Cajazeiras Progride
Costuma-se afirmar que não existe nada de novo debaixo do sol. No ano de 1928, há 81 anos, o jornal O Sport, “Orgam Independente, Litterario e Notticioso” (com a grafia da época) editado na cidade de Cajazeiras e tinha como diretor o professor Antonio José de Sousa, em sua edição de número 120 e datado de 25 de novembro, publicou um editorial, com o título:
“Cajazeiras Progride”
O progresso de material de Cajazeiras, na esfera particular é uma realidade.
Povo progressista e trabalhador. Empreendimentos vários. Prédios surgem de momento por todos os recantos da cidade.
Empresas diversas emolduram Cajazeiras, tornando-a a terra dos silvos, do trabalho fecundo. Fontes de vida. Indústrias novas, invenções. A própria terra, ontem abandonada pela imperícia do sertanejo, hoje está sendo cultivada com carinho e amor. As fortunas aumentam e as rendas públicas crescem.
O médico ganha na clínica e empresta a juros. O bacharel, o engenheiro, o farmacêutico e o dentista, trabalham com dedicação na profissão e se internam nos ângulos da agricultura cultivando a terra, na ânsia louca de conquistar o metal terrível, espelho mágico das ambições humanas. O jornalista escreve e faz o próprio jornal e ainda trabalha em avulsos e vende livros.
É uma atividade imensa. Os fracos caem cedo, os fortes vencem, conquistam e enriquecem.
É a cidade do trabalho, do dinheiro e do comércio intenso. Isto na esfera particular.
Na esfera pública, administrativa ainda temos falhas lamentáveis. Não há higiene pública. O asseio da cidade não corresponde às exigências necessárias. Os próprios municipais nos envergonham diante do visitante curioso.
A arrecadação de impostos é desorganizada. A prefeitura não tem expediente. O fiscal é agricultor e não preenche as formalidades do cargo. As construções não obedecem a um alinhamento estabelecido por lei. Não há uma escrita regular competente na prefeitura.
O prefeito por espírito de ingenuidade ou por abuso de poder realiza avultados compromissos para a prefeitura sem o apoio do Conselho Municipal.
A imprensa não é respeitada pelos poderes competentes. O jornalista independente, altivo perde a simpatia dos responsáveis pela administração pública por proclamar a verdade. Quando sabemos que o atual Presidente lamentou a falta de um órgão na capital.
É tempo de seguirmos nossos processos na administração do nosso município. A nossa terra precisa subir no conceito do Estado. As nossas tradições impõem aos nossos dirigentes mais amor pelas funções que ocupam. O ambiente é de harmonia.
Não acreditamos na paz de um povo sem o progresso da terra. Não é digno para um prefeito o esforço particular dominar a ação administrativa.
O prefeito de Cajazeiras deve voltar às vistas para o progresso da terra que chefia e administra. A política não deve ser somente o alvo de seus sonhos, o eixo de sua atividade. O povo que paga imposto exige aplicação legal de seu dinheiro. Vivemos do dinheiro do povo.
Ao povo queremos dedicar a nossa vida de imprensa livre e soberana nas atitudes. A nossa única aspiração é pugnar pelo progresso da terra que muito queremos e da qual depende a nossa existência. Não temos ódios aos nossos dirigentes municipais.
Este texto, embora não assinado, foi da lavra do professor Antonio José de Sousa, emérito educador e escritor cajazeirense, que militou na imprensa de nossa terra por mais de cinco décadas e por escrever e falar sempre a verdade era visto pelas autoridades como um homem de oposição.
Tenho a mais absoluta certeza que se vivo fosse e se tivesse que escrever um editorial para um jornal cajazeirense pouco mudaria do que escreveu nos idos de 1928, ao analisar a vida da cidade que tanto amou.
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