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Edivan Rodrigues

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A todas e a todos

09/02/2009 às 14h22

A velha saudação na abertura dos discursos, “senhoras e senhores” foi substituída pela inovadora “a todas e a todos”. Esse modismo não surgiu assim de supetão, infiltrou-se aos poucos até virar rotina nas falas de oradores, conferencistas. E até já começou a tomar conta da linguagem coloquial em mensagens via internet. Homenagem às mulheres? E se eu disser, saúdo a todas as pessoas, não estarei abarcando o universo dos presentes? Essa mudança, Cartaxo, é resultante do avanço do poder feminino, fruto de conquistas históricas alcançadas, a duras penas, ao longo dos anos, na luta por mais espaço na sociedade pela igualdade entre os sexos, me disse uma prezada amiga defensora intransigente dos oprimidos.

Não questionei, talvez pela natural acomodação da idade, mas ruminei com meus botões: “Senhoras e senhores” “monsieur, madame”, “women and gentlemen” já não invocam o feminino? A boa educação assim recomenda, embora seja enorme hipocrisia que remonta à era em que a mulher figurava como simples objeto de prazer, adorno doméstico e prendas do lar.

Quem inventou a nova saudação? Ela não está em nenhum manual de oratória, então alguém teve a idéia de usá-la. Cansado ouvir dos novos prefeitos, novos vereadores, líderes comunitários, enfim um monte de gente falar “Quero saudar a todas e a todos”, e sem tesão para investigar sua origem, recorri a amigas e amigos… Uma colega me disse, olha, Cartaxo, isso parecia modismo passageiro. Virou rotina no mundo político, do PSOL ao DEM. Quem sabe, é coisa do Zé Dirceu.

Do Zé Dirceu, você ficou louca?
Ora, esse negócio de “a todas e a todos” nasceu com ele, lá atrás, antes da época em que tudo no Brasil era obra do Dirceu. Você se lembra de nosso tempo de UNE, ele, insinuante, dando em cima das meninas…

Então, a amiga riu e completou após ligeira pausa: e vice-versa… Gargalhou. E emudeceu. Alô, alô, alô… A partir daí, não ouvi mais que um leve suspiro que parecia vir de longe, de muito longe, dos tempos gloriosos da UNE. Não acreditando nessa fantasia nostálgica, consultei um amigo careca e barrigudo. Espantou-se: Coisa de Zé Dirceu? Sei lá, pouco me importa, mas, seguramente, trata-se da mais revolucionária invenção do PT, talvez a única, alfinetou, ele que na época da “guerra fria” fizera sucesso com garotas da “cortina de ferro”, onde estudara. Pura inveja, pensei com meus botões, desprezando-lhe a opinião.

Dia seguinte, de voltar à rotina de trabalho, passei a revisar um Relatório acerca do papel dos novos atores sociais em áreas de economia deprimida, elaborado em Brasília. Que é isso, meu Deus! Li e reli. Li de novo: “os atores e as atrizes sociais atuantes na região”… Em vermelho, anotei: defasado, “atrizes” deve preceder a “atores”… Desliguei o computador e, já na rede, refugiei-me em Kafka..

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

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