souza Rolim.  Teve uma vida quase centenária, “toda modelada nas belezas morais do Evangelho e na sagrada doutrina do Divino Mestre”, como assim testemunhou Belizário Cartaxo. Vida longa, pois, tendo nascido em 22 de agosto de 1800, só veio encerrar seus dias na face da terra em, 16 de setembro do ano dito.

Ao regressar aos braços do Pai, deixou marcas inapagáveis na história da cidade que fez florir, neste rincão sertanejo. E nem podia ser diferente, pois, como bem disse, Dom Moisés Coelho, todo progresso que se registra em Cajazeiras, deriva dos primeiros impulsos, provenientes das ações, bênçãos e lições de civismo e de moral deixadas, pelo Padre Rolim.

De fato, o Padre Rolim, foi um sacerdote exemplar, visto que, como definiu o professor Crispim Coelho, “a sua vida correu incólume, acrisolada no cantinho estreitíssimo da virtude”.

Sim, Padre Rolim foi um homem virtuoso e por isso, de profunda comunhão com Deus, com o próximo e com o meio natural no qual nasceu e viveu, dando testemunho de sua modéstia, sobriedade, humildade, penitência, castidade e caridade admiráveis.

Viveu, na verdade, completamente doado ao bem dos outros, quase esquecido de si e nunca dos que corriam ao seu encontro para pedirem comida e abrigo. Era desses que fazia o bem sem perguntar a identidade e a origem das pessoas as quais destinava seus préstimos.

Essas virtudes do Padre Rolim, foram testemunhadas por muitas pessoas, como por exemplo, pelo professor Crispim Coelho, que teve a graça de conhecê-lo pessoalmente e de conviver com dito sacerdote. É de Crispim Coelho, as palavras que seguem sobre o Padre Rolim.

“Quem quer que, querendo contemplar e admirar a vida de um herói na senda da ciência, do trabalho, e da virtude, lança um olhar sobre o passado do Padre Rolim, ali encontrará tudo quanto é grande, belo e sublime! encontrará um coração magnífico que não pulsa pela vaidade e grandezas mundanas, e antes, sente-se enobrecido com a humanidade mais pura, com a modéstia mais admirável, uma alma cândida e pura que não se abrasa no fogo das paixões humanas e só é possuído de grande amor pela humanidade e pelo progresso de sua terra natal; um espírito culto ilustradíssimo nos diversos ramos das ciências que com denodo dedicou a maior parte do tempo de sua existência, finalmente encontrará nele o modelo de levita do Senhor que procura cumprir à risca os sublimes preceitos do Evangelho”.

Verdadeiramente, o Padre Rolim foi um homem da ciência, senhor de um grande cabedal de cultura. Produziu livros, a maioria deles, não publicada e lamentavelmente, extraviada ao longo dos anos.

É de se admirar que naqueles tempos tão obscuros, o Padre Rolim tenha se dado à feitura de um extrato de gramática grega, no tratado de retórica, gramática portuguesa, um tratado de filosofia, um livro de nações de história natural e um tratado de moral educacional, este, não referido nas suas últimas biografias.

Quer dizer. O Padre Rolim produziu algum dos livros que empregou na sua admirável lida de educador, prolongada por 60 anos de serviços prestados à causa do ensino. Serviço este que dizia ser o maior que se podia prestar à pátria.

Espírito esclarecido e esclarecedor, o Padre Rolim tinha o traquejo de 11 idiomas. Era, na época, defensor da escola tempo integral, porque dizia: “em meu colégio há três classes de alunos. A dos internos que recebem a instrução e educação. A dos semi-internos que recebem somente a educação e a dos externos, aos quais se presta somente meia educação. E assim, se concluiu o Padre Rolim: logo se ver que, toda vantagem está na classe dos internos porque recebem a instrução e a educação”.

Aliás, já que falei da obra do educacional do Padre Rolim, peço permissão para apresentar o conceito de educação deixado pelo próprio sacerdote. “A educação é uma nova criação da mocidade. É uma reforma na natureza espiritual do homem. Que tem por fim, não só esclarecer o pensamento, mas, dirigir a vontade e mitigar o coração”.

