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Francisco Cartaxo

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Rua Higino Rolim

05/12/2025 às 21h03

Cidade de Cajazeiras.

Por Francisco Frassales Cartaxo – A pequena rua Higino Rolim vai do balde do Açude Grande até a Praça N. S. de Fátima. Tornou-se grande para o mundo das artes depois que a gurizada, sob a batuta de Eliézer Rolim, o maiorzinho, começou a dar asas a fantasias, escrever, ensaiar peças teatrais, declamar versos, cantar, dançar. Traquinagens aos olhos dos adultos. Menos de Ica. A trupe cresceu, a ponto de Buda Lira me dizer que foi a terceira geração na história das letras e das artes de Cajazeiras. Talvez a quarta, se considerarmos os pioneiros saraus do colégio dos padres e o das freiras, no começo do século XX.

Mas isso é outra história.

A rua Higino Rolim se agigantou, saiu pelo mundo encenando e sofrendo, mas gozando ao espalhar arte de verdade. Não é que Suzana Amaral descobriu Macabea, quando a viu num beiço de estrada, e a alçou às alturas! Demorou pouco para o mundo render-se ao sertão. Cajazeiras então enxergou, extasiada, o Urso de Prata, vindo de Berlim pelo desempenho de Marcélia. Ninguém mais olhou de bandinha a meninada exótica da Higino Rolim, agora um orgulho só!

E Higino Rolim?

A rua continuava no mesmo lugar. O homem da placa, imagino, a tudo via ao lado do tio, o padre Inácio Rolim.

Higino Gonçalves Sobreira Rolim, nascido em Lavras–CE (1852), chegou criança a Cajazeiras e nunca mais saiu. Aprendeu grego, latim, francês, português no colégio do Padre Rolim, onde ensinou algumas dessas disciplinas. Recitava na língua original poemas de Virgílio, Horácio, Homero! Cidadão letrado, acima da média de seu tempo, exerceu atividades relevantes: além de professor, foi rábula, suplente de promotor público. Autorizado por dom Pedro II, em 1875, fundou uma farmácia, a segunda no interior da província da Paraíba. Daí ser chamado de doutor Gino. Na política, alinhou-se à chefia do comandante Vital de Sousa Rolim, tendo sido vereador várias vezes, presidiu a Câmara Municipal que, à época, fazia as vezes de prefeito. Foi deputado estadual na 3ª legislatura republicana (1896-1899).

E mais, foi sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, embora a fonte consultada não indique Cajazeiras como a cidade de sua residência e o nome está incompleto, Hygino Sobreira Rolim! Quem sabe, lembram dele porque padre Heliodoro Pires é Patrono do IHGP. Ora, padre Heliodoro publicou em 1917 o perfil biográfico do padre Rolim, para cuja feitura, contou com expressiva ajuda do major Higino Rolim, em depoimento escrito e informações orais. Que bom, hoje frondosas árvores dão sombra a doutor Gino.

Sócio do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano

Pois bem, o major Higino Rolim sabia grego, latim, francês, português aprendido sem nunca ter saído de Cajazeiras. E também aviar receitas na farmácia que fundou e recebeu por decreto de 1875, assinado pelo imperador Pedro II, autorizando o preparo e venda de remédios em sua botica. Por isso, era chamado de doutor Gino, ou doutorzinho, como costumava trata-lo a sobrinha Marilda Sobreira. Os manuais de manipulação de remédios eram, no século XIX, todos em francês. Doutor Higino ensinou a muitos parentes a manipular drogas e, pelo menos dois, fizeram história em Cajazeiras: Joaquim Sobreira Cartaxo (Marechal) e Romeu Menandro Cruz, nascido em Pombal, mas criado desde criança pelo doutor Gino. Os dois estiveram na linha de frente contra o assalto a Cajazeiras do grupo do cangaceiro Sabino Gomes, em 1926, cinco anos antes de vovô falecer, orgulhoso de ter a seu lado o farmacêutico, formado no Rio de Janeiro, em 1913, o poeta, cronista, professor Cristiano Cartaxo Rolim.

É verdade que Romeu é seu tio, Frassales?

Quando eu tocava nesse assunto e na lenda da Rua dos Sete Pecados, Deusdedit Leitão tinha uma resposta nada esclarecedora:

– Frassales, deixa isso pra lá…

Por mais que eu insistisse, curioso, ele não dava pista, conveniente como era de seu feitio.

Por essa razão, o folhetim continua.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

Francisco Cartaxo

Francisco Cartaxo

Francisco Sales Cartaxo Rolim (Frassales). Cajazeirense. Cronista. Escritor.
Trabalhou na Sudene e no BNB. Foi secretário do Planejamento da Paraíba,
secretário-adjunto da Fazenda de Pernambuco. Primeiro presidente da
Academia Cajazeirense de Artes e Letras. Membro efetivo do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Autor dos livros: Política nos Currais; Do
bico de pena à urna eletrônica; Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras
no cerco ao padre Cícero; Morticínio eleitoral em Cajazeiras e outros
escritos.

Contato: [email protected]

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