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Mariana Moreira

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Burrice de colonizado

12/02/2015 às 20h36

A manifestação de muitos comportamentos que povoam o nosso cotidiano revela uma herança instituída em um passado colonial que insiste em se apresentar atual e traz toda uma carga de subserviência e debilidade legitimadora e justificadora de crenças e convicções que elegem e reconhecem como positivas e legais apenas as coisas e atitudes provenientes do colonizador. Nesse cenário, normalmente nos apequenamos diante do estrangeiro que chega como o mais civilizado, como aquele que detém o conhecimento legítimo e, por essa prerrogativa, pode segregar e, até mesmo, eliminar práticas e vivências nativas, geralmente classificadas como atrasadas, rudimentares, bárbaras.

Exemplos desses procederes se multiplicam com uma insistência veloz e podem ser manifestos em muitos receituários que, diariamente, a mídia nos prescreve como modelos a serem copiados. Desse modo, o sistema educacional do estrangeiro civilizado é o mais adequado e eficaz para todas as realidades não tendo qualquer relevância que ele anule as individualidades e as especificidades das expressões culturais que tornam os povos específicos e lhes dá altivez e soberania. 

Na mesma trilha são recorrentes as vozes que se erguem na defesa da adoção da pena de morte como solução para a criminalidade com o débil argumento de que nações definidas como avançadas e civilizadas são referências nesta prática, antecipando a morte como alternativa para a redução da violência. Argumento que negligencia, propositalmente, os episódios que, com uma desconcertante assiduidade, trazem como principal ingrediente a violência manifesta em chacinas dimensionadas nas raias da irracionalidade.

Essas divagações sobre colonizados e procedimentos acanhados que buscam inspiração na propalada supremacia do colonizador rebatem na cena de parte de uma importante avenida da cidade que tem uma via interditada no momento de maior movimentação e fluxo de veículos. A finalidade da interdição reside na necessidade de se renovar a sinalização vertical, sobretudo, as faixas de pedestres. No entanto, os atropelos e inconvenientes que a situação produz poderiam ser sensivelmente amenizados se essa atividade fosse realizada em horários de menor tráfego de veículos, como as madrugadas. 

Uma sugestão que, pela reação de um graduado servidor da companhia municipal de trânsito que se encontrava no local fiscalizando as atividades, jamais será acatada nas atuais circunstâncias. Ao ser abordado porque não realizariam tais atividades em horários mais convenientes, peremptoriamente justifica: porque as pessoas insistem nisso se já estive em cidades como São Paulo, Curitiba, Cascavel e essas atividades são realizadas em horários semelhantes, com interdição de ruas e confusão no trânsito. 

Segui pensando como nossa cultura de colonizados em muitos momentos se manifestam em comportamentos caracterizados como a mais expressiva personificação da burrice. Sermos inteligentes, autônomos e altivos em nossas práticas é uma possibilidade palpável para a instituição de uma forma mais soberana de vida. Ou seja, sejamos titulares de nossas inteligências e, assim, poderemos ser também senhores de nossa história.   

Mariana Moreira

Mariana Moreira

Professora Universitária e Jornalista

Contato: [email protected]

Mariana Moreira

Mariana Moreira

Professora Universitária e Jornalista

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