Saibam que a escola do Padre Rolim foi verdadeira escola de fé. Embora não tenha sido de direito, foi de fato Pré-seminário, para dezenas de clérigos, aos quais ajudou no processo de formação espiritual e intelectual.

Naquele ambiente, não se iniciava nenhuma atividade diária, antes da celebração da Eucaristia. Todos os alunos que tomavam parte na celebração do pão do céu, antes de se nutrem com pão da terra.

Dentre os mais de 20 clérigos que conseguiu contribuir no processo de formação, destacam-se o primeiro cardeal da América Latina, Dom Arco Verde, o Padre Cícero do Juazeiro e o diácono, José Joaquim Teles Marrocos, este último, responsável por noticiar à imprensa mundial, às perseguições que o padre Cícero fora vítima, frente à repercussão do chamado milagre do Juazeiro.

O padre Rolim era tão interessado em promover as vocações ao sacerdócio que, chegou a anunciar a criação de um curso de teologia no Crato, o que nem mesmo havia em Fortaleza, em 1862. Este curso, não concretizado, ensinaria às disciplinas de história sagrada, dogma e moral.

Este projeto, não foi um mero sonho do padre de Cajazeiras, ele chegou a obter autorização do bispo do Ceará e consentimento do presidente da província deste Estado, conforme expressa a propaganda do curso, estampada na edição de 26 de setembro de 1862, do jornal O Araripe.

Era plano do Padre Rolim iniciar aquele curso, já em fevereiro de 1863, propondo-se contudo, a oferecer o curso de preparação em Outubro de 1862. Este seria constituído pelas disciplinas de francês, grego, filosofia, retórica e geografia.

Em seu serviço educacional, o Padre Rolim não agiu apenas como um Mestre-Escola. Como autodidata, foi pedagogo, psicólogo e orientador vocacional. Sua habilidade de pedagogo prático, externa-se na forma como fez acontecer à sua obra educacional.

De seus pendores à psicologia aplicada, deu testemunha Dom Moisés Coelho, ao dizer que, o Padre Rolim era psicólogo, pois conhecia a alma das crianças. Isto é, tinha conhecimento da psique humana.

Como conhecedor da psique humana, o Padre Rolim costumava conversar em separadamente, com seus alunos e dizer-lhes as habilidades profissionais que enxergavam em cada um deles.

Ouvi de um lúcido nonagenário cujo tio era filho de um ex-aluno do Padre Rolim, de quem falou-me deu ouvido repetidas vezes que, o Padre Rolim se dava a essa prática. Disse-me também que, um certo dia o Padre Rolim mandara de volta à casa dos pais, um certo aluno, desafeito aos estudos.

Conforme o confidente o Padre Rolim, tomara essa decisão, depois de empreender todos os esforços para que o rapaz se abrisse ao aprendizado das letras. Como não conseguiu tal intento, o padre educador, contra à vontade dos pais, encaminhou de volta aquele aluno para casa, fazendo-o portar uma carta, pela qual, recomendava aos pais, providenciarem ao filho, os meios que lhe possibilitassem trabalhar com beneficiamento de ouro e ferro.

Uma vez atendido o pedido do Padre Rolim, o rapaz se tornou o mais destacado artesão, no traquejo do ferro e do ouro em seu lugar de origem Serra Negra do Norte.

Como homem do trabalho, o Padre Rolim foi simplesmente incansável na cátedra de mestre, foi o que foi: dedicado, por demais. No campo foi também o professor a levar as melhores sementes e a ensinar os rurícolas a prepararem a terra, a plantarem e a colherem.

Mas o padre Rolim, não era do tipo que só ensinava fazer. Por vezes tomava seu alforje transverso aos ombros e de chapéu escuro e batina igualmente preta, esvaziava-se do intelectual que era e do inevitável status de sacerdote, para curvar-se ao cabo da inchada, misturar-se aos escravos e com eles, cavar o chão e plantar o grão selecionado.

