A morte da Enciclopédia Britânica
No dia 13 deste mês foi anunciado o fim da versão impressa da Enciclopédia Britânica, a mais famosa do mundo. E talvez a mais antiga, pois a primeira edição saiu na Escócia em 1768. Já no século 20, mudou seu endereço para os Estados Unidos. A Britânica é um gigantesco repositório do conhecimento humano, chegando a ser apresentada em 32 volumes. A última fornada, de 12 mil exemplares, saiu em 2010. Ao saber da morte da Britânica me veio à lembrança um insignificante episódio da história administrativa e política da Paraíba. Vamos a ele então.
Tarcísio Burity assumiu seu primeiro governo, em 1979, após derrotar o deputado Antônio Mariz, no colégio eleitoral inventado pela ditadura para perpetuar-se no poder. Para comandar o planejamento da Paraíba, ele convocou um renomado engenheiro de Campina Grande, professor universitário, profissional muito requisitado pelos empresários nas tarefas de intermediação técnica junto à Sudene e ao BNB, as grandes fontes institucionais de financiamentos públicos do Nordeste naquele tempo. A sua escolha, diziam, era uma homenagem do jovem governador ao povo de Campina que, graças a sua notória pujança, ainda respirava o clima de “capital econômica da Paraíba”.
Pois bem, com esse respaldo, o competente engenheiro assumiu a Secretaria do Planejamento e Coordenação Geral do Estado. Logo que tomou pé no cargo, estranhou a pequenez do espaço físico da Secretaria. Um erro a ser contornado com urgência. A biblioteca pagou o pato. O dinâmico secretário ordenou de pronto à bibliotecária que se desfizesse de impressos velhos (livros, revistas técnicas, apostilhas, relatórios etc.) a partir de um determinado ano por ele fixado. A moça, coitada, quase teve um ataque cardíaco. Passado o choque, desmanchou em lágrimas sua sentida mágoa. Mas cumpriu a ordem do chefe que, apontando para as estantes, teria justificado mais ou menos assim o motivo de sua decisão:
– Não precisamos nada disso, basta recorrer à Enciclopédia Britânica. Está tudo lá, informações científicas, históricas, até como fazer projetos. Está tudo lá.
Houve ensaio de protestos de bibliotecárias, técnicos e de parte da imprensa paraibana. O secretário anterior, modesto auxiliar de Ivan Bichara, fizera um esforço enorme para montar um acervo que fosse útil às tarefas do dia a dia e contribuísse, no futuro, para a memória histórica, corrigindo, talvez, um descuido de Juarez Farias, ele que era até ali a maior referência do planejamento paraibano, mercê da sua excepcional experiência, notória capacidade de criar e fazer e, obviamente, do poder que detinha ao ponto de repartir com o governador João Agripino boa parte dos destinos da Paraíba.
Anos depois, Tarcísio Burity, eleito governador por via direta em 1986, e eu, chefe de gabinete do superintendente da Sudene, rememoramos aquele episódio. Na ocasião, ele me falou de outro fato: um fantástico projeto de navegabilidade do Rio Paraíba. Aí então fui forçado a devolver à Serra da Borborema, meu criativo e impetuoso secretário. E ele não voltou de navio, me disse Tarcísio, com aquele seu jeito irônico…
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