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VÍDEO: Mãe de santo acusa padre da cidade de Sousa de intolerância religiosa durante reunião de padrinhos

Uma reunião com madrinhas e padrinhos de batismo na Igreja Católica Matriz de Sant'Ana, na cidade de Sousa, no Sertão da Paraíba, vai terminar em caso de justiça

Por Jocivan Pinheiro

16/10/2023 às 18h05 • atualizado em 16/10/2023 às 18h15

Uma reunião com madrinhas e padrinhos de batismo na Igreja Católica Matriz de Sant’Ana, na cidade de Sousa, no Sertão da Paraíba, vai terminar em caso de justiça. É que a comunidade candomblé Ilê Axé Yéyé Olomi Tùtu está acusando o padre Paulo Diniz de ter praticado intolerância religiosa e racismo durante a reunião.

O fato veio a público através de uma nota de repúdio publicada pela comunidade candomblé. Mas também existe um vídeo gravado por uma testemunha na reunião que teria flagrado o padre comentando sobre as religiões de matriz africana. A assessoria jurídica do Ilê Axé Yéyé Olomi Tùtu disse que está com o vídeo e deverá utilizá-lo para provar as acusações.

O repórter Bruno Rafael conversou ao vivo, no programa Olho Vivo, com a mãe de santo Francisca Francimar e com o advogado Fillipe Morais, direto do terreiro do Ilê Axé Yéyé Olomi Tùtu. Mãe Francisca diz ter se sentido envergonhada logo no começo da reunião porque o padre “entrou dizendo que os pais tinham de saber quem eram os padrinhos que iam tomar para seus filhos” e que religiões de matriz africana, tais como candomblé, umbanda e jurema, não são adequadas porque trariam “torturamento” para os filhos cujos padrinhos e madrinhas são adeptos dessas religiões.

Mãe de santo Francisca Francimar, do Ilê Axé Yéyé Olomi Tùtu, de Sousa-PB (Foto: Bruno Rafael/Diário do Sertão)

Já o advogado Fillipe Morais conta que o padre citou entidades religiosas de matriz africana em tom de escárnio e teria dito que essas religiões causam “confusão mental na cabeça das pessoas”.

“As falas que vocês podem observar nos vídeos, ele não trata só dos dogmas da igreja, ele vai além. O discurso religioso dele vai além da liberdade de expressão religiosa. Ele diz que tipos de ambientes como esse que a gente está agora causam confusão mental na cabeça das pessoas, que nem ele frequenta esse tipo de lugar. E cita várias entidades dessas casas como forma de deboche. Fala de pretos velhos, fala de Yemanjá, fala que essas divindades não salvam ninguém e a única que salva é Jesus Cristo da Igreja Católica, ao qual as comunidades de terreiro, inclusive, têm fé em Jesus Cristo”, diz o advogado.

“É muito comum a gente vê pessoas evangélicas batizando afilhados em igreja católica e isso é tratado de forma normal. Mas quando se volta para a população de terreiro, existe uma estranheza. Tudo isso é resquício do racismo estrutural que a gente tem no Brasil”, acrescenta.

O advogado disse ainda que vai procurar medidas judiciais cabíveis “primeiro para que exista esclarecimento, e segundo para que haja a punição, porque racismo é crime no Brasil e um crime inafiançável e imprescritível.”

O repórter Bruno Rafael chegou a conversar, em off, com o padre Diniz, mas ele disse que não quer se pronunciar sobre o caso. A Diocese de Cajazeiras, a qual as paróquias de Sousa são subordinadas, também ainda não se pronunciou sobre o ocorrido.

DIÁRIO DO SERTÃO

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