Não era o Padre Rolim, um homem avesso aos escravos, porque batizou a muitos, ombreou-se a todos no trabalho braçal e lecionou a alguns acolhidos nas casas de caridade de Cajazeiras e do Crato.

Tratando-se, especificamente de sua costumeira labuta campesina, é seguro afirmar que assim procedeu em pelo menos, três lugares aos quais foi e neles permaneceu por temporadas. Deve ter sido este, o seu comportamento em muitos outros lugares em que esteve como missionário de Deus, difusor do ensino escolar e extencionista rural.

Levado por tais motivações, peregrinou tanto em um curto espaço de tempo por tantos lugares, que onde seus biógrafos mais criteriosos, ponderou ao dizer que, não era fácil conciliar as informações que dão contas da presença do Padre Rolim, em um mesmo ano, em lugares diversos.

Sem tempo para aprofundar a esse assunto, devo apenas dizer que o Padre Rolim foi um grande evangelizador itinerante. Seu estilo de missionar era sempre pautado na modéstia que lhe caracterizou à vida.

Era desafeito ao processo proselitismo. Sua ação missionária, não se equipara ao alcance da ação realizada pelo grande Padre Ibiapina. No entanto, quando este iniciou sua profícua jornada missionária, em fins de 1855, o Padre Rolim já peregrinava os sertões, desde 1826. Quando o padre Ibiapina parou de peregrinar, em abril de 1876, o Padre Rolim se achava em plena ação evangelizadora entre Milagres, Ceará e Cajazeiras, sua terra natal.

Sei bem, e isto os documentos atestam, que o Padre Rolim realizou seu último batismo, em Milagres, em 31 de maio de 1887 e dali retornou a Cajazeiras, não para se dar ao repouso de evangelizador emérito, portanto, o último registro do batismo que oficiou nesta cidade, é de primeiro de janeiro de 1895.

É lendo e comparando feitos e datas, analisando contextos e dificuldades de acessos aos lugares nos quais estive que, iremos compreender melhor à densidade do trabalho missionário do Padre Rolim e, por certo iremos nos convencer que, muitas informações acerca de sua estada aqui e acolá, são perfeitamente conciliáveis.

A urgência que se impõe é a necessidade de se reconhecer, na devida moldura do fato histórico, que, o Padre Rolim foi um homem inquieto na prática do bem, dentro e fora do seu lado de origem.

Falar do Padre Rolim como homem de virtudes é tratar de um assunto que não se pode esgotar em um tempo restrito, ainda que, mesmo de forma resumida.

Penso que, de forma indireta, já sinalizei para o fato de que, todas as demais virtudes que caracterizam o Padre Rolim como santo, tem base nas virtudes de sua humildade e simplicidade.

Nestes aspectos o santo sacerdote foi magnânimo. Tinha razão quem disse que o Padre Rolim, em sua habitual simplicidade, escondia sob a mais densa capa de humildade modéstia, às inúmeros virtudes que lhe construíram o porte de santo silencioso, sempre a redil do ribombar dos foguetões e dos aplausos do mundo, com abnegação de um mártir e tranquilidade de um justo.

Conforme testemunhou Dom Moisés Coelho, “o Padre Rolim teve relevo dos homens predestinados. Desses que, embora escondido na consciência de seu nada, projetou-se na esteira do futuro, pois a obra que deixou, garante-lhe a imortalidade que ele nunca buscou e de cuja glória sempre fugiu”.

Atesta ainda do Moisés, “esse traço de modéstia que lhe marcou sempre à vida, procurando evolver-lhe num apagamento voluntário e anônimo, situa a sua personalidade superior no plano dos grandes espíritos. Só os nulos são cheios de si, porque são cheios de vida. Eis o que é uma vida católica bem vivida. Sem outro artifício, sem os foguetões nem ruídos espetáculos das existências menores (…). ”

E completou do Moisés: “É ele o ideal do fazedor de civilização. Edificou de baixo para cima. Faz para depois ensinar. Renuncia a terra para ganhar a Deus. Foge dos homens para mais dele se aproximar. Um homem desses através dos séculos”.

