Cadê o Museu da Diocese?
Semana passada, cobrei da Universidade Federal de Campina Grande agilidade na disponibilização do acervo cultural deixado pelo saudoso historiador Deusdedit Leitão. Um amigo, muito ligado às coisas da terra, recordou o destino criminoso dado ao antigo Museu da Diocese. E lembrou a variedade de objetos relacionados a figuras e coisas do passado, exposta no Museu: vestuário de Mãe Aninha, do padre Rolim, espadas e punhais utilizados na Guerra do Paraguai, trazidos por cajazeirenses, selas e arreios usados em animais pelo Comandante Vital Rolim, louças finas, castiçais e muitos outros objetos usados nas igrejas e residências de nossos ancestrais.
Muitas dessas peças foram recolhidas de descendentes que as cederam para o fim nobre de comporem o Museu, onde ficariam imunes à ação devastadora do tempo e conservariam a memória da cidade, servindo de gancho para fins didáticos, tantos eram os estudantes que procuravam o Museu com a finalidade de obter informações para realizar trabalhos escolares, recomendados pelos professores.
Que fim levou o Museu? Sumiu. Escafedeu-se despedaçado em suas andanças. Isso mesmo, ele virou ambulante. Muito bem instalado no prédio da antiga Ação Católica, onde funcionou a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, na Rua Padre Rolim, dali teria saído para a Biblioteca Castro Pinto, quando esteve sob os cuidados, quase maternal, de Biva Maia e de outras abnegadas conterrâneas. Mais tarde, por motivos que não pude identificar, as peças do Museu foram transferidas para a antiga Estação Ferroviária e, depois, encaixotadas, estiveram no coro da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, de onde teriam sido transportadas, já com muitos desfalques, para a Escola Técnica Federal, por interferência do então deputado Edme Tavares, ao perceber o estrago no importante patrimônio cultural do povo de Cajazeiras. Na antiga ETF, depois CEFET e agora IFPB, o tratamento dado ao “museu” beira ao descaso.
Posso estar enganado na avaliação e na trajetória percorrida pelas peças do Museu. A essência, porém, é que nessas transferências de endereço os objetos foram desaparecendo, em desvio de finalidade. E de mãos. Mãos de particulares? Não se sabe de quem. Outra hipótese, peças raras tiveram o lixo como destino. O que dá quase no mesmo. Enfim, perderam a função precípua de cultivar o passado. Praticou-se um crime contra a história. Contra nós mesmos. Uma tristeza.
Um povo sem memória não merece respeito. Por isso, volto ao acervo de Deusdedit Leitão, recordando também a destruição, nos meados do século 20, da casa onde morou padre Inácio Rolim, para em seu lugar construir o Cajazeiras Tênis Clube. Na época inventaram o falso confronto entre o “progresso” e o “atraso”! Perguntem ao ex-prefeito Francisco Matias Rolim que apoiou (e mais tarde se arrependeu) o advogado Hildebrando Assis, líder dos “progressistas” pela derrubada da histórica moradia construída pelos fundadores de Cajazeiras. Espera-se agora que o acervo cultural de Deusdedit, entregue à UFCG, não tenha o destino do Museu da Diocese. Muito menos o fim inglório dado à casa do padre Rolim.
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