A guerrilheira Dilma no Planalto
O ex-vereador Raimundo Júnior distribuiu cópias de panfleto com terríveis acusações à pré-candidata Dilma Rousseff: assaltante de banco, terrorista, assassina. Entregava o papelucho com raiva, exaltado, espumando de ódio. Eu nada disse, porém, guardei cópia do texto apócrifo que, aliás, já circulava na internet havia meses.
Isso aconteceu ao nascer do sol, na caminhada de uma turma que percorre o trajeto do Açude Grande à BR 230, além do bairro dos Remédios. Os caminhantes variam, às vezes, passam de uma dúzia, falam em voz alta, misturam fatos, boatos e fofocas: vereador Marcos Barros, Pedro Abrantes, Sandro, os irmãos Coelho, o ex-vereador Sinval Leite, Christiano Moura, Taciano, Carlinhos do Leite e outros cujos nomes agora me fogem. Bosco Amaro é de veneta. Alguns são assíduos, outros aparecem raramente, como eu, ou o deputado José Aldemir quando se aproxima a eleição. Raimundo Júnior chega com uma cachorrinha e o celular. Vez por outra, liga para Edmundo Amaro e pede um alô no microfone da Rádio Alto Piranhas.
Sábado, ao acompanhar pela tevê a posse de Dilma me lembrei daquele panfleto. Na condição de convidadas especiais, havia 11 militantes de esquerda de minha geração, companheiras de Dilma Rousseff no Presídio Tiradentes, em São Paulo, aonde foram levadas depois de sevícias em temidos órgãos da repressão, no pior momento da ditadura. Onze mulheres que sofreram os rigores da tortura.
Uma delas particularmente me chamou a atenção: Rita de Miranda Sipahi. Por quê? Porque fora minha amiga e colega na Faculdade de Direito do Ceará, casou com meu parente, Othon Pires Rolim, também contemporâneo na UFCE e colega do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR). No entanto, o que me emocionou mesmo foi recordar que na residência de Rita e Othon, no Recife, eu conheci Helena Moreira.
Veja que coincidência. Em fevereiro de 1964, Helena, estudante baiana, estando de férias no Recife, fora visitar Rita, sua companheira da Ação Popular (AP), um movimento que nascera das reflexões coletivas dos militantes da Juventude Universitária Católica (JUC), a qual as duas amigas pertenciam. Pois bem, a partir daquele encontro casual na casa de Rita, Helena se tornou minha amiga. Mais tarde, virou minha aluna na Universidade Católica de Salvador, em seguida, minha namorada e noiva e esposa, no melhor ritual casamenteiro daquela época. Construímos então, os dois, com muita paixão, nossos sonhos pessoais, profissionais, políticos, enfim, um projeto de vida e amor. Nossos três filhos (Débora, Denilson e Marcelo) nasceram dessa relação.
Vinte anos depois, o câncer derrotou Helena, quando ela estava no auge da maturidade intelectual em seus 40 anos de vida. Era então professora do mestrado de Sociologia na UFCE, com marcante presença no movimento sindical de docentes, inteligente e bonita.
Todas essas lembranças afloraram de supetão ao saber que Rita Sipahi, hoje advogada do Ministério da Justiça, estava no Palácio do Planalto como convidada especial na festa de posse de Dilma. Em contraponto, sem ser convidado, intrometeu-se em minhas lembranças o panfleto infame que Raimundo Júnior distribuiu contra Dilma. Talvez jogue no lixo aquele papelucho. Não. Vou guardá-lo, para um dia dar de presente ao ex-vereador da Arena, quando o surpreender, quem sabe, em fervorosa exaltação à guerrilheira Dilma. De verdade? Oxente, Sarney não foi presidente da Arena?
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