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Mariana Moreira

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A cidade analfabeta

20/06/2025 às 12h28

Coluna de Mariana Moreira - imagem ilustrativa - Foto de SHVETS production - reprodução - via pexels.com

Por Mariana Moreira – A cidade se avoluma em ruas, becos, praças, avenidas que vão surgindo à revelia de quaisquer planejamento ou ordenamento prévio. Ou, pelo menos, de um cuidado mínimo para organizar e disciplinar esse crescimento, respeitando os espaços e assegurando as condições mínimas de trafegabilidade e, sobretudo, vivência e convivência de seus moradores.

Não é raro deparar-se, seja nos bairros ou em áreas centrais da cidade, com calçadas transformadas em extensões de bares, botequins e lojas comerciais. Por elas se espalham mesas, cadeiras, balcões e mostruários. Os transeuntes são forçados a usar o leito da rua como espaço de caminhada. E aí, submeter-se ao perigo de um atropelamento ou ao malabarismo de desviar-se de veículos e motocicletas e sair incólume da simples necessidade de percorrer ruas da cidade.

A ausência ou, talvez, a complacência do poder público em adotar e/ou obedecer às legislações e normas jurídicas e administrativas que já foram produzidas com a intenção de organizar e disciplinar o cotidiano da cidade vão produzindo outras cenas que, se não fossem reais, beiravam as fronteiras do dantesco.

Como a topografia da cidade é caracterizada por um relevo irregular, marcado por ladeiras, declives, linhas assimétricas, as calçadas, na quase totalidade dos imóveis, vão sendo ou foram edificadas como verdadeiros obstáculos ao mais performático dos pedestres com um bom desempenho atlético. Elas não seguem as oscilações naturais dos terrenos e, assim, se erguem como degraus dos quais, muitos intransponíveis por caminhantes em condições normais de mobilidade.

Aos que carecem de engenhos como cadeiras de rodas, muletas, bengalas como suportes de auxílio em seus deslocamentos pela cidade mais uma vez são arremessados para o leito das ruas, partilhando e, na maioria dos casos, se espremendo entre apressados automóveis e velozes motocicletas. Uma aventura que, via de regra, representa um permanente exercício de risco a integridade física e, até mesmo, a vida desses caminhantes.

Mas, como essa parece ser a compreensão natural de como deve se organizar a cidade, qualquer iniciativa nascida de um cidadão com o mínimo de sensibilidade e carinho para com a cidade, desejando-a como espaço de moradia e, sobretudo, de relações harmônicas e saudáveis entre seus habitantes, se converte em perda de tempo e intromissão desnecessária onde seu “pitaco” não foi solicitado. Além da antipatia que passa a gozar de parcela significativa que vê em atitudes semelhantes uma intromissão “onde não foi chamada”, também passando a integrar o catálogo dos que se posicionam contrários ou adversários dos administradores públicos.

E a cidade, que inspira poetas e enamorados, e alardeada como a Terra que ensinou a Paraíba a ler, segue analfabeta em suas lições de urbanidade.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Mariana Moreira

Mariana Moreira

Professora Universitária e Jornalista

Contato: [email protected]

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Professora Universitária e Jornalista

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