A Construção Dialética do Saber
A Teoria das Representações Sociais, desenvolvidas pelo pensador Moscovici, introduz uma nova e atual significação às relações na sociedade. As representações aparecem como construções contextualizadas de sujeitos a respeito de objetos socialmente valorizados e podem ser identificadas através dos saberes populares e do senso comum. É uma forma de conhecimento particular que elabora comportamentos e comunicações entre os indivíduos no contexto social.
Sendo uma das formas de apreensão do mundo concreto, essas representações motivam e facilitam a transposição de conceitos e teorias para o plano do saber imediato e permutável, promovendo comportamentos ou visões socialmente adaptados ao conhecimento real, percebendo-se uma reflexão coletiva, direta e diversificada.
Constatamos que as relações entre professor e aluno apresentam características múltiplas e, muitas vezes, distintas no que se refere à tentativa de construção de uma relação dialético-pedagógica, que viabilize uma coerente construção do conhecimento e da aprendizagem. Uma construção que seja participativa, solidária e não autoritária e individualista. Segundo GADOTTI (1999: 2), “O educador para pôr em prática o diálogo, não deve colocar-se na posição de detentor do saber, deve antes, colocar-se na posição de quem não sabe tudo, reconhecendo que mesmo um analfabeto é portador do conhecimento mais importante: o da vida.” (grifo meu)
Buscando fazer uma imbricação entre a construção dialética do conhecimento, a partir de uma relação também dialética entre os envolvidos neste processo – o professor e o aluno, com a Teoria das Representações Sociais de Moscovici, julgamos importante elucidar que a Teoria das Representações Sociais compreende o indivíduo como um ator social que constrói sua teoria em completa interação com o mundo. E a partir desse conhecimento elaborado, atribuir-lhe significados, interpretações.
Moscovici, em sua Teoria das Representações Sociais, admite que as “representações” são construídas pelo sujeito quando acontece uma elaboração partilhada do conhecimento, em que, essa representação recebe uma qualificação social, justamente por ser um conhecimento particular, individual que tem por função a construção de comportamentos e a comunicação entre indivíduos.
É possível constatar, que a Teoria das Representações Sociais evidencia, de modo bastante significativo e capital, a construção do conhecimento dialético como pressuposto à elaboração das representações sociais.
Quando voltamos nosso olhar para a realidade escolar, não é difícil perceber que o aluno dentro do processo de ensino e aprendizagem não é considerado como um sujeito autônomo, ou seja, alguém que seja capaz de construir uma relação significativa, dialética no processo de elaboração do conhecimento com o professor. Pelo contrário, percebemos que este de maneira despótica e arrogante, determina o que o aluno deve saber, quando saber e como saber.
O aluno é captado apenas como objeto do processo ensino e aprendizagem, objeto este que pode ser manipulado, influenciado, interferido em sua existência singular tanto quanto na sua multiplicidade enquanto “sujeito” do meio educacional e social. Em primeiro lugar, quando o aluno é considerado como um puro e simples objeto dento do processo ensino aprendizagem, a construção significativa do conhecimento, da aprendizagem fica totalmente comprometida e fadado a fracassar, a malograr. Em segundo, a partir dessa realidade da não existência de uma construção dialética do conhecimento, fica também impossível a construção de uma representação social individual como define o pensador Moscovici, e muito menos uma representação coletiva, como defende Dukaim.
Quando buscamos construir uma analogia entre A construção Dialética do Conhecimento e a Teoria das Representações Sociais verifica-se, de forma cabal, que essas realidades controem-se mutuamente numa relação de interdependência, de justa complementaridade, ou seja, quando não ocorre a construção de um conhecimento, de um saber, numa perspectiva dialética entre as partes envolvidas nesse processo, torna-se difícil a construção de uma mentalidade social representativa, tanto no educando quanto no educador. Se não há uma mentalidade de representação social nesses grupos sociais – professor/aluno, fragilmente também será a compreensão sobre a sua cidadania, no que diz respeito a um ser constitutivo de direitos e também de deveres.
Diante disso, deduzimos que mais uma vez, nos colocamos diante de um dos grandes problemas da Educação: a questão da construção do conhecimento, do saber qualificado e significativo, um saber fértil e fecundo. Insistimos em dizer que o processo ensino-aprendizagem e a construção do conhecimento são dialéticos, onde aluno e professor têm um caráter ativo. E que, a partir desse conhecimento pessoal-individual, torna-se possível a construção de uma Teoria de Representação Social.
Para saber mais
BERGER, P.,LUCKMANN, T. A Construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 1978.
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