De fato, um homem como o Padre Rolim atravessa séculos. Estamos a 121 anos de sua páscoa, fazer memória de sua pascoa é querer pagar parte de uma dívida que Cajazeiras, tem para o seu santo, Padre Inácio de Souza Rolim. Ele que foi para todos os cajazeirenses um verdadeiro pai espiritual, um novo Moises a guiar seu povo para um futuro promissor.

Não estou aqui, nem de longe, querendo descer aos porões do testemunho de santidade deixado pelo Padre Rolim. Estou apenas querendo sinalizar para o fato de que, já passou do tempo de se reconhecer, oficialmente às suas peregrinas virtudes.

A respeito do assunto, devo ressaltar que padre Eliodoro Pires, testemunhou que o Padre Rolim “praticou todas as virtudes que a santa Igreja espera de uma vida sacerdotal. Tem-se afirmado, e com razão, que Inácio Rolim foi um sábio e um santo”.

Nos idos de 1937, a então autoridade diocesana de Cajazeiras, de certo modo, acabou reconhecendo isso, pois, além de acatar e promover a ideia de realização de um tríduo, com destaque às virtudes do Padre Rolim, expediu uma carta circular, designado aos vigários, a estudar o sacerdócio católico concretizado no Padre Rolim, por ser mesmo considerado um modelo de vida apostólica.

Com certeza, o Padre Rolim faz parte da multidão destaque alvejado pelo sangue do cordeiro. E digo mais, em nada foi inferior a muitos, cujas virtudes heroicas já foram oficialmente reconhecidas.

Foi ele um homem de um arraigado espírito de penitência e desapego aos bens materiais. Por 75 anos viveu em seu regime de jejum é abstinência de carne. Dormia sobre o piso duro do cubículo em que residia no seu colégio.

Tinha como travesseiro dois tijolos cobertos com paninho. Não admitia dormir em rede e nem cama. Sua alimentação era de vera, pouco apreciável ao paladar. Ele mesmo preparava tudo. Não gostava que ninguém se desse à ousadia de adentrar ao seu singelo quartinho, no intuito de tomar conhecimento da forma como se alimentava e se penitenciava.

Contíguo àquele quarto singelo havia uma modéstia cozinha com fogão, sobre o qual, punha uma panela e dentro dela, um pouco de água, sal e folhas verdes, com às quais se alimentava. Passava tempos sem ingerir feijão e arroz. Além daquele caldo depreciável, ingeria algumas frutas. Evitava açúcar e doces, sob o argumento de que aguçava o prazer.

Entre os conhecidos atos de renúncia por parte do Padre Rolim, podemos destacar:

Renunciou a se estabelecer em Olinda e Recife, os dois maiores centros de civismo e cultura no Nordeste, da época, para se instalar no sertão em que nasceu.

Renunciou ao cargo de Diretor da Instituição Pública da Paraíba.

Renunciou, dizem ao convite do Imperador Dom Pedro II, a ensinar no seu colégio de mesmo nome, no Rio de Janeiro.

Renunciou a permanecer à frente da direção da cadeira de grego que criou no ginásio de Recife.

Renunciou às comendas. Ordem de Cristo, ordem da rosa, com as quais foi condecorado na condição de comendador. Uma, recebida pelos serviços prestados à causa do ensino e das pesquisas de campo que realizou pelo Estado de Pernambuco. A outra, pelos serviços prestados à causa da educação escolar na Paraíba.

Renunciou, em favor de seus irmãos, às terras que recebeu por herança, da parte de seu pai, permanecendo, com a outra parte que lhe coube por herança de sua mãe, mas, que não teve outro fim, senão colocá-la a serviço da manutenção de sua obra educacional.

Renunciou ao espaço em que já havia reservado à construção de seu colégio, para que, ali, o padre Ibiapina construísse a Casa de Caridade.

Desapropriou-se da área de terras que possuiu no sítio Lameiro, Município do Crato, no Ceará, onde construiu um quarto e uma capela, dos quais se serviu, no ensejo que ali educava e emprestava assistência espiritual.

Renunciou ao cargo de Diretor do Colégio Sagrado Coração de Maria, que manteve no Crato, sob auspício do padre Ibiapina.

Desapropriou-se do espaço, no qual construiu o seu modesto quarto de taipa, na Fazenda Taboca, município de Milagres, no Ceará, onde educou e evangelizou por mais de 10 anos.

Alforriou seu único escravo, de nome, Raimundo o qual lhe foi dado por herança de sua mãe. Não foi, portanto, Padre Rolim senhor de escravos, como se pode, equivocadamente se deduzir da afirmação de que, o Padre Rolim libertou seus escravos, no sentido plural do termo.

Explico melhor: ao Padre Rolim, coube por herança um escravo recém-nascido, ao qual, ele alforriou, da forma condicionada, um ano depois da morte de sua mãe. Portanto, antes do referido criolo ter completado seu segundo ano de vida. Em meus arquivos exponho de cópia a carta de alforria expedida pelo o Padre Rolim, aquela pobre criança.

Renunciou a assumir o governo de paróquias, contendo-se com a modéstia função de capelão das fazendas às quais foi, o intuito de educar e evangelizar.

Meus caros! Esse espírito de desapegos e renúncias do Padre Rolim, era simplesmente admirável. Ele assim agiu, por quê parecia entender que o homem, não tem estrutura para ser senhor do que, em demasia, só lhe serve para ensurdecer-lo, cegá-lo e envaidece-lo.

O Padre Rolim que, voluntariamente se desapegou dessas e de muitas outras coisas, deixou-nos uma lição de renúncia, não apenas pelo exemplo dado, mas também, o que fez por palavras, em advertências aos pais quando dizia:

“Quantos vícios não trazem os meninos da casa paterna? Ora de nós mesmos não fossemos a causa da perdição dos costumes dos nossos filhos! Que coisa não deseja um menino que engatinha em púrpuras? Que vaidade, que compuerência, que egoísmo não se tendes em seus tenros corações e que depois produzem um pelego de vícios. A perversidade ou corrupção de alguns é um infeliz contágio oral que tem penetrado até os mais remotos campos”.

Embora gostasse de visitar a famílias e puxar longas conversas sobre assuntos diversos que algum proveito, evita, o mais que pudesse tomar parte nas refeições que lhe eram oferecidas. Nem junto aos seus alunos, nem mesmo junto aos trabalhadores com quem suportava o calor, na ocasião do trabalho, o Padre Rolim costumava se alimentar. Não era receio, era apenas uma forma de não o fazer colhedores, de sua acesse alimentar.

]Colhi depoimentos de dão conta de que, o Padre Rolim, quando se dirigia para o roçado das fazendas em que se achava, quando dá hora do almoço, ele tirava do seu alforje algo estranho pequeno com o que se saciava.

Essa prática do asceta cajazeirense, chegou a despertar curiosidades em algumas pessoas. Certo dia, um curioso adentrou à sua cozinha, desejoso de saber, em que de fato consistia à alimentação do Padre Rolim, flagrado pelo santo sacerdote, foi o curioso convidado a se retirar, sob a orientação de que jamais voltasse a adentrar naquele recinto, sem a devida permissão sua.

Conforme depoimento que colhi por meio de carta, o invasor saiu dali admirado ao constatar que naquele dia, o Padre Rolim cozinha folhas verdes e nada mais, para o seu alimento.

Parece-me que o Padre Rolim, era um agostiniano de base, atenuado pelo pensamento tomista, sem deixar de ser um empirista de praxe. Não se descuidava de se policiar, pois dizia que o homem é por natureza um ser humano cheio de mil defeitos, os quais, somente a educação poderia corrigi-los o mais que possível. Mas, para o Padre Rolim, a educação era fazer o devido e o esperado.

O Padre Rolim, foi um homem apaixonado pelo evangelho, dado à contemplação, a renúncia de bens materiais, rígido nos cuidados com a vida casta, inteiramente aberto às necessidades dos que lhe procuravam para lhes saciar a fome e a nudez.

Embora tratasse às mulheres com divino respeito de educador e pai, não admitia o acesso delas onde se achava a sós. Era a prudência, era o rigor de quem estava sempre a se vigiar para não cair em tentação.

Houve quem, admirado desses seus cuidados, chegou a dizer que, o Padre Rolim era tão precavido em relação ao belo sexo que, continuava a ver nele, qualquer coisa ligada ao coliar das serpentes. Exagero de interpretação, porque, embora o Padre ROLIM tenha evitado qualquer tipo de liberdade maliciosa no trato com às mulheres, foi professor de algumas delas, diretor espiritual de outras e até, permitia que uma respeitável senhora, corrigisse às falhas de sua tonsura.

Por tudo isso e muito mais que sei a respeito da vida de santidade do sacerdote do Padre Inácio de Souza Rolim, tenho mesmo de concordar com o historiador Celso Mariz, quando, sobre o santo sacerdócio cajazeirense disse: “convenhamos que esse papel de renúncia e devotamento pelos outros não é fácil de exercer com caráter, com a ciência e o sentimento puro que Padre Rolim representou em sua terra. Convenhamos que a humanidade deveria ser muito mais incompleta e errada sem a existência de Santos e heróis dessa espécie, que nada querem do mundo e tanto deixam de si para o aperfeiçoamento das gerações. ”

Permita-me concluir esse modesto colóquio sobre o Padre Rolim, trazendo à luz, o que na década de 70 do século passado, o Monsenhor Raimundo Augusto, de saudosa memória dissera sobre o sacerdote cajazeirense.

“ Admira que ainda não se tenha tomado a peito, ali, (em Cajazeiras), a causa da sua beatificação. Se ele tivesse vivido na Europa, não estaria passando despercebida uma vida tão rica de virtudes de um varão junto que soube construir o edifício sólido da sua santidade nos verdadeiros moldes do Espírito genuíno da igreja – o silêncio, a humildade, a obediência e o desprendimento das coisas terrenas.

Não é à custa de propaganda e promoções pomposas que se consegue levar um justo às honras dos altares. O grande segredo da santidade é o silêncio. Fazer o bem de modo que ainda não saiba o que fez a direita.

O Padre Rolim foi uma virtude autêntica. Todos os sintomas, todas as características da vida de um santo se espelho nas suas virtudes acrisolados das que exalam o perfume da santidade. Alerta, Cajazeiras! Desperta desse sono que está privando o Brasil da glória e possui um santo nos seus altares. ”

Como sabemos, o Padre Rolim faleceu depois de cerca de um mês de prostração, no leito do singelo quarto, situado em seu colégio, aonde viveu dando testemunho de sua santidade. Cuidava do já moribundo, uma senhora de nome Ana, conhecida como mulher dada à caridade.

Foi ela que assistiu os outros momentos do Padre Rolim. Enfim, às 20 horas e 30 minutos do dia 16 de setembro de 1899, veio a óbito o homem de Deus, Seu corpo, em função da grande multidão que queria lhe prestar as últimas referências, só veio se sepultado, às 11 horas do dia 18.

Era de fato, tempo de um imenso calor. Contam que apesar disso, seu corpo não exalava mau cheiro, pelo contrário, dele saía um suave e bom odor a envolver o lugar que foi sepultado e lá permanece, na igreja primitiva da cidade de Cajazeiras, conhecida hoje como a matriz de Fátima.

Como iniciei, quero terminar com as palavras do professor Crispim Coelho, o primeiro a escrever algo sobre o Padre Rolim. O Brasil tem produzido grandes homens, mas ainda não houve quem o excedesse em Piedade(…) foi o padre Rolim, sem nenhuma contestação, para este Estado uma honra; para o Brasil, uma glória, para o céu, um santo.

DIÁRIO DO SERTÃO

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