Crime em Pitimbu
O estrago causado pela espingarda 12 no coração de Manoel Matos é muito mais sério do que aparenta o crime praticado no município de Pitimbu. Acaú entra como o cenário, tal qual há 47 anos a estrada de acesso à BR 230, em Café do Vento, serviu de palco para emboscar o presidente da Liga Camponesa de Sapé, João Pedro Teixeira, em tempo de rebeldia e ilusões libertárias. No caso de Pedro Teixeira não se sabia, de início, quem executara a encomenda, mas se conhecia o mandante: o latifúndio. Contra o latifúndio ele lutava sem medo ou subserviência. Por isso, o latifúndio o queria morto. Assim, a intuição do povo se alastrou, consagrando o dito popular “a voz do povo é a voz de Deus”. Naquela época havia nitidez ideológica. Conservadores versus progressistas, entreguistas versus nacionalistas, reacionários versus comunistas.
O assassinato de Pedro Teixeira exasperou a divisão ideológica, com o deputado Joacil de Brito Pereira a comandar a resistência ao cerco ao acuado latifúndio, que condenara Pedro Teixeira à morte. De início, de modo vago, sem rosto. Logo em seguida, com nome e fisionomia de gente apontada por quem executara a sentença de morte. Muito embora impune. Aliás, salvo pelas artimanhas engendradas no vaivém de políticos do Palácio da Redenção à Assembléia Legislativa, na bem sucedido manobra de proteger o suplente de deputado com imunidade parlamentar. Isso se deu em abril de 1962. Após o golpe de 1964, tudo se tornou mais fácil para o latifúndio, o poder na Paraíba quase a confundir-se com a Casa-Grande.
Passados 47 anos, a divisão ideológica virou um traço na geopolítica mundial, porém, a voz do povo é a mesma: quem trucidou Manoel Mattos foram grupos de extermínios. Falta identificar a qual deles a voz de Deus se refere. Esse papel é das autoridades. Empreitada difícil, tal o conluio entre assassinos, políticos, ladrões, policiais mantidos no anonimato. Impunes, quase sempre. Tal qual o latifúndio em outros tempos.
Pedro Teixeira fez-se símbolo, avivado no filme “Cabra marcado para morrer”. E Manoel? Manoel Bezerra Mattos Neto acreditava no que fazia, sem destemor. Por isso, expunha-se ao denunciar, sem subterfúgio, com nomes e fatos a face cruel do crime organizado. E o fazia da tribuna da câmara de Itambé, quando vereador do PT, pela mídia, perante comissões parlamentares e instituições de defesa dos direitos humanos. Agia sem medo, dando sentido à sua vida. Por tudo isso, não faz sentido a tarefa investigativa terminar, burocraticamente, no encaminhamento à Justiça de nomes de mandantes e executores. A obrigação do poder público vai mais além. Deve ir ao núcleo dos grupos de extermínio, para redimir o estrago que os tiros da 12 fizeram no coração do advogado Manoel Mattos.
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