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Edivan Rodrigues

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A morte da Enciclopédia Britânica

24/03/2012 às 20h18

No dia 13 deste mês foi anunciado o fim da versão impressa da Enciclopédia Britânica, a mais famosa do mundo. E talvez a mais antiga, pois a primeira edição saiu na Escócia em 1768. Já no século 20, mudou seu endereço para os Estados Unidos. A Britânica é um gigantesco repositório do conhecimento humano, chegando a ser apresentada em 32 volumes. A última fornada, de 12 mil exemplares, saiu em 2010. Ao saber da morte da Britânica me veio à lembrança um insignificante episódio da história administrativa e política da Paraíba. Vamos a ele então.

Tarcísio Burity assumiu seu primeiro governo, em 1979, após derrotar o deputado Antônio Mariz, no colégio eleitoral inventado pela ditadura para perpetuar-se no poder. Para comandar o planejamento da Paraíba, ele convocou um renomado engenheiro de Campina Grande, professor universitário, profissional muito requisitado pelos empresários nas tarefas de intermediação técnica junto à Sudene e ao BNB, as grandes fontes institucionais de financiamentos públicos do Nordeste naquele tempo. A sua escolha, diziam, era uma homenagem do jovem governador ao povo de Campina que, graças a sua notória pujança, ainda respirava o clima de “capital econômica da Paraíba”.

Pois bem, com esse respaldo, o competente engenheiro assumiu a Secretaria do Planejamento e Coordenação Geral do Estado. Logo que tomou pé no cargo, estranhou a pequenez do espaço físico da Secretaria. Um erro a ser contornado com urgência. A biblioteca pagou o pato. O dinâmico secretário ordenou de pronto à bibliotecária que se desfizesse de impressos velhos (livros, revistas técnicas, apostilhas, relatórios etc.) a partir de um determinado ano por ele fixado. A moça, coitada, quase teve um ataque cardíaco. Passado o choque, desmanchou em lágrimas sua sentida mágoa. Mas cumpriu a ordem do chefe que, apontando para as estantes, teria justificado mais ou menos assim o motivo de sua decisão:

– Não precisamos nada disso, basta recorrer à Enciclopédia Britânica. Está tudo lá, informações científicas, históricas, até como fazer projetos. Está tudo lá.

Houve ensaio de protestos de bibliotecárias, técnicos e de parte da imprensa paraibana. O secretário anterior, modesto auxiliar de Ivan Bichara, fizera um esforço enorme para montar um acervo que fosse útil às tarefas do dia a dia e contribuísse, no futuro, para a memória histórica, corrigindo, talvez, um descuido de Juarez Farias, ele que era até ali a maior referência do planejamento paraibano, mercê da sua excepcional experiência, notória capacidade de criar e fazer e, obviamente, do poder que detinha ao ponto de repartir com o governador João Agripino boa parte dos destinos da Paraíba.

Anos depois, Tarcísio Burity, eleito governador por via direta em 1986, e eu, chefe de gabinete do superintendente da Sudene, rememoramos aquele episódio. Na ocasião, ele me falou de outro fato: um fantástico projeto de navegabilidade do Rio Paraíba. Aí então fui forçado a devolver à Serra da Borborema, meu criativo e impetuoso secretário. E ele não voltou de navio, me disse Tarcísio, com aquele seu jeito irônico…
 

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

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Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

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