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Edivan Rodrigues

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Crime em Pitimbu

12/02/2009 às 10h48

O estrago causado pela espingarda 12 no coração de Manoel Matos é muito mais sério do que aparenta o crime praticado no município de Pitimbu. Acaú entra como o cenário, tal qual há 47 anos a estrada de acesso à BR 230, em Café do Vento, serviu de palco para emboscar o presidente da Liga Camponesa de Sapé, João Pedro Teixeira, em tempo de rebeldia e ilusões libertárias. No caso de Pedro Teixeira não se sabia, de início, quem executara a encomenda, mas se conhecia o mandante: o latifúndio. Contra o latifúndio ele lutava sem medo ou subserviência. Por isso, o latifúndio o queria morto. Assim, a intuição do povo se alastrou, consagrando o dito popular “a voz do povo é a voz de Deus”. Naquela época havia nitidez ideológica. Conservadores versus progressistas, entreguistas versus nacionalistas, reacionários versus comunistas.

O assassinato de Pedro Teixeira exasperou a divisão ideológica, com o deputado Joacil de Brito Pereira a comandar a resistência ao cerco ao acuado latifúndio, que condenara Pedro Teixeira à morte. De início, de modo vago, sem rosto. Logo em seguida, com nome e fisionomia de gente apontada por quem executara a sentença de morte. Muito embora impune. Aliás, salvo pelas artimanhas engendradas no vaivém de políticos do Palácio da Redenção à Assembléia Legislativa, na bem sucedido manobra de proteger o suplente de deputado com imunidade parlamentar. Isso se deu em abril de 1962. Após o golpe de 1964, tudo se tornou mais fácil para o latifúndio, o poder na Paraíba quase a confundir-se com a Casa-Grande.

Passados 47 anos, a divisão ideológica virou um traço na geopolítica mundial, porém, a voz do povo é a mesma: quem trucidou Manoel Mattos foram grupos de extermínios. Falta identificar a qual deles a voz de Deus se refere. Esse papel é das autoridades. Empreitada difícil, tal o conluio entre assassinos, políticos, ladrões, policiais mantidos no anonimato. Impunes, quase sempre. Tal qual o latifúndio em outros tempos.

Pedro Teixeira fez-se símbolo, avivado no filme “Cabra marcado para morrer”. E Manoel? Manoel Bezerra Mattos Neto acreditava no que fazia, sem destemor. Por isso, expunha-se ao denunciar, sem subterfúgio, com nomes e fatos a face cruel do crime organizado. E o fazia da tribuna da câmara de Itambé, quando vereador do PT, pela mídia, perante comissões parlamentares e instituições de defesa dos direitos humanos. Agia sem medo, dando sentido à sua vida. Por tudo isso, não faz sentido a tarefa investigativa terminar, burocraticamente, no encaminhamento à Justiça de nomes de mandantes e executores. A obrigação do poder público vai mais além. Deve ir ao núcleo dos grupos de extermínio, para redimir o estrago que os tiros da 12 fizeram no coração do advogado Manoel Mattos.

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

Contato: [email protected]

Edivan Rodrigues

Edivan Rodrigues

Juiz de Direito, Licenciado em Filosofia, Professor de Direito Eleitoral da FACISA, Secretário da Associação dos Magistrados da Paraíba – AMPB

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