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Edivan Rodrigues

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A renúncia de Jânio e o fuzil

26/08/2011 às 19h20

No dia de 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros ligou o ventilador e zarpou para a Base Aérea de Cumbica, deixando dito que “forças ocultas” o teriam impelido a renunciar. A perplexidade inicial foi pouco a pouco cedendo lugar à mobilização em defesa da legalidade que significava dar posse ao vice-presidente João Goulart. Ora, Jango estava em visita à China, então considerado país maldito, instigador da luta armada na ótica da Guerra Fria. Impedir a posse de Jango seria o golpe de Estado sonhado por Jânio.

A resistência ao golpe partiu de Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul. Articulado com o comando do Terceiro Exército, Brizola usou o rádio para barrar o golpe. Emissora gaucha passou a transmitir do Palácio. Outras emissoras aderiram, formando-se uma cadeia de rádio, neutralizando a censura imposta pelos generais em conluio com os golpistas. Aliás, os mesmos que, sete anos antes, induziram Getúlio Vargas ao suicídio. A mensagem de Brizola era fácil de entender. Vago o cargo de presidente, restava cumprir a Constituição de 1946: dar posse ao vice-presidente. Daí o nome de “cadeia da legalidade”. Dito assim parece simples. Não foi. Ao contrário, foi complicado. As forças contrárias eram poderosas no meio político, na imprensa, entre os militares e contavam com a simpatia dos Estados Unidos, então no auge de sua hegemonia político-ideológica.

A “cadeia da legalidade” mostrou-se eficaz como antídoto ao golpe. Isso é avaliação histórica. No calor dos acontecimentos, impunha-se levar informação ao povo, junto com a palavra de ordem de dar posse a Jango. De que maneira? Com a mídia sob censura, restava usar meios alternativos: o panfleto, amplificadoras, manter as forças progressistas mobilizadas. No Ceará, o empresário Moisés Pimentel, deputado federal, colocou no ar um transmissor de onda curta de sua emissora de rádio em cadeia com Brizola. Clandestinamente. Era um Deus nos acuda. Mudava de local a todo instante para fugir do flagrante. O governador Parsifal Barroso, do PTB de Jango, católico praticante, diante de comissão de estudantes, operários e camponeses, levantou as mãos para o alto e declarou: “Neste momento grave, entrego os destinos do Brasil ao coração de Maria”! E mais não fez.

Os estudantes assumiram a vanguarda da luta, fazendo do Clube do Estudante Universitário (CEU), da Universidade Federal do Ceará, o centro da mobilização, as entidades representativas em assembléia permanente. Situado num corredor de transporte coletivo, instalou-se um serviço de som voltado para a rua. Aquilo era apenas um suspiro a produzir efeito limitado, mas teve o sentido de segurar a estudantada no CEU. Até quando? Cercado pelas tropas militares, a um grito de “vamos às ruas”, cerca de três mil estudantes saíram em passeata rumo ao centro da cidade, sob os aplausos da população, numa prova de patriotismo para muitos, incluindo o autor desta crônica. E o fuzil? Depois eu conto. Agora só dá para dizer que estava com o soldado Sobreira.
 


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

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