As FARC na agenda eleitoral
A América Latina entrou na agenda da campanha presidencial pela porta dos fundos, quando Índio da Costa, vice de José Serra, acusou o PT de ligações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e, em conseqüência, com o narcotráfico. José Serra, que endossou a fala de seu vice, já havia criticado o descaso do governo Lula no combate à entrada de droga pela fronteira da Bolívia e tratado com desprezo o presidente Evo Morales.
Nada disso é aleatório. Nos dois casos, há clara tentativa de indispor parcelas do eleitorado contra a candidata Dilma Rousset, ex-guerrilheira urbana na fase mais tenebrosa da ditadura militar. Portanto, a abordagem do tema não é gratuita. Talvez obedeça a pesquisas qualitativas, ajustadas às estratégias de campanha. Por trás dessa encenação existem divergências ideológicas nas bases dos dois principais postulantes ao Planalto. E Serra quer atrair parcelas do eleitorado conservador, incrustadas na heterogênea frente partidária de apoio a Dilma, sobretudo, entre simpatizantes do PMDB, PP, PTB e PR, adeptas, no passado, da doutrina de segurança nacional.
Serra tenta a modernidade, com certa dose de razão. Há, hoje, muito anacronismo na cena política latino-americana. As FARC, por exemplo, nasceram na época de forte repressão, comandada por regimes ditatoriais, quando a luta armada era caminho defendido por muitos partidos e grupos ideológicos não alinhados aos Estados Unidos, em plena Guerra Fria. Hoje não há lugar para isso na realidade geopolítica do século XXI. O atual ciclo histórico firma-se em valores inerentes à democracia, em busca do crescente aumento das conquistas sócio-ambientais, dos direitos coletivos, do exercício pleno da cidadania.
Mais anacrônico do que insistir na guerrilha como meio de chegar ao poder é manter o bloqueio econômico a Cuba, como se o mundo tivesse parado antes da queda do muro de Berlim. O regime cubano segue fechado, em grande medida, pela enviesada postura dos Estados Unidos em continuar tratando um pequeno país de 11 milhões de habitantes como se representasse um perigo para sua segurança. Até porque a alegação de “exportador de revolução”, atribuída a Cuba no passado, virou peça de museu.
A quebra da hegemonia do Império reflete mudanças profundas na geopolítica mundial. Nesse desenho novo, a América do Sul emerge como região de enorme futuro graças a sua matriz energética formada pelo petróleo, gás natural, fontes de energia limpa, além de formidáveis reservas aqüíferas, florestais e significativa presença no mercado mundial. Por aí o tema das relações do Brasil com a America Latina deveria ter entrado na agenda dos candidatos a presidente da República, reforçando os órgãos regionais que unem as nações latino-americanas. Nunca pelo desvio anacrônico das FARC.
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