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Radomécio Leite

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Cajazeiras de braços cruzados 4

12/08/2011 às 15h44

Eu já tinha conhecimento, através de conversas com produtores rurais, que o município de Cajazeiras continuava a cada ano com sua produção agrícola em queda e que a sua agricultura estava destroçada.

Em recente inspeção, realizada por técnicos da Emater, para coletar dados sobre produção agrícola de 2011, com o objetivo de fornecer subsídios para o Garantia Safra e das 2.800 propriedades cadastradas para receber o seguro, foram selecionadas 42 e destas 30 não tinham plantado a área mínima de duas tarefas de terra, isto significa que apenas 10% cumpriram o necessário para ter direito ao benefício.

Nesta proporção, e se os mesmos índices prevalecerem, das 2.800 propriedades, 2.100 deixaram de plantar as mínimas duas tarefas de terra para produzir o feijão, o milho e o arroz, alimentos básicos na mesa da família dos pequenos agricultores de nosso município.

Quais as possíveis causas que vêm causando este perene declínio de nossa agricultura, setor, que foi ao longo de nossa história o mais importante?

Além de causas historicamente conhecidas e que foram as principais motivadoras da expulsão das famílias do campo para a cidade, dentre elas as relações trabalhistas, mais recentemente, os pequenos proprietários têm, com muita ênfase, dito que o campo, nos dias atuais tem alguns algozes.

E citam em primeiro lugar o IBAMA, que no entendimento de alguns, os seus agentes são os “cangaceiros dos tempos modernos”, que montados em possantes veículos e de poderosas armas nas mãos entram nas propriedades para proibir e multar qualquer cidadão que tenha preparado suas duas tarefas de terra para plantar.

Um destes agricultores disse que tem mais medo do IBAMA do que do satanás e chegou a fechar as portas de sua casa e se escondeu no mato até a saída dos agentes, tal o clima de “terror” que existe entre os agricultores.
Até o mais rude trabalhador rural tem conhecimento da necessidade, de em seu pedaço de terra, preservar uma área de mata e com muita sabedoria, porque se ele destruir tudo de onde ele vai tirar um pau de lenha para cozinhar o feijão? De onde ele vai tirar a vara para construir o chiqueiro das galinhas e dos bodes? De onde ele vai tirar a estaca e o mourão para cercar sua propriedade?

Por que o IBAMA, ao invés de multar, não orienta o trabalhador para tirar uma licença para poder derrubar a jurema (é só o que existe nestes sertões) e plantar a sua roça?

O município de Cajazeiras já foi um dos grandes produtores de banana e goiaba e abastecia as fábricas de doce da cidade. Nos dias atuais é muita baixa e é apontada como causa, pelos produtores, principalmente os que têm terras nas margens do Rio Piranhas, o preço da energia rural, que hoje está custando R$0,24 (vinte e quatro centavos) o KW.

Qual a solução para o problema? A implantação da Tarifa Verde, porque o preço do KW cai para apenas R$0,06 (seis centavos), mas para se ter uma idéia, das 3.500 propriedades eletrificadas, situadas na área da CERVARP, apenas 400 possui este equipamento, a maioria doada no governo de Cássio da Cunha Lima, que para o pequeno produtor rural custa muito caro e ele não tem condições de comprar, além das dificuldades e entraves que a ENERGISA impõe aos que desejam implantar o sistema.

Uma terceira causa deste destroço seria a falta de assistência técnica por parte dos órgãos governamentais do setor, tanto do estado quanto do município. Infelizmente a agricultura nunca foi um dos itens prioritários dos governos e o nosso homem do campo vive desprezado, além de acossado pelos fiscais, explorados pelo preço da energia, pelos atravessadores de mercado, sem estradas vicinais, sem sementes selecionadas e sem assistência técnica a tempo e a hora.

É hora de repensar e rever o destino de nossa agricultura. Aproveitar a sabedoria popular do homem sofrido do campo e fazer dele participe de um processo inclusão na produção de nossa riqueza.

Enquanto isto, lamentavelmente, as águas do Rio Piranhas, passam no terreiro de nossa casa, vão irrigar as várzeas de Sousa e os majestosos projetos agrícolas no vizinho estado do Rio Grande Norte.

Cajazeiras precisa descruzar os braços e acordar para esta realidade.


Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Sistema Diário de Comunicação.

Radomécio Leite

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Contato: [email protected